Mas o mistério durou pouco. A atriz, escritora e ativista de 78 anos explicou à plateia que estava numa das suas caminhadas pelas montanhas de Los Angeles quando viu “um rapaz muito giro, de tronco nu”. Logo de seguida, tropeçou e caiu. “Tirei desta situação três lições: por um lado, ainda estou em condições de fazer caminhadas; por outro, ainda olho para homens bonitos; e em terceiro lugar, agora, quando caio, o risco de me magoar seriamente aumenta”, explicou, perante a gargalhada da plateia.
Depois, numa breve e preparada intervenção, de papel na mão e óculos na ponta do nariz, falou da importância de saber encarar a idade e de não permitir que os “problemas nos definam”. Até porque “eu não sou as minhas dores, nem sou a minha anca falsa”. Para Jane Fonda, a genética representa apenas um terço e “o resto é uma escolha”. E é possível escolher que o que considera “o terceiro ato da vida” seja o mais feliz. Foi o que fez. Venceu os fantasmas de uma família dada à depressão e de uma vida escrutinada desde muito cedo e decidiu que queria ser feliz. Mesmo que com rugas.
Esta decisão permitiu-lhe, aos 78 anos, ser mais feliz que nunca e até passar a ironizar e brincar com o assunto idade. “Até é bom que a população mundial esteja a envelhecer porque os mais velhos são mais sábios.”
Brincadeiras à parte, a ex-rainha do fitness, que marcou uma geração com os seus vídeos, quase da mesma forma que marcou com as suas interpretações – que lhe valeram dois Óscares de Melhor Atriz, em 1972, por “Klute”, e em 1979, por “Coming Home” – está resolvida. Em todos os aspetos da sua vida.
Depois de participar em “Juventude”, de Paolo Sorrentino, de estar atualmente a gravar a série “Grace and Frankie” e a preparar-se para um filme com Robert Redford, a atriz, autora de sete livros e ex-diva do fitness, assume que a sua carreira “é mais importante agora do que era quando era jovem”. E uma das partes que foi ganhando importância na carreira de Jane Fonda – que sublinha sempre que é também mãe e avó – foi o seu lado de ativista sobretudo no campo dos direitos da mulher, como, por exemplo, na igualdade de acesso ao trabalho e remuneração, fator que reconhece que ainda não existe em Hollywood.
Uma luta que no passado não compreendia, ao ponto de, nos anos 70, ter escrito um artigo no qual confessava não compreender o movimento de libertação das mulheres. Mas mudou de opinião quando regressou aos EUA. “Durante muitos anos vivi em França e fui casada com um francês [o realizador Roger Vadim]. Regressei aos EUA para tentar acabar com a guerra no Vietname e nessa altura conheci muitas feministas. Havia algo nelas que me parecia diferente, elas prestavam atenção às outras mulheres e sempre que viam uma mulher não ser respeitada, defendiam-na. Percebi que nunca o tinha feito. E depois ouvi uma feminista dizer que não tínhamos de ser contra os homens para sermos feministas. Quando comecei a ver as feministas em ação, percebi que também eu era uma feminista. Só que depois estava em casamentos em que até podia ganhar o meu próprio dinheiro e não ser dependente de um homem, mas ainda assim não tinha voz porque pensava que, se falasse, o meu marido me deixaria e se não tivesse um homem não era ninguém”, confessou, acrescentando que foi assim que a sua geração foi criada. “Só quando, aos 62 anos, me tornei uma mulher solteira, porque decidi que não queria morrer sem entender totalmente quem era como mulher, me tornei uma feminista de corpo e alma.”