2.Percebe-se: como são incompetentes politicamente, esforçaram-se por legitimar a sua ascensão aos mais altos cargos da nossa Nação através da proclamação dos seus talentos noutras áreas. Claro que acabamos sempre por descobrir que, afinal, esses talentos são manifestamente exagerados. Diz-se que a alma e a convicção são a energia que alimenta a Política. Se assim for, podemos concluir, sem exagero, que, em Portugal, a Política move-se a energia não renovável. Basta olhar para a maioria da composição parlamentar: há políticos com qualidades, mas nenhum político de qualidade, no sentido de marcante e entusiasmante. Que represente um ideal, uma aspiração, um projecto político.
3.Especificamente quanto ao espaço político da direita – nomeadamente à direita democrática do pós- 25 de Abril – , as personalidades que se destacaram ao longo das últimas quatro décadas podem ser incluídos num “grupo do táxi”. Não são uma multidão – são um grupinho. Não se interprete, porém, recorrendo ao frequentemente falível argumento “a contrario”, que os políticos oriundos do centro-direita não se revelaram capazes, por diversas ocasiões, de exercer as respectivas tarefas: fizeram-no responsavelmente, mas não exemplarmente. Eram políticos com alguns talentos, mas não excepcionais.
4.Como explicar que à direita, o único nome notável que é brandido, por vezes gratuitamente, seja o de Francisco Sá Carneiro? E só o é porque, infelizmente, foi assassinado e o Estado Português desrespeitou a sua memória (apostamos que, caso Sá Carneiro fosse vivo, seria duramente criticado, até pelo seu PSD…). Fácil: os políticos de direita sempre tiveram medo de se assumir como perfilhantes de ideias próprias da direita democrática. A primeira afirmação dos políticos de direita uma vez eleitos é invarialmente “eu sou a esquerda da direita”, “eu sou mais social do que o líder do PS”, “eu sou defensor do Estado gigante”. Em casos mais gritantes (e inexplicáveis), homens de grande envergadura intelectual renunciaram às suas convicções políticas – pelas suas conveniências ou amuos conjunturais. O caso paradigmático é o do Professor Diogo Freitas do Amaral.
5.Neste quadro desolador para a direita democrática portuguesa, sobressai-se o anterior líder do CDS/PP, Paulo Portas. Julgamos mesmo que Paulo Portas é o político mais marcante da democracia portuguesa – nenhuma outra personalidade provocou tamanho tsunami na nossa paisagem político-partidária. Há um período pré-Paulo Portas – e um período Pós-Paulo Portas. Antes de Paulo Portas, a política portuguesa era aborrecida, excessivamente institucionalista, herdeira do respeitinho salazarista, um “Estado Novíssimo” sem Salazar, mas com as práticas de colonização do Estado pelos partidos políticos. Falar em diminuição do peso do Estado, em liberdade de imprensa ou em pensamento político não-esquerdista – era um crime de lesa pátria.
6.Iniciando no jornalismo, no “O Independente”, a sua actividade precursora, Paulo Portas trouxe a irreverência, a liberdade, a agressividade na linguagem característica das democracias maduras e sem complexos, o pensamento estratégico e uma visão táctica, logo realista, da política portuguesa. Superiormente inteligente, com um cosmopolitismo, uma dimensão cultural e habilidades discursivas peculiares – sem paralelo em qualquer outro político lusitano -, Paulo Portas trouxe a direita da sua época medieval para a modernidade.
Trouxe a direita portuguesa, com talento e arte, da “idade das trevas” para a “época das luzes”. Falta à direita portuguesa chegar à idade contemporânea – e, visando alcançar tal meta, Paulo Portas faz falta. Ele voltará certamente à política – resta saber quando. A sua obra de “reconstrução da direita” ainda não acabou.
7.E o PSD só pode estar grato a Paulo Portas, sobretudo Pedro Passos Coelho. Se não fosse Paulo Portas, porventura, Passos Coelho não teria tido tanto espaço de manobra para criticar veementemente Cavaco Silva como fez enquanto líder da JSD. E não podemos olvidar que Passos Coelho – e todos nós – deve agradecer a Paulo Portas o episódio do irrevogável: após essa ameaça, Paulo Portas conseguiu convencer Passos Coelho a introduzir alterações na composição e orgânica do executivo, acrescentando-lhe consistência política e maior aptidão técnica.
O que resultou em eficiência política e governativa – que muito contribuiu, de resto, para a saída limpa de Portugal e a vitória eleitoral da coligação em Outubro último. Para além disso, Paulo Portas convenceu Passos Coelho a apoiar Marcelo Rebelo de Sousa, obrigando o ex-comentador da TVI a ir a jogo. Conclusão: Paulo Portas saiu como um político vencedor nato. Até Marcelo Rebelo de Sousa, em boa parte, lhe deve a sua eleição para Presidente da República.
8.Por todas as razões, Paulo Portas – o político mais brilhante da direita portuguesa- faz falta à política portuguesa. O que diria Paulo Portas das trapalhadas de António Costa, com a cumplicidade de Belém, na sequência das negociações com Isabel dos Santos? O que diria Paulo Portas da inactividade total do Governo Costa? O que diria Paulo Portas das contradições e hesitações de Mário Centeno na Comissão de Inquérito do BANIF? Enfim, a democracia portuguesa já sente falta de Portas – sem ele, a política voltou ao politicamente correcto.
9. Nada se diz, nada se faz – tudo se destrói. Tudo se enrola, tudo é normal…Como escrevera José António Saraiva, em crónica no Expresso publicado no seu livro “Dicionário Político à Portuguesa”, mesmo antes de Portas ascender à liderança do CDS, “Paulo Portas tem muito talento. Fala muito bem, com muita convicção – transmitindo a ideia de que não só está profundamente convencido do que diz como está pessoalmente empenhado em levar à prática aquilo que pensa”. Mais uma vez, José António Saraiva acertou em cheio no diagnóstico.
10. Apostamos que até os eleitores moderados de esquerda devem dizer: “ Volta Paulo Portas, estás perdoado”.