Elena Perminova. Afinal ainda há contos de fadas

      

Cresceu na gelada Sibéria, sem grandes luxos, mas também sem passar dificuldades. A primeira vez que comeu pastilhas elásticas foi o pai que as trouxe de uma viagem. Resolveu partilhar as guloseimas com os amigos e automaticamente tornou-se na miúda mais popular da escola. Não é certo que tenha aprendido logo aí o que teria de fazer para vingar fora da Rússia, mas o que é certo, isso sim, é que Elena Perminova aprendeu a lição. E é hoje uma das It Girls do momento, com mais de um milhão de seguidores no Instagram que acompanham (e invejam) o seu estilo, presente regular em todos os grandes desfiles de moda do mundo e disputada pelos principais designers que concorrem para a vestirem.

Em criança, ainda em Bedsk, localidade da Sibéria onde nasceu em 1986, sempre que lhe perguntavam o que queria ser, Elena não tinha dúvidas: modelo. A verdade é que nunca pisou uma passerelle, mas já perdeu a conta às sessões fotográficas que fez. Diz que sempre gostou de brincar com a sua imagem e por isso, aos nove anos, pintou o cabelo de azul. Ainda criança, a uma festa de fim de ano onde todas as meninas foram vestidas de princesa, Elena apareceu trajada de vampira. Dar nas vistas era-lhe natural.

Aos 16 anos o coração traiu-lhe os seus sonhos de ser modelo. Pelo menos momentaneamente. Apaixonou-se pelo homem errado, que tinha quase o dobro da sua idade, e foi vender droga em discotecas. Acabou presa. “Todos podemos cometer erros. Vivi o meu primeiro amor, era jovem e cometi grandes erros”, disse à “Vanity Fair”.

Condenada a seis anos, na tentativa de reduzir a sua pena, aceitou ajudar a polícia a apanhar outro traficante, mas no final a polícia recuou no acordo que tinha feito com a jovem e manteve a pena. Mas pai que é pai não consegue dormir descansado com uma filha presa, e o pai de Elena resolveu contactar um deputado que havia ouvido falar na rádio sobre programas de proteção de testemunhas. Depois de ouvir o caso, Alexander Lebedev, o tal deputado, achou que podia ajudar Elena e conseguiu-lhe um novo julgamento que alterou a pena para suspensa.

A própria história de Lebedev é digna de filme. Durante anos agente superior do KGB, depois de uma temporada em Londres, regressou à Rússia e deixou os serviços secretos para se dedicar à banca, adquirindo o Banco Nacional de Reserva. Daí foi sempre aumentando o seu universo de negócios: é dono da maior produtora de batatas do mundo, foi o responsável por salvar o jornal “Novaya Gazeta”, uma voz crítica de Putin e onde escreveu Anna Politkóvskaya, é proprietário dos jornais ingleses “The Independent” e “Evening Standard” e consta na lista da “Forbes” dos homens mais ricos do mundo. Após o sucesso nos negócios, veio a política. Na Duma tentou fundar um partido social-democrata com Gorbachov e o seu temperamento levou mesmo a que fosse processado por Putin. Mas porque é que isto é importante para a história de Elena Perminova, de 29 anos? É que, depois de ajudar a libertar a jovem da prisão, os dois apaixonaram-se e casaram. Continuam juntos e têm três filhos – Nikita, Igor e Arisha, que Elena diz serem a sua prioridade. “Passo a maior parte do meu tempo com eles.”

Foi, de resto, Lebedev, de 56 anos, que abriu um mundo novo a Elena. E ela soube aproveitar. E capitalizá-lo. “Na primeira vez que fomos a Nova Iorque, deu-me dinheiro e disse-me para ir  à Bergdorf comprar o que quisesse. Estive duas horas na loja e não gostei de nada, só comprei uns jeans. No dia seguinte, usei-os com um polar do meu marido e um cruz também dele do Stephen Webster. Toda a gente olhava para mim e percebi que tinha descoberto o estilo perfeito para Nova Iorque. Ninguém a tinha ensinado, mas a jovem siberiana tinha um talento natural para a moda. De tal forma que, em 2009, o “Telegraph” já lhe dava destaque nas suas páginas de moda, como um exemplo a seguir, pela forma natural como combinava peças de lojas económicas com outras de designers reputados. A partir daí, a internet fez de Elena um fenómeno.

Mas a jovem quer ser mais do que a mulher de Lebedev e por isso, no último ano, criou o projeto humanitário SOS_by_lenaperminova, para ajudar crianças com doenças terminais. “O Alexander é um grande filantropo e juntos temos conseguido angariar muitos fundos, sobretudo para a Fundação Raisa Gorbachov. Adoro ajudá-lo, mas não deixam de ser os seus projetos e eu queria fazer algo meu.” O primeiro passo foi leiloar, através do seu Instagram, alguns objetos pessoais: conseguiu arrecadar 1.380.949 euros e ajudar 50 crianças.