Há muitos anos que tenho uma grande amiga que cresceu no sul do país, ali na fronteira com Espanha. Sempre a ouvi falar fluentemente espanhol e até a demonstrar algum apreço por práticas mais associadas ao país de nuestros hermanos. Sempre que recorda a sua infância, fala da televisão espanhola e das passagens da fronteira para ir às compras a Espanha. Os famosos caramelos… Apesar desta proximidade, sempre se sentiu portuguesa. Sem qualquer dúvida ou reserva.
O caso de Olivença, que neste B.I. retratamos, é, no entanto, bem distinto. Dita a história que a demarcação desta cidade fosse sempre alvo de algum litígio entre Portugal e Espanha e, por isso, as suas gentes tenham sempre vivido entre os dois países. É certo que atualmente se assume Olivença como parte de Espanha, mas aquilo que os livros e os documentos oficiais ditam não define o sentimento dos habitantes. Por ali, mais do que espanhóis ou portugueses, as gentes identificam-se como oliventinos. Ou seja, de uma terra que não é de ninguém senão dos próprios. Um número crescente quer ter documentos de identificação dos dois países e falar as duas línguas. É essa a sua identidade.
E numa altura em que os temas ligados às questões de identidade são cada vez mais discutidos, em Olivença parecem querer cada vez menos discussões. Os oliventinos querem, isso sim, que sejam os próprios a decidir o que se sentem e como se sentem, e sobretudo que isso não lhes seja imposto. Até porque impor a alguém que seja aquilo que não sente ser, nunca poderá ser uma boa ideia. Nem sequer uma ideia sentida com autenticidade.