Posto isto, o ponto que ora importa salientar é a inauguração insólita organizada pelo Governo: os tempos de festa voltaram a Portugal. E festa goourmet. E festas que, dada a sua exuberância e custos envolvidos, é uma forma dos socialistas gozarem com os portugueses. Os portugueses ainda sofrem, ainda custa a ver a luz ao fundo do túnel – mas António Costa, para além de habilidoso político, quer ser o mestre de cerimónias oficial.
A inauguração teve, com efeito, três significados políticos, importantes e chocantes:
i) A festa serviu para mostrar uma obra com a marca do PS: ou seja, este governo de António Costa aproveita para inaugurar obras iniciadas durante o consulado de José Sócrates. É uma forma de elogio póstumo ao Governo que conduziu Portugal à bancarrota – e uma tentativa de puxar pelo Governo José Sócrates por comparação com o Governo de Passos Coelho. António Costa virou agora revisionista oficial da História de Portugal: no tempo de José Sócrates, o país era moderno, com futuro, sustentável – no tempo de Passos Coelho, por fanatismo ideológico, vieram uns senhores de Washington e tomaram conta do país, por opção do PSD. O conto de fadas é bonito – todavia, alguém nele acredita? António Costa, como é muito habilidoso, acha que os portugueses são parvos…
ii) António Costa ainda tem medo do peso político de José Sócrates (e seus amigos subservientes, com Paulo Campos à cabeça) ainda tem dentro do PS: ao trazer José Sócrates para o seu lado, António Costa quer suavizar a ala mais moderada do partido, juntando-a para a sua facção. Objectivo primacial: isolar Francisco Assis, deixando-o sozinho na sua visão racional e construtiva sobre o futuro de Portugal. E a desgraça que representa, para todos nós, a “geringonça”;
iii) António Costa embraçou a sua Ministra da Justiça, Francisca Van Dunem. A Ministra é uma pessoa séria, honesta e uma jurista de altíssimo nível: jamais embarcaria numa encenação como a protagonizada pelo Primeiro-Ministro, louvando um arguido, em processo judicial pendente, por causa do exercício das suas funções públicas. Com este acto, objectivamente, António Costa pressionou – implicitamente – a Justiça portuguesa, numa lógica de intimidação psicológica dos juízes. Seria melhor para António Costa – e para o próprio José Sócrates – deixar a Justiça funcionar serenamente. Quem não deve, não teme – e a verdade impor-se-á. Ao puxar politicamente por José Sócrates, Costa sabe que está a puxar pelo arguido em processo de corrupção e branqueamento de capitais.
Enfim, um disparate autêntico de António Costa. Isto prejudica Costa? Não: os meios mediáticos e intelectuais perdoam tudo a Costa…Se vem de António Costa, só pode ser bom e isento de críticas – eis a presunção que domina entre nós por este dias na política portuguesa.