“Nunca me agradou o seu interesse em querer contentar todos. O presidente Marcelo sempre foi um personagem em busca do seu papel político”, afirmou o ex-primeiro-ministro numa entrevista que fica ainda marcada pela defesa da presidente do Brasil, Dilma Rousseff, e pelas duras críticas aos investigadores da Operação_Marquês.
Há golpe no Brasil Segundo Sócrates, o impeachment de Dilma é uma vingança política da direita brasileira. “Não basta fazer acusações, é preciso fazer julgamento; condenar alguém sem direito a defesa acontece no Brasil e em Portugal, condenar sem julgar; destituição sem delito e sem fundamento”, disse o ex-governante admitindo mesmo a hipótese de o Brasil estar a viver um golpe político.
“É um golpe político da direita, porque agora não mobilizam os militares; é impedir a candidatura de Lula à presidência de 2018. É utilizar a Justiça para condicionar eleições”.
A (in)justiça portuguesa José Sócrates diz estar a ser alvo de um processo único no mundo democrático e ocidental, por ter passado nove meses preso sem acusação. “Sem acusação e sem acesso ao sumário. Não há um caso similar em nenhum país europeu, em nenhuma democracia ocidental, de alguém que passe nove meses encarcerado sem acusação”, afirmou, questionando: “Detêm um ex-primeiro-ministro, imputam-lhe delitos ignominiosos, e um ano e meio depois não são capazes nem sequer de apresentar a acusação?!”
O antigo líder socialista diz ainda que hoje é comum lançar suspeitas de corrupção sobre um político para o descredibilizar. “Está na moda. A acusação de corrupção transformou-se no instrumento jurídico para a destruição política; antes, para eliminar um político acusavam-no de atentar contra a segurança do Estado. O golpe de força moderno é a falsa acusação de corrupção.”
Referindo que nunca se sentiu totalmente só, considera que o objetivo foi bem-sucedido em Portugal: “O objetivo era impedir minha candidatura à presidência do país e que o Partido Socialista não ganhasse as eleições. Conseguiram os dois”.
A entrevista termina com a sua posição sobre o projeto europeu, que diz parecer desmoronar à primeira crise económica. “Há um déficit democrático em todas as decisões econômicas europeias. A liderança política foi substituída por uma máquina burocrática que não responde a ninguém. É um problema sério da Europa”, conclui.