Há pessoas a usar um medicamento para a diarreia como droga, o que pode ter consequências fatais. O alerta surgiu no início do mês nos Estados Unidos e em causa está a substância loperamida, conhecida pelo nome comercial Imodium, hoje com diferentes genéricos disponíveis no mercado. O aumento do uso deste medicamento por pessoas viciadas em analgésicos opióides, que não conseguem ter acesso a estes fármacos, é uma das preocupações.
De acordo com um estudo publicado na revista médica “Annals of Emergency Medicine”, entre 2011 e 2014 houve um aumento de 71% nos casos de intoxicação com esta substância, que tem uma componente opióide. E segundo o The New York Time, já há quem lhe chame “metadona dos pobres”. Em Nova Iorque foram relatadas duas mortes por overdose.
Em Portugal, o Infarmed referiu ao i não haver indícios de reações adversas relacionadas com utilização abusiva deste medicamento. O regulador revela não ter informação disponível para perceber se este tipo de consumo abusivo é ou não uma realidade no país. “A indicação terapêutica e o diagnóstico são informações que não constam dos dados de consumo que são recebidos”, justificou ao i fonte oficial. Mas os dados das vendas não permitem suspeitar de nada: “a análise dos dados de vendas a que temos acesso não revela um aumento da utilização deste medicamento”.
Os autores norte-americanos indicam que, com base na análise de posts na internet em comunidades de utilizadores de analgésicos opióides, 70% das pessoas referem usar a loperamida para aliviar os sintomas de abstinência quando os médicos deixam de prescrever opióides mais fortes. Mas há outros casos em que o medicamento é usado simplesmente como droga. “Alguns doentes usam-no para ficar pedrados, outros como ponte”, disse o autor do estudo William Eggleston, alertando que a loperamida é segura em doses terapêuticas mas, em doses elevadas, pode ser fatal, dado provocar arritmias cardíacas.
Em Portugal a loperamida é um medicamento não sujeito a receita médica, portanto está disponível nas farmácias mas também nas parafarmácias ou nos supermercados. Questionado pelo i se tenciona rever as regras de dispensa deste medicamento, o Infarmed informou que, não havendo conhecimento de um problema de segurança devido ao uso abusivo em Portugal, “não se justifica a alteração da sua classificação quanto à dispensa”.