A arte urbana aos murosdo Padre Cruz

O maior bairro municipal da Península Ibérica é a partir de hoje o epicentro do Muro, um festival de arte urbana que quer abri-lo ao resto da cidade de Lisboa.

Diz o dicionário que muro é uma obra que separa terrenos contíguos ou que forma cerca, muralha (de fortificação). Muro é lugar de murais, tela em branco da arte urbana, também símbolo do que se constrói – neste caso do que a Galeria de Arte Urbana (GAU), em parceria com a Junta de Freguesia de Carnide, quer construir no bairro do Padre Cruz com o Muro – Festival de Arte Urbana, que decorre entre hoje e 15 de maio naquele que, com 8 mil habitantes, é o maior bairro municipal da Península Ibérica. 

«Interessa-nos trabalhar novas centralidades através da arte urbana, enriquecer um território que normalmente não acolhe este tipo de atividades», explica Inês Machado, da GAU, sobre a escolha daquele bairro em Carnide como epicentro do festival que se estende a outros pontos da cidade, com uma nova exposição nos painéis da calçada da Glória, um mural no aeroporto, outro no Museu de Arte Antiga e uma nova edição do projeto de intervenção nos vidrões Reciclar o Olhar.

Mas regressemos ao bairro Padre Cruz:serão cerca de 30 murais de artistas escolhidos por Vhils/Pauline Foessel, Lara Seixo Rodrigues, Miguel Negretti, Pedro Soares Neves, Pariz One e Ana Vilar Bravo, os curadores convidados pela GAU, e uma programação que vai muito além do live painting, de atividades como um peddypaper temático, exposições e concertos (Sam the Kid e Kumpania Algazarra são só dois exemplos) e um espetáculo do Artista na Cidade, Faustin Linyekula, a palestras e um workshop em que qualquer pessoa poderá tornar-se parte de um grande mural coletivo.

«Gostávamos que o festival trouxesse visitantes ao bairro e que isso o ajudasse a desenvolver-se», diz Inês sobre os objetivos do festival, que a GAU não quer que se esgote aqui. Depois destas duas semanas será dada formação a um grupo de habitantes com vista à criação de um roteiro de arte urbana no bairro. «A nossa intenção não é estar aqui 15 dias, fazer barulho e ir embora.

Queremos que isto seja um impulso para melhorar a vida dos moradores», acrescenta, sublinhando que além de uma ferramenta para enriquecer a paisagem urbana, a arte pública pode ser também um instrumento de «revitalização de zonas deprimidas e de inclusão social».

A verdade é que a única peça de arte pública deste bairro – que apesar dos seus 8 mil habitantes tem apenas quatro cafés, um mini-mercado e uma esquadra – é uma estátua em homenagem ao Padre Cruz, em frente à igreja. Ou era, porque à hora em que estiver a ler este texto é provável que já tenham começado a ser pintados os primeiros murais.