Por esta altura, já muitos adeptos encarnados têm a camisola de jogo vestida, o cachecol ao pescoço, e apenas esperam pelo apito final para soltar os foguetes da praxe. Seja onde for. “Benfica, dá-me o 35!”, gritam. Os cânticos estão ensaiados, e as gargantas afinadas. Não é caso para menos: com 20 vitórias nos últimos 21 jogos, o Benfica é mais do que favorito na receção ao Nacional, num jogo que vale o tri(nta e cinco).
Eliseu e Renato Sanches são ausências em destaque na equipa de Rui Vitória. Nada que lhe tire o sono. “O favoritismo não conta. Vamos disputar o jogo até à última gota de suor com os nossos adeptos”, atirou na antevisão o técnico das águias. Pelo sim pelo não, muitos foram os adeptos que marcaram presença em Fátima, nas cerimónias da Capelinha das Aparições, durante o fim de semana. Não faltaram também as habituais velas. Fé no título?
Viramos o flanco para o relvado. As equipas entram em campo ao som do hino do Benfica. Nuno Almeida sopra a todo o gás no apito e sai o Nacional com bola. Se nos primeiros minutos as duas equipas se estudaram uma à outra, taco a taco, à passagem pelo minuto 10, os insulares decidiram mostrar que não estavam dispostos a alinhar na cantiga do líder. Jogada rápida na área do Benfica, com a bola a sobrar para Agra que, em posição frontal, falhou a baliza de Ederson.
O aviso do adversário foi levado a sério. Os jogadores do Benfica subiram no terreno e empurraram o Nacional para o seu meio-campo. Pelo meio, as imagens televisivas mostram uma mão de Talisca dentro da área dos encarnados. O árbitro nada assinalou. Pouco tempo depois, os adeptos ouvem na rádio o golo do Sporting na Pedreira. As bancadas da Luz agitam-se. O resultado deixava o velho rival provisoriamente na frente da tabela. O nervoso miudinho apenas durou 3 minutos.
Pizzi arrisca uma jogada individual, ultrapassa dois adversários, atrapalha-se e a bola sobra para Gaitán que, num remate cruzado, transformou a Luz num barril de pólvora, tal a explosão de alegria. 1-0 aos 23’ colocava novamente o Benfica na rota do tri. A equipa de Manuel Machado tentou voltar a entrar no jogo nos minutos seguintes, mas sem sucesso. Aos 37’, o registo de posse de bola era como o algodão, não enganava: 70% para as águias (30% para o Nacional).
Foi por isso com naturalidade que o marcador voltou a ser alterado. Desta vez pelo Pistolas do costume. Sim, falamos de Jonas (32 remates certeiros em 34 jogos do campeonato). Em contra-ataque, Gaitán lançou uma bola longa teleguiada para os pés do avançado brasileiro, que teve arte e engenho para fazer passar a bola por baixo das pernas de Gottardi (39’).
O 2-0 ao intervalo já não fugia. E pouco faltou para o terceiro, logo no início do segundo tempo. Mitroglou também queria participar na festa, mas o remate, de primeira, após cruzamento de Jonas passou a rasar a barra. O Nacional tentava remar contra a maré, mas Gaitán voltou a trocar-lhes as voltas (65’).
O título era irreversível, já não havia dúvidas. No banco de suplentes das águias, Rui Vitória era um homem feliz. E mais terá ficado quando aos 84’ Pizzi dilatou a vantagem para 4-0. Ao cair do pano (90’), Agra ainda fez o golo de honra dos insulares (4-1).
“Tricampeões”, gritou-se na Luz a uma só voz quando Nuno Almeida terminou a partida. Trinta e nove anos depois dos tempos de Mortimore, o Benfica voltou a ser tricampeão. E já são 35 títulos no historial dos encarnados. É obra.