A montanha pariu um rato

Muita gente esperava com enorme expectativa a revelação dos nomes dos portugueses constantes da lista dos Panama Papers. A TVI e o Expresso prometeram para este fim de semana estrondosas novidades. O país ia finalmente saber aqueles que, dentre nós, põem o seu dinheiro a salvo em offshores, provavelmente para fugir ao fisco ou mesmo…

Ontem à noite, após grande suspense, às 23h00, as revelações chegaram com pompa e circunstância. E o que ficámos a saber? Que um dos implicados é Manuel Vilarinho, antigo presidente do Benfica. Acontece que, desde a Operação Monte Branco, noticiada pelo SOL em meados de 2012, estávamos fartos de saber que Vilarinho é cliente de paraísos fiscais.

Outro nome que consta da lista é Ilídio Pinho, empresário do Norte, fundador da Colep. Em 1990 foi atingido por uma terrível tragédia com a morte de um filho, criando depois uma fundação com o seu nome. Ilídio Pinho nega, porém, ter dinheiro no Panamá, e diz que não tem «rigorosamente nada a ver com isso». É um caso para ver melhor.

O terceiro ‘implicado’ é Luís Portela, ex-patrão da poderosa farmacêutica Bial. Este não negou o envolvimento, mas parece que essa empresa ligada à offshore entretanto fechou.

É claro que não havia só estas revelações. Ficou a saber-se que o BES tinha um ‘saco azul’. Sucede que não é, infelizmente, nenhuma novidade: quantas vezes, ao longo dos últimos anos, não se falou do ‘saco azul’ do BES? E se o BES se resumisse a isso…

Em suma, a grande revelação das notícias sobre os Panamas Papers foi não haver nenhuma revelação. Se nos próximos dias não houver mais e melhores informações, a montanha terá parido um rato. Milhões de papeis vasculhados para nada.

Tal como o WikiLeaks, os Panama Papers arriscam-se a ser um flop. Confesso que não gosto destes processos assentes na devassa de documentos, apresentados com grande alarido mediático. O rebanho de jornalistas vai todo atrás, fazem-se grandes parangonas, mas no fim fica tudo em águas de bacalhau.

É um filme déjà vu.

jas@sol.pt