Oito militares cabo-verdianos e três civis (dois deles espanhóis) foram encontrados mortos ontem, a meio da manhã, no destacamento militar de Monte Tchota, na ilha de Santiago, a maior do arquipélago. Citando fonte oficial, vários jornais de Cabo Verde apontavam para um ataque com ligações ao tráfico de droga como uma possível explicação para os 11 mortos a tiro. Chegou a ser avançada a informação de que os aeroportos do país estariam encerrados.
As notícias foram-se sucedendo a um ritmo acelerado ao longo das horas. Antes de terem sido descobertos os corpos das 11 vítimas, mortas a tiro, foi encontrado um carro branco, nas imediações da estrada entre Cidadela e a Universidade Jean Piaget.Tinha a chave na ignição, estava sem ocupantes mas tinha material suspeito no interior: uma arma de uso militar. Noutra viatura, encontrada pouco depois, o cenário repetiu-se. Segundo o jornal “Voz da América”, foram ali encontradas oito armas AKM e mais de mil munições.
Ao final da tarde, outros militares continuavam desaparecidos. O jornal “A Semana” apontava para um militar cujo paradeiro seria desconhecido. Além dos militares – seis soldados, um cabo e um sargento –, foram mortos três civis, dois dos quais cidadãos espanhóis apontados como técnicos de manutenção dos equipamentos de Monte Tchota.
Durante a tarde, chegou a ser avançada a informação de que o espaço aéreo estava encerrado.Mas ao final da tarde, fonte oficial da Aeroportos e Segurança Aérea (ASA) Cabo Verde, citada pela “Rádio de Cabo Verde”, negava o encerramento. Os aeroportos do país estariam abertos e a funcionar “sem nenhum problema”.
Houve, sim, um funcionamento “condicionado” dos aeroportos, com reforço das revistas, para evitar que algum dos elementos ligados ao ataque pudesse abandonar o país de avião, o que levou a atrasos nos voos. A medida devia, de resto, ser alargada aos portos nacionais, estando todos os meios de transporte em “alerta máximo”. Ao “Expresso das Ilhas”, o capitão dos portos de sotavento, Manuel Claudino, referiu que “com este aumento do nível de segurança, vai passar a fazer-se um controlo mais apertado à entrada e saída de navios, pessoas, bens, mercadorias aos portos de sotavento”.
Ataque ligado a tráfico de droga A hipótese foi avançada por alguns meios de comunicação, mas sem confirmação oficial. O ataque ao destacamento militar teria por base negócios relacionados com o tráfico de droga.
Na sua página online, o jornal “A Semana” escrevia ontem que “todas as forças de segurança nacional estão em alerta máximo pois este poderá ser mais uma resposta dos narcotraficantes ao governo no combate ao tráfico de drogas”, e lembrava que “o mais caso recente aconteceu com a apreensão dos 280 quilos de cocaína no veleiro Príncipe III”.
Nas imediações do destacamento militar de Monte Tchota, onde ocorreu o ataque, ficam importantes torres de comunicação do país. Esse dado foi, segundo fontes “bem posicionadas” do jornal “A Semana”, relevante para o ataque. “Monte Tchota é uma zona nevrálgica. É lá que se concentram as principais torres de comunicação do país. Um ataque nesta zona pode provocar um apagão nas comunicações, que poderia ser aproveitado para os bandidos colocarem-se em fuga. Basta ver a brutalidade do ataque”, sublinhava ontem a fonte do jornal.
Gabinete de crise reunido Com o chefe de Estado Maior ausente do país – por estar a participar numa reunião de Chefes de Estado-Maior General das Forças Armadas da Comunidade de Países de Língua Portuguesa –, o governo reuniu o gabinete de crise para preparar uma resposta aos ataques da manhã.
O ministro da Administração Interna, Paulo Rocha, deveria dar explicações ao país cerca das 20 horas (hora de Portugal). Mas até ao fecho desta edição não foi possível obter uma posição oficial do governo sobre o ataque.