Robert Redford, Cate Blanchett e Helen Mirren: a troika que deve chamar este fim de semana

1.Robert Redford está de regresso ao grande ecrã – e com uma interpretação soberba de Dan Rather, jornalista da CBS, que se afastou após a divulgação da notícia de que George W.Bush teria sido beneficiado no ingresso para a Guarda Nacional. Bush teria chegado à Guarda Nacional sem nunca ter prestado provas e com uma…

2.Robert Redford é acompanhado por outra actriz de referência, que impressiona pela sua polivalência e pela alma que oferece às suas personagens – Cate Blanchett, que interpreta a produtora do “60 Minutos”, Mary Mapes.  Advertência: no filme, não conseguimos identificar Cate Blanchett – para nós quem estava no ecrã era a própria Mary Mapes. Este é o melhor elogio que podemos aqui deixar ao desempenho de Blanchett. Para quem conhecer Mary Mapes – ou quem a vir entretanto – vai concluir que qualquer semelhança entre a interpretação de Cate Blanchett e a verdadeira Mary Mapes não é coincidência. É fruto do génio da actriz australiana, que já havia conquistado o reconhecimento da comunidade cinematográfica este ano com o seu desempenho em “Carol”.

3.Pois bem, Redford e Blanchett são os protagonistas cimeiros do filme “Verdade”, que já gerou muito polémica nos meios políticos e jornalísticos norte-americanos. A narrativa do filme – e a sua montagem – não está ao nível das interpretações do seu elenco. James Vanderbilt – que se estreia na realização, depois de brilhar, como guionista, no filme “Zodíaco” – dá-nos apenas uma versão dos acontecimentos: a versão de que os jornalistas foram alvo de uma perseguição política orquestrada pela Administração W. Bush. Não é, porém, uma versão consensual: muitos jornalistas e a própria CBS continuam a negar qualquer influência política, acusando Mary Maples e Dan Rather de negligência no tratamento das fontes e na forma como orientaram o trabalho jornalístico.

4.Para muitos, Mary foi vítima de uma campanha política inspirada por apoiantes de John Kerry (adversário de Bush em 2004) que visava a destruição da imagem pública de George W. Bush (republicano que lutava pela reeleição). A verdade é que este caso continua a ser objecto de intensas e longas discussões nos EUA, sendo que há dois factos geralmente assentes: 1) os contornos do caso são estranhos e insólitos; 2) George W. Bush nunca se revelou confortável com o seu passado militar – e a verdade é que praticamente ninguém contesta (nem democratas, nem republicanos; nem californianos, nem texanos) o ascendente que o pai Bush sempre teve relativamente a W. Bush.

4.1.Mesmo a revista “The Atlantic”, contestando os preconceitos e a parcialidade do filme de Vanderbilt, o admite subtilmente. E rende-se aos desempenhos de Robert Redford e Cate Blanchett (que já valem o preço do bilhete). Ao contrário da CBS, que até se recusou a transmitir o trailer do filme na sua emissão. A ver, portanto.

5.Ou caso, durante este fim de semana, se sentir com vontade de ser confrontado com um dilema moral complexo, tão real e tão actual porque o vivemos nestes tempos de medo generalizado – é ver o filme “Operação Eye in the Sky” com Hellen Mirren e o saudoso Alan Rickman. Um filme bem realizado que nos inflige uma reflexão (à qual tentamos fugir) entre a necessidade da guerra contra o terrorismo – e as vidas inocentes que dizimamos. Vidas distantes que já nem sequer chorámos. Afinal, a dignidade da pessoa humana também tem uma geografia definida…

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