Queen eram aposta fácil para enchente, mesmo com Adam Lambert, e à chegada à Bela Vista horas antes já se adivinhava o que aí vinha. Como em fim de tarde não há margem para dúvidas é diretos ao Palco Vodafone que vamos, porto seguro e calmo neste festival de massas que esta sexta-feira recebeu 74 mil pessoas, por onde já passaram Pista e Sensible Soccers e agora Boogarins tocam para parcas centenas. Não precisam de mais.
As afros dizem muito dos Bogarins. Estes brasileiros não são de usar havaianas. Isto é antes camisas que com quantos mais padrões e cores melhor. O seu som é meio espacial, astronautas de cabeça térrea, distorção e criatividade a montes, o seu som é tanto inventivo quanto meloso, mole de bom, ai de quem não dobrar os joelhos a cada mudança de ritmo. Dois discos e a certeza de que a Goiânia não é terra de ninguém no mapa. Isto é tão delicado que até se para na hora de deixar o avião passar. De vez a vez lá vem um turbilhão, as cordas todas a reverter. Psicadelismo tropical e fofinho que até o céu deixa verde e quase nos faz esquecer que isto é o Rock in Rio e que é muito provável que lá na outra ponta do recinto haja ao mesmo tempo gente a twerkar ao som de Fergie, vocalista dos Black Eyed Peas.
Ainda deu para ouvir o medley que lhes dedicou antes de Mika, que se agarrou a tudo para conquistar um público já à procura do lugar certo para o concerto seguinte: a guitarra portuguesa e o "meu fado" e no final a própria Mariza em palco a traduzir-lhe as palavras para português, e a verdade é que conseguiu porque quase nos obrigou a acompanhá-lo em "Love Today", num exercício do tipo guilty pleasure de uma adolescência que não foi a nossa e ainda bem.
Termina o concerto, toca a sirene do Yorn Bundalicious, já há café outra vez, melhor timing para abastecer e uma multidão ansiosa por tudo o que ainda falta ouvir, que é tudo. "Adam Lambert, não sei, nunca o ouvi” era coisa que saía da boca de muita gente que pagou bilhete para estar ali, afinal Queen serão isso, Queen, mesmo 25 anos depois do desaparecimento de Freddie Mercury, mesmo com Adam Lambert, figura saída dos “Ídolos” americanos que se volta a juntar a Brian May e Roger Taylor para uma digressão europeia que tem Lisboa como ponto de partida.
E Queen que são Queen fazem-se esperar, quase 30 minutos depois da hora marcada ainda há ajustes, ovação até para um avião que rasa o Palco Mundo e agora é mesmo o êxtase, são mesmo eles diante de nós, com Adam Lambert e as impossíveis mas inevitáveis comparações, como seria um Freddie Mercury em 2016. Nada disto.
Mas logo vem May mostrar-nos o que é rock num princípio de “Stone Cold Crazy” que consola para depois regressar um Adam que claramente não tenta ser Freddie e ainda bem, “Mercury há só um”, é ele que o diz, pelo meio de agradecimentos por lhe concedermos a honra de estar num palco a cantá-lo, e que era tudo o que a Bela Vista precisava de ouvir para afastar a culpa. A partir daqui, é um desfile sempre a somar. “I Want to Break Free”, “Somebody to Love”, duas horas de concerto não chegam para tudo o que havia para tocar nesta versão (nem sempre) Ídolos de Queen que a multidão e a nostalgia ajudaram a disfarçar. Mas nem sempre mesmo, porque viu-se gente chorar quando Brian May nos pediu que o acompanhássemos numa “canção escrita por um jovem chamado Freddie”. Só nós e ele em “Love of My Life”, a noite podia acabar mas não podia, ainda havia muito Freddie para celebrar numa “Bohemian Rapsody” que veio na versão mais Queen possível. É Freddie a rematá-la ao piano nos ecrãs e agora sim, final perfeito.
Mas o show tem que continuar porque ainda faltam “Radio Gaga”, “We Will Rock You” e uma “We Are The Champions” a servir os que já levantam cachecóis vermelhos mas que é para todos. Afinal todos os finais podem ser felizes.