Champions: Ajuste de contas em Milão

Dois anos depois do confronto em Lisboa, Real e Atlético voltam a discutir o título europeu agora em solo italiano. O dérbi espanhol desta vez estende-se ao banco de suplentes, onde Zidane e Simeone lutam por um lugar na história.

A maldição dura há 14 jogos e mais de 50 anos. Nunca o Real Madrid conseguiu ganhar em Milão. O histórico de confrontos na cidade italiana não deixa dúvidas: dez derrotas e quatro empates (metade contra o Milan e a outra metade contra o Inter). O saldo de golos também não é favorável: oito marcados e vinte e sete sofridos. 

Uma estatística que ameaça dificultar a missão do agora treinador Zinédine Zidane, à procura de entrar na história quando os dois maiores rivais de Madrid subirem esta noite ao relvado de San Siro, palco da final da Liga dos Campeões (19h45). Se o Atlético está apostado em ajustar contas antigas depois do troféu perdido em Lisboa (2014), já o Real luta pelo 11.º título na prova milionária da UEFA. 

Em caso de vitória merengue, o técnico francês, que há apenas cinco meses assumiu a braçadeira de treinador na equipa principal, depois da experiência no Castilla (equipa satélite), pode juntar-se ao restrito lote de figuras que conseguiram conquistar a Liga dos Campeões com as chuteiras nos pés e mais tarde com o fato de treinador vestido.

Apenas Miguel Muñoz, Giovanni Trapattoni, Johan Cruyff, Carlo Ancelotti, Frank Rijkaard e Pep Guardiola se podem orgulhar da proeza.

Com duas finais perdidas (1997 e 1998) pela Juventus e uma ganha com a camisola do Real (2002), Zidane está perto de gravar com letras de ouro o seu nome na história. Ainda assim, não será um caso único se celebrar o título europeu em época de estreia, igualando o feito de José Villalonga (Real Madrid – 1956), Muñoz (Real Madrid – 1960), Tony Barton (Aston Villa – 1982), Joe Fagan (Liverpool – 1984), Guus Hiddink (PSV Eindhoven – 1988),Vicente del Bosque (Real Madrid – 2000) e Guardiola (Barcelona – 2009). A festa está à distância de 90 (longos)minutos.

«O Atlético é um adversário especial. Deixaram pelo caminho as outras duas melhores equipas da Europa [Barcelona e Bayern Munique], por isso vai ser um jogo muito complicado. Vão defender muito bem, como fazem sempre», afirmou Zidane na antevisão do encontro, alertando para a missão espinhosa que o Real terá pela frente.

Cristiano Ronaldo pode dar uma ajuda. O internacional português precisa apenas de um golo para igualar a sua melhor marca numa só época na Champions (17 tiros certeiros) e perfila-se como a maior ameaça à ‘muralha’ colchonera.

Simeone no trilho de Carniglia e Herrera

Não é só Zidane que corre pela história. Também Diego Siemone promete agitar o dérbi madrileno fora das quatro linhas.

O argentino quer a desforra da final perdida em Lisboa, há dois anos, e pretende a todo o custo levar o primeiro caneco da Champions para o Estádio Vicente Calderón. Será a terceira tentativa para os colchoneros, que em 1973 também marcaram presença na discussão do título europeu, mas caíram aos pés do Bayern Munique.

«Creio que a palavra vingança é negativa, porque recorda derrotas, momentos maus. Ao contrário, a palavra oportunidade remete para otimismo, segurança, confiança, e expressa o que está para vir, o que queremos, que é vencer a Liga dos Campeões», explicou esta semana o argentino, que pode tornar-se no terceiro treinador não-europeu a ganhar a prova milionária da UEFA, depois dos compatriotas Luis Carniglia (Real Madrid – 1958 e 1959) e Helenio Herrera (Inter – 1964 e 1965).

Será que desta vez a filosofia defensiva de Simeone vai ser premiada? Zidane parece continuar a acreditar que a melhor defesa é o ataque. Certo é que os protagonistas estão prontos. Que role a bola e comece o tira-teimas em Milão.