Também reviu em baixa as expectativas de crescimento. Resumindo, a luta contra a deflação não parece estar a resultar e, certamente, está para durar. Talvez seja altura de pensar o impensável. Uma ‘experiência de pensamento’ sugerida há muitos anos por Milton Friedman consistia em aumentar a quantidade de moeda em circulação e, assim, criar inflação, dando dinheiro às pessoas com se este fosse atirado de um helicóptero. Existem formas mais lógicas ou, pelo menos, mais práticas de o fazer. A indexação salarial foi justamente considerada o combustível que alimentou as espirais inflacionistas dos anos 70 e 80 do século passado. A razão era que essa indexação cristalizava expectativas de uma inflação cada vez mais alta. Hoje, pelo contrário, por muito que o BCE reafirme o alvo de 2%, ninguém leva essa expectativa muito a sério. Uma chave para combater a deflação é criar expectativas de inflação. Os Governos europeus poderiam contribuir muito para ancorar as expectativas em 2% se aumentassem os salários dos funcionários públicos, as pensões, os escalões e isenções fiscais e os salários mínimos como se a inflação no próximo ano (e nos seguintes) fosse 2%.
2.Espanholização da banca. De regresso a Portugal por um período breve fui surpreendido por (mais este) debate. Não sei se os conselhos de crédito revelam um enviesamento nacional. Também não sei se existe um plano europeu para concentrar a banca ibérica. Mas ouvi Fernando Ulrich considerar a concentração bancária inevitável. É estranho como depressa se esquecem as lições da crise de 2008. É estanho como a opção de partir os bancos maiores em entidades mais pequenas, menos interligadas e menos importantes saiu da agenda regulatória. Relembro aqui, de novo, as palavras Neel Kashkari do Fed, «os bancos grandes são tão perigosos como uma central nuclear».
3.O Donald. Hoje já ninguém duvida: ele pode vir a ser o próximo Presidente dos EUA. Se aí chegar, os famigerados ‘checks and balances’ do sistema constitucional americano serão sujeitos a um teste verdadeiramente exigente. Se resistirem, teremos um presidente Donald Trump ridículo, estrebuchante mas, na prática, mais contido do que ameaça ser. Mas se não resistirem o mundo ver-se-á numa grande carga de trabalhos. Em épocas de grandes incertezas e ansiedades, em que os adquiridos deixaram de o ser, a figura do político forte, um pai másculo e protetor, ainda exerce um forte apelo popular. Hoje como nos 1930’s. De um lado e do outro do Atlântico. Por vezes penso se, quando os liberais como eu defendem a imigração, a globalização ou aceleração de reformas que põem em causa muitos diretos adquiridos, não deveriam incorporar nos custos a possibilidade de reações populares como esta.