Quatro meses depois de ter sido visto como uma solução, José Peseiro tornou–se um sério problema no Dragão. “Estou aqui para vencer e foi esse compromisso que tomei com o presidente”, anunciou com pompa e circunstância no dia da apresentação. O mesmo compromisso quebrado agora, devido a um balanço negro que resulta na maior percentagem de derrotas na era Pinto da Costa (36,4%) e a pior média de golos sofridos (1,18). Um autêntico fracasso que hipotecou as hipóteses do FC Porto na corrida ao título e ainda permitiu ao Braga levantar a Taça de Portugal no Jamor.
Foi, por isso, sem qualquer surpresa que o colega de curso de José Mourinho, um ribatejano natural de Coruche e aficionado das touradas – leia-se José Peseiro –, recebeu guia de marcha na Invicta. O anúncio surgiu em destaque nos classificados: “Procura-se treinador à Porto.” Requisitos pedidos? “ADN portista.” De imediato surgiram dois nomes e um grave problema que promete abalar a estrutura do clube azul-e-branco. É que a questão já não é só sobre a mística, mas centra-se sobretudo numa luta de liderança/poder.
Alexandre Pinto da Costa escolheu Nuno Espírito Santo, o técnico despedido do Valência em novembro, que além de ser amigo de Jorge Mendes ainda apresenta no currículo de treinador uma presença na final da Taça da Liga e da Taça de Portugal pelo Rio Ave (2014), para suceder a Peseiro. Do outro lado da barricada, Antero Henrique defende que a solução passa por Marco Silva, o homem que mostrou serviço em Alvalade (1 Taça de Portugal) antes de se sagrar campeão grego com as cores do Olympiacos esta época.
O braço-de-ferro acabou por durar menos do que o recente jejum de títulos no Dragão. O pai, Jorge Nuno, deu carta-branca ao filho para avançar para a contratação de Espírito Santo – um negócio com a bênção de Jorge Mendes, em jeito de pedido de desculpa depois das contratações dos mal-amados Julen Lopetegui e Adrián López.
O anúncio está por horas, o que significa mais uma guerra perdida para o diretor-geral e administrador da SAD, de quem se diz ter ameaçado bater com a porta. Os problemas não acabam aqui: é que o regresso do antigo guardião (2002-2004 e 2007-2010), criador da expressão “somos Porto”, está a gerar alguma desconfiança na estrutura e a escolha parece longe de ser consensual. As críticas vão-se multiplicando.
“Espero que não se confirme a notícia da contratação de Nuno Espírito Santo. Julgo que está um vasto leque de portistas comigo, que acharão que, mais uma vez, Pinto da Costa vai cometer um erro na escolha do treinador. Um clube que foi duas vezes campeão da Europa e do mundo não pode dar-se ao luxo de contratar um treinador que não tem experiência suficiente, que só treinou dois clubes e nunca ganhou nada, e que não tem carisma para o FC Porto”, começou por dizer Miguel Sousa Tavares, portista assumido, no seu habitual espaço de comentário na SIC.
De seguida lançou-se ao ataque e foi ainda mais longe: “Isto representa a vitória da fação Alexandre Pinto da Costa contra a fação Antero Henriques, que queria Marco Silva. Resta uma dúvida legítima: se o pai contrata o treinador por achar que é o melhor para o clube ou por achar que é o melhor para o filho.”
Críticas à parte, Eurico Gomes, antigo jogador dos dragões, partilha a mesma opinião. “Respeito o Nuno, mas penso que é uma aposta muito arriscada. Nos últimos anos alicerça-se muito a ideia de que o FC Porto não tem autonomia e aqui fica mais uma vez a dúvida se esta é uma decisão de dentro ou de fora do FC Porto”, afirmou Eurico aos microfones da Renascença. O músico Miguel Guedes assina por baixo: “A frase ‘somos Porto’ é dele e só espero que faça evoluir essa palavra de ordem para um ‘voltaremos a ser Porto’.”
A remar contra a maré de críticas, Vítor Baía surge como o principal defensor do antigo colega de balneário e de baliza: “É um jovem treinador que tem vindo a fazer bons trabalhos. Começou muito bem com o Rio Ave. Depois teve problemas, mas não deixa de ser um treinador com potencial. Conhece bem o FC Porto”, explicou no programa “Mercado”, da CMTV. O futuro o dirá.