2.Aí, no Alentejo, Marcelo Rebelo de Sousa iniciou o seu ciclo de presidências abertas, intitulado “Portugal Próximo”. A escolha do Alentejo deveu-se a dois factores:
o Alentejo sofre os efeitos da interioridade, do despovoamento e da ausência de perspectivas futuras, sobretudo ao nível económico, com especial intensidade, só comparável às localidades do interior centro e interior norte – para além de ter estado na berra com a polémica em torno do livro de Henrique Raposo (“Alentejo Proibido”, publicado pela Fundação Francisco dos Santos), que não foi indiferente a Marcelo;
ii) Marcelo Rebelo de Sousa trabalhou, nos últimos anos, no Alentejo no exercício das suas funções de Presidente da Junta Directiva da Fundação Casa Bragança, tendo aí contactado com a maioria dos autarcas alentejanos (mesmo, ou especialmente, do Partido Comunista!) e criado laços afectivos e de amizade já então com a elite política local.
3. Donde, o Alentejo afigurava-se como o terreno onde Marcelo se sentia mais à vontade no terreno, em termos logísticos de mobilização e de envolvimento da classe política local. Por outro lado, Marcelo Rebelo de Sousa tem projectado enquanto Presidente as suas paixões e as preferências pessoais – também na definição da sua agenda, Marcelo é afectivo. Marcelo e católico – escolheu o Vaticano como primeira viagem oficial. Marcelo é patriota – foi o primeiro a evocar, em pleno Parlamento democrático, os “milagres de Ourique” e a bula papal. Marcelo é fanático por ténis – vai hoje, por entre compromissos políticos oficiais, assistir à estreia de Gastão Elias no Estoril Open. Marcelo assume-se hoje como um citadino rural, com muitas saudades dos seus olivais e da cortiça alentejana – escolhe para primeiro destino do seu “Portugal Próximo” o Alentejo.
4.Ironia da história: o novo herói das bases do Partido Comunista tem uma concepção dos poderes presidenciais – ao menos, na sua componente simbólica – muito próxima do estatuto do Rei em Monarquia Constitucional. Quem conhece profundamente Marcelo Rebelo de Sousa, diz, sem hesitações, que este tem uma concepção aristocrática da sociedade e uma vocação monárquica. O seu ingresso na Fundação Casa Bragança, em 2012, foi a forma encontrada para suprir a sua não pertença a uma das famílias da linhagem dinástica.
5. Ontem, o Presidente teve outro dia cheio. O momento alto foi o seu primeiro discurso de fôlego na sessão evocativo do 25 de Abril na Assembleia da República – discurso que já estava escrito há semanas. Que mensagem política quis o Presidente Marcelo vincar? Que facto político pretendeu Marcelo produzir? O efeito político mais evidente é, indiscutivelmente, o de isolar o PSD de Passos Coelho. Como? Veremos no nosso próximo texto.