Depois do ‘susto’ que nos levou a poupar mais em 2011 e 2012, poupamos cada vez menos – um terço do que poupam os europeus, em média. E em Portugal quase só os ricos poupam. Ora há meio século a maioria dos portugueses era bem menos rica do que hoje, mas poupava uma maior percentagem do seu rendimento disponível.
O investimento público em 2016 será inferior ao de 2015. Numerosas empresas não investem porque estão endividadas. Por isso o investimento desce dramaticamente. Diz a Comissão Europeia que entre 2008 e 2014 em Portugal houve menos 15 mil milhões de euros de investimento público e privado do que era a tendência nacional. Pior, a Comissão prevê que essa falta de investimento apenas em cerca de um quinto seja reposta em 2015-2017; e só um quarto quanto ao investimento empresarial. Ora sem investimento não haverá crescimento futuro nem se reduz o desemprego, como mostram os últimos dados do INE. Que também mostram uma queda nas exportações de mercadorias no primeiro trimestre, a que não será alheia a carência de investimento.
Todas as esperanças do Governo parecem agora postas nos fundos de Bruxelas, o que é um exagero pouco animador. Mesmo esses, porém, dificilmente chegam às empresas.
Mas porque não se investe mais, se até existem condições favoráveis, como o crédito e o petróleo relativamente baratos? O Estado não tem dinheiro. E é difícil que uma empresa endividada (como há tantas…) se disponha a investir. Fala-se em resolver o problema do endividamento empresarial, mas não existem soluções mágicas para tal – isto é, sem custos que alguém terá de pagar.
Já antes da crise as empresas portuguesas tinham em geral poucos capitais próprios, dependendo demais do crédito bancário. Muitos empresários receiam a bolsa e a transparência que ela exige; e não gostam de ter na empresa sócios que limitem a sua autonomia de gestão.
Num país descapitalizado como Portugal a prioridade deveria ser atrair investimento estrangeiro. Mas este desde há mais de dez anos prefere o Leste europeu, que fica próximo dos grandes mercados consumidores, como a Alemanha. Acresce que no Leste os salários são baixos, mas os trabalhadores são mais qualificados do que os nossos. E o potencial investidor direto em Portugal não ganhou confiança, pelo contrário, com a recusa do presente governo em respeitar o acordo que o anterior executivo firmara com o PS, então liderado por A. J. Seguro. Esse acordo previa a continuação, este ano, da descida do IRC, o que não aconteceu.
Por outro lado, ter a extrema-esquerda anticapitalista a apoiar o governo não atrai os investidores. Não é só o discurso contra a empresa privada que o PCP e o Bloco de Esquerda têm regularmente que fazer, para agradarem às suas bases. É também o risco permanente de a “geringonça” colapsar. A incerteza política cria um ambiente que afasta o investidor, sobretudo o estrangeiro.