No início do séc. XIX, as invasões francesas levaram a Corte portuguesa a fugir para o Brasil e as tropas britânicas a assumirem em Portugal o comando da resistência contra os exércitos napoleónicos (e, de permeio, o comando do país). A Inglaterra já era então uma potência económica e política dominante no mundo. E impunha não só a sua lei, por exemplo no combate ao tráfico de escravos em que Portugal e Brasil pontificavam e a que se esquivavam, como nas rígidas regras britânicas de organização da sociedade e do país.
Em Portugal, faziam-se leis e obras de fachada – as quais, no fundo, ninguém tinha a intenção de levar a sério. Só para inglês ver.
Hoje, faz-se legislação variada, aprovam-se programas de estabilidade, orçamentos e acordos bancários (como o do BPI) só para Bruxelas ver. Dois séculos volvidos, o Reino, agora República, de Portugal passou a depender do poder e dos fundos de milhões da Comissão Europeia e do BCE. Faz o que for preciso para agradar à vontade de Bruxelas e não arranjar mais problemas.
O Programa de Estabilidade ontem votado no Parlamento é o paradigma deste hábito lusitano já de oito gerações. É para Bruxelas ver. Prevê para 2016 um défice de 2,2% e um crescimento de 1,8% do PIB em que ninguém acredita. E para 2017 bate todos os recordes de inverosimilhança: baixa a previsão do crescimento económico de 3,1% para 1,8% e faz o défice cair para uns inatingíveis 1,4% (nem com o triplo dos créditos extraordinários do BPP lá chegariam…). Pura ficção.
Quando a realidade desmentir as previsões enganadoras e o irrealismo à solta, António Costa logo vê. Lá mais para o verão, pode ser que apareçam imperiosas medidas adicionais ao OE de 2016. E lá mais para o outono, pode ser que a ‘geringonça’ esteja à beira de se desconjuntar perante o impossível OE para 2017.
Na pior das hipóteses, faz-se mais um programa ou um plano de emergência. Só para Bruxelas ver – é esse o lema de Costa.