Foi sobrevivendo nos corredores da finança. Em lugares executivos e não executivos. Fez carreira no Banco de Portugal e chegou a governador um par de vezes. Na sua última passagem fez pior do que se poderia imaginar, errou previsões, foi atacado por falhar o seu papel de regulador no BPN e no BPP e nada disse sobre Ricardo Salgado e o seu milagre de multiplicação de pães. Tornou ainda possível a mudança acionista no BCP, último passo para o desmoronamento do banco fundado por Jardim Gonçalves.
Como prémio recebeu a vice-presidência do Banco Central Europeu. O lugar dos eleitos, um panteão das elites que nunca fez por realmente merecer. Estranho que alguém se admire da sua justificação para não responder à Comissão Parlamentar de Inquérito ao Banif.
2.Assunção Cristas tem uma montanha para escalar. Substituir Paulo Portas implica escolher um caminho que não destrua o que foi sendo conquistado, mas que acrescente o que nela é força e convicção.
A defesa da família e da natalidade é a sua primeira prova de vida, impressão digital que lhe garantirá junto dos portugueses o exclusivo de um assunto que é vital. Enquanto linha estratégica não me parece que seja um assunto que possa alargar a base social de apoio do CDS – remete-a para a defesa de ideias desadequadas da realidade para uma maioria de cidadãos que, entre o medo e a esperança no futuro, não arrisca dar passos maiores do que a perna.
Defender-se a natalidade sem antes cuidar-se de uma ideia de esperança poderá ser fatal para Cristas.
3.Luaty Beirão é corajoso. Tem afrontado o poder em Angola. E ganho palco internacional, nomeadamente em Portugal. Ao que se sabe, entrou outra vez em greve de fome, desta vez acrescentando que não aceita vestir-se ou falar. Um triplo voto de provação e penitência.
O problema deste tipo de luta é a perversidade do jogo. A voragem mediática não permite que a atenção das pessoas se disperse sobre o que parece ser banal, o olhar de quem consome informação é travado apenas pela novidade, pela emoção, pela surpresa ou pelo perigo. Luaty sabe isso. E joga com isso.
Desta vez, está nu e em silêncio. Porém, a atenção do mundo só lhe será outra vez oferecida se ele morrer e se tornar um mártir da luta pela democracia em Angola. Antes disso será mais do mesmo. O mundo que temos é este e não outro.
4.É como a Fórmula 1. A competição que obrigava o mundo a parar para assistir às grandes corridas é hoje um fantasma do que foi. Pouco interesse, pouco espaço nos jornais, audiências caindo a pique.
Especialistas justificam com a ausência de carisma dos pilotos, com a falta de equilíbrio entre carros, com isto e aquilo. Infelizmente, tenho outra explicação.
A Fórmula 1 deixou de interessar à maioria quando se tornou um desporto quase seguro. Quando deixou de existir perigo de vida em todas as corridas poucos se continuaram a interessar.
A morte de Ayrton Senna da Silva matou a paixão pelas corridas. A nossa sede de agitação transferiu-se para outros gladiadores.