2.Hoje, falar-se em “Dixie Land” é falar-se da realidade política maldita ou diabólica: coincide com os estados sulistas, onde ainda as ideias de pendor racialmente discriminatório, conservadoras e anti-liberais (no sentido americano do termo). A verdade é que, dois séculos volvidos, ainda hoje os efeitos da guerra da secessão e fazem sentir na política e na sociedade norte-americana: por exemplo, Ted Cruz afirma frequentemente que representa os valores consrrvadores genuínos contra os valores de Nova Iorque ou da Califórnia. Ou seja, é a “Dixie Land”, a “Rose from Texas” contra os “depravados” yankees.
2.1.Não obstante as recentes querelas, o repertório musical que acompanhou ambos os lados da guerra da secessão é vasto e bastante rico. Quem não se lembra de trautear, na escola primária, o “Oh Susan, don’t you cry for me” ou, mais tarde, o “ Yankee doodle”? Pois bem, no lado da “Dixie Land”, dos generais que Marcelo Rebelo de Sousa resolveu personificar em tempos, na foto encontrada no seu arquivo pessoal, ficou célebre a canção “ I’m a Good old Rebel”. A canção inicia-se com os versos “ I’m a Good Old Rebel/ Now is just what I’m”. E é melhor não prosseguirmos.
3.Ora, atendendo aos primeiros versos da canção unionista, Marcelo Rebelo de Sousa pode facilmente identificar-se com a causa – Marcelo é um bom velho rebelde e isso é apenas o que Marcelo é…Ontem, foi a vez de Mario Draghi e António Costa provarem a rebeldia marcelista.
3.1. António Costa não gostou nem dos elogios de Marcelo Rebelo de Sousa às propostas do PSD para o Plano Nacional de Reformas, nem do convite que Marcelo formulou ao Governador do BCE. Porquê? Porque objectivamente trata-se de um sinal político do Presidente da República de que não irá tolerar qualquer qualquer desafio às instituições europeias ou incumprimento das regras definidas nos tratados europeus por parte da geringonça. E Mario Draghi não se conteve: estabeleceu os limites de actuação de António Costa e “puxou as orelhas” ao Primeiro-Ministro.
4.O líder do PS, por sua vez, autorizara Ascenso Simões a escrever um artigo muito crítico para Marcelo Rebelo de Sousa: alega o deputado mais desastrado do PS que o Presidente não dispõe de poderes constitucionais para convidar personalidades externas ao Conselho de Estado, possibilitando-lhes a participação neste órgão consultivo; e que o Presidente, ao fazê-lo, está a imiscuir-se nas matérias que integram a competência exclusiva do Governo.
4.1. Duas críticas disparatadas, à imagem e semelhança do seu autor: primeiro, o Presidente da República tem competência para convidar quem quiser e trazer as informações que julgar pertinentes para o Conselho de Estado; segundo, aplicando a interpretação de Ascenso Simões, o Conselho de Estado só poderia discutir flores e o novo cão da Presidência, o Asa. Porque o resto já seria competência do Governo…
5.Desta feita, há que reconhecer: Marcelo Rebelo de Sousa conseguiu um feito político notável ao convidar Draghi para a sessão inaugural do seu Conselho de Estado. Internamente, confere segurança aos portugueses que já começam a ficar incrédulos e desconfiados face à geringonça da extrema-esquerda com o extremo-PS; externamente, porque reforça o prestígio de Portugal, a nível europeu e internacional. Não foi o Presidente português que foi ao “beija-mão” à sede do BCE – é o Governador do BCE que vem à capital de Portugal, ao Palácio do mais elevado magistrado da Nação.
6.Nos tempos em que vivemos, o elemento simbólico da governação não é um pormenor irrelevante ou destituído de significado político. Bem pelo contrário: o simbólico é cada vez mais importante na determinação das relações de poder. “Better live in Dixie” – diriam os unionistas. “Better live in Portugal…and bring the Draghi” – diz o General Marcelo, The Sousa. O nosso “Good Old Rebel”.