No dia 25 de abril de 2015, Lourenço e Pedro tinham acabado de chegar a Katmandu, capital do Nepal, depois de meses de viagem pela Ásia. Ainda nem tinham visto a cidade quando a terra tremeu como nunca havia tremido. Agarrados um ao outro e sob a ombreira de uma porta, os dois amigos prepararam-se para morrer. Mas sobreviveram. E, nos dias seguintes, enquanto aguardavam pelo avião que os levaria para fora do Nepal, meteram mãos à obra.
Apelaram aos portugueses para que ajudassem e, em apenas dois dias, conseguiram comprar e distribuir largas centenas de quilos de comida. Quando chegou o dia de partirem acharam que as suas próprias vidas podiam esperar. Havia vidas mais urgentes que as suas. Essa urgência pode ter esmorecido, ou antes, transformou-se num projeto a longo prazo e numa associação de ajuda humanitária, a Obrigado Portugal. Os dois jovens – que entretanto passaram a contar também com Maria da Paz na direção da organização – deixaram de ter como objetivo arranjar comida para os mais desfavorecidos, mas reconstruir toda uma aldeia nos Himalaias. E por isto continuam no Nepal, passado um ano.
Numa altura em que vivemos a falência de tantas instituições, em que políticos, advogados, juízes, até figuras de renome na área da cultura e do desporto vão aparecendo cada com mais frequência envolvidos nos mais variados escândalos – sendo o mais recente e alegadamente de maior escala os Panamá Papers – a ideia de que ainda há heróis tem necessariamente de nos devolver algum conforto, alguma crença no futuro.
Ninguém, no seu perfeito juízo, poderia censurar qualquer um destes jovens caso tivessem decidido regressar ao fim dos primeiros meses de ajuda considerada urgente. Mas quiseram ficar, quiseram ajudar a reconstruir um país. Quiseram mostrar, como os próprios dizem, que Portugal pode exportar, além de vinho e cortiça, generosidade.