De uma forma ou de outra, acho que a traição é algo que todos conhecemos. Ou porque efetivamente a experienciámos, no lugar do traidor ou do traído, ou porque acompanhámos alguém que esteve numa destas posições.
Talvez por isto, o mais recente álbum de Beyoncé, “Lemonade”, lançado no passado fim de semana, tenha recolhido, de forma quase imediata, o apreço de tantas pessoas. Não só porque efetivamente é uma das obras mais completas que a pop já viu – no seu lado musical e no seu lado visual, já que o álbum é acompanhado por um vídeo de uma hora -, mas porque é um manifesto de dor e sobrevivência ao qual todos nós nos associamos facilmente. É claro que há aqui o risco de se ler este trabalho da cantora como uma espécie de lavagem pública de roupa suja com o marido Jay Z, numa tentativa de capitalizar um momento de sofrimento. Mas basta ouvir/ ver “Lemonade” para perceber que não há ali nada que tenha sido feito com o espírito mercantilista. Há, isso sim, a viagem da escuridão para a luz feita por esta mulher. Uma espécie de percurso pela dor, passando pela negação e raiva, e culminado na absolvição. Mas o que há também neste trabalho, e que pode (deve?) servir de uma espécie de guia de instruções para muitas de nós, mulheres, é como cada mulher é dona da sua vida, do seu destino. E é, como foi o caso de Beyoncé, dona de gritar aos quatro cantos do mundo a sua dor e revolta. E, no final, dona de decidir perdoar o marido e tentar reconstruir a sua família.
Quantos de nós conhecemos casos destes (menos mediáticos, obviamente), nos quais toda a gente opina, mas que, afinal, a opinião geral se resume a dois ângulos: aquele que diz que as mulheres devem perdoar tudo e aquele que diz que as mulheres que perdoam são umas fracas. Mais, quantos conhecemos casos em que, toda e qualquer pessoa, se julga no direito de opinar acerca da relação de outra pessoa. O que Beyoncé veio dizer ao mundo é uma lição que toda a gente deveria saber: a decisão não é dos outros.