1.Avançamos já a nossa resposta ao título da presente prosa: não. O convite formulado a Paulo Portas pela empresa (importantíssima para o nosso tecido económico) de construção civil Mota-Engil não consubstancia um frete, um favor ou uma retribuição por favores prestados à empresa durante o exercício de funções políticas por parte do ex-Vice-Primeiro-Ministro – não é, pois, o vulgo “tacho”. Um “tacho” é aquilo que foi oferecido, por exemplo, há poucos anos a Armando Vara: José Sócrates, então Primeiro-Ministro, convidou o seu amigo para controlar a actividade da Caixa Geral de Depósitos (controlando-a de acordo com os seus interesses e conveniências políticas), apesar de Vara não ter qualquer experiência, conhecimento ou competência para exercer funções no sector bancário.
2. Nem tão pouco se poderá comparar o caso de Jorge Coelho com a contratação recente de Paulo Portas. A única semelhança entre os dois casos é mesmo a empresa contratante – quanto ao mais, as divergências são colossais e bem eloquentes. Primeiro, Jorge Coelho foi convidado para exercer funções executivas (uma espécie de CEO da Mota-Engil, só transitando posteriormente, em 2013, para a liderança do Conselho Internacional do grupo empresarial); Paulo Portas, por sua vez, vai exercer funções de consultor do Conselho Internacional, mais especificamente contribuindo para a definição da estratégia do grupo tendente ao alargamento da sua actividade para as coordenadas geográficas da América Latina. Paulo Portas nem sequer irá gozar do estatuto de Presidente do dito Conselho – será apenas um dos seus membros que contribuirá para a afirmação internacional de uma empresa relevantíssima para a economia portuguesa.
3. Em segundo lugar, Paulo Portas, ao invés de Jorge Coelho, não exerceu funções em áreas directamente relacionadas com a actividade primacial da Mota-Engil, nunca tutelando o sector das Obras Públicas ou dos Transportes e Planeamento. Ou seja: Paulo Portas – ao longo das várias funções político-governativas que exerceu – nunca gastou um cêntimo dos contribuintes adjudicando uma ponte, uma estrada, uma escola, um edifício público, ou o que quer que seja à Mota Engil. Nem à Mota-Engil ou a qualquer outra empresa de construção civil ou de outro sector de actividade. Paulo Portas – enquanto Vice-Primeiro-Ministro com o pelouro da internacionalização da nossa economia – estabeleceu contactos, fomentou relações diplomáticas, encetou o revigoramento ou aprofundamento de relações entre o Estado português e Estados com um protagonismo sucessivamente maior na nova ordem internacional.
3.1. Sempre em prol da economia nacional, da criação de emprego e da competitividade do nosso país à escala global. Paulo Portas só fez mesmo uma única obra pública, uma obra de interesse público – preparar Portugal para a globalização. E essa obra não beneficiou só a Mota-Engil; não beneficou só esta ou aquela empresa – já começou a beneficiar o PIB nacional e irá beneficiar (crescentemente, esperemos nós) os portugueses, através da criação de postos de trabalho e de uma economia com mais oportunidades.
4. Por outro lado, Paulo Portas é hoje uma das personalidades políticas portuguesas mais respeitadas internacionalmente. Desde os Estados Unidos da América até ao Brasil, passando pela Colômbia, Cuba, México e Angola, Paulo Portas é admirado pelas suas virtudes de inteligência, sagacidade política, económica e social, pela perspicácia na análise das tendências actuais e futuras de geopolítica e geoestratégia. Paulo Portas não obteve a respeitabilidade e os vastos conhecimentos de que dispõe hoje apenas porque era conjuntural e transitoriamente Vice-Primeiro-Ministro – não! Paulo Portas percorre hoje o mundo, respondendo a várias solicitações de políticos e Governos de diferenciada latitudes apenas por uma razão: porque Paulo Portas é um político singular e uma personalidade invulgar. Paulo Porta não foi contratado apenas porque foi político – Paulo Portas foi contratado para consultor para a internacionalização da Mota-Engil porque, de facto, é competente e exemplar. Porque o que faz, faz bem. A Mota-Engil não poderia ter contratado melhor consultor.
5. A isto, acrescem dois outros factores não despiciendos:
1) Paulo Portas não irá exercer funções executivas na Mota-Engil, pelo que não terá de prestar contas a accionistas – nem actuar pressionado pelos resultados financeiros anuais. Paulo Portas vai pensar uma estratégia, utilizando os conhecimentos e a experiência de que dispõe da economia portuguesa e, sobretudo, da economia internacional. E (pelo que apurámos) Paulo Portas nem sequer tem um vínculo de exclusividade com a Mota-Engil, podendo colaborar na definição estratégica com outras empresas nacionais;
2) Paulo Portas não se irá dedicar apenas ao pensamento de uma estratégia de internacionalização para a Mota-Engil. Não: será igualmente Vice-presidente da Câmara de Comércio, onde colocará os seus conhecimentos e a sua competência ao serviço de todas as empresas. De toda a economia nacional. Ora, não é função de um ex-governante da República Portuguesa colocar ao serviço da comunidade o seu talento, a sua competência e a experiência acumulada ao longo de anos? Adicionalmente, Paulo Portas irá também coordenar um curso de pós-graduação em geopolítica e geoestratégica na Universidade Nova – contribuindo, assim, para a formação de quadros aptos a compreender os desafios da economia internacional contemporânea. Como se conclui, a Mota-Engil não é o exclusivo, nem o essencial da nova vida de Paulo Portas – é apenas a concretização no sector privado da sua vocação de cosmopolita e de patriota.
6. Por último, convém referir que as críticas de Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda, contra Paulo Portas são pura encenação política. Nós percebemos: o desejo de Catarina Martins é instalar os seus camaradas no Estado, no sector público. Ou seja: converter todos nós, contribuintes, em financiadores oficiais do Bloco de Esquerda.
7. Que Catarina Martins seja contra a internacionalização da economia portuguesa, o fortalecimento do tecido empresarial português e uma economia mais competitiva, livre e com mais oportunidades para todos – nós percebemos. O Bloco de Esquerda, por fanatismo ideológico, prefere uma vanguarda pública, constituída pelos seus militantes e dominada pelos seus interesses, devidamente subsidiada pelos contribuintes portugueses. O Bloco de Esquerda incomoda-se com a contratação de Paulo Portas para consultor de uma empresa privada que cria postos de trabalho, mais oportunidades para muitos portugueses e contribui para a criação de riqueza nacional – mas já não se incomoda com o facto de o Governo de António Costa (por si apoiado) demitir gestores públicos e dirigentes administrativos para os substituir, por mero capricho político, pelos seus camaradas políticos. Porque será? Será porque Catarina Martins mal pode esperar para se sentar ao lado de António Costa, na bancada do Governo? Veremos…
8. Uma nota derradeira: se Paulo Portas me tivesse questionado sobre se a decisão mais acertada seria ingressar, ainda que como mero consultor, na Mota-Engil – a minha resposta seria negativa. Preferiria que Paulo Portas se dedicasse à consultoria em associações de comércio ou de entidades privadas directamente envolvidas na prossecução do interesse público. Mas há razões subjectivas que explicam a decisão última de Paulo Portas: a admiração pelo trabalho da Mota-Engil, criando emprego para milhares de portugueses e crescendo em contraciclo; a amizade por António Mota e admiração pelas suas qualidades de empresário; até a sua amizade antiga pelo ídolo dos socialistas, Jorge Coelho. Razões pessoais perfeitamente legítimas.