Marco Paulo: ‘Muitas pessoas iam ver-me à espera que eu deixasse cair o microfone’

É incontornável: o nome Marco Paulo marcou uma geração. Talvez até mais do que uma. Para alguns o cantor piroso, para outros o rei dos românticos, ao longo de 50 anos deu música aos portugueses. Primeiro com a sua farta cabeleira encaracolada, agora mais discreto e formal. Sempre a atirar o microfone de mão em mão.…

Acabou de receber o Globo de Ouro Mérito e Excelência. Como vê uma distinção destas, que reconhece os seus 50 anos de carreira?

Deixou-me muito feliz. Se é merecido ou não, não sei, não sou eu que tenho de julgar. Foi uma surpresa.

Sobretudo se tiver em conta que, no ano passado, nem foi convidado, como confessou no programa da Júlia Pinheiro, criando até uma situação algo incómoda para a organização.

(risos) Quando a Júlia Pinheiro, no seu programa, me perguntou se eu iria à gala, disse a verdade: que nunca tinha sido convidado e não se vai a casamentos nem batizados sem ser convidado. Este ano, através da minha editora, convidaram-me para ir à gala. Sem eu saber já tinham cozinhado este prémio. Insistiram muito, aconselhei-me com as pessoas de minha casa e com três ou quatro fãs que estão sempre perto de mim e aceitei o convite. Convidei o meu afilhado, Marco António, e a namorada dele, bem como uma grande amiga minha, e lá fomos. Foi a primeira vez que pisei a passadeira vermelha.

Gostou?

Teve a sua graça, mas como não estou habituado achei estranho.

Quando percebeu que estava ali para receber um prémio?

Só a meio do discurso do Dr. Pinto Balsemão é que comecei a pensar que ele estava a falar de mim. E depois começaram a aparecer fotografias minhas. Emocionei-me muito. Lembrei-me logo da minha mãe que teria gostado muito de estar ali. E recebi um grande abraço do meu afilhado, que também se emocionou muito. Lembro-me que, quando me estava a dirigir ao palco, parecia que o chão me fugia por debaixo dos pés. E depois comecei a cumprimentar as pessoas todas, mesmo as que nem sabia quem eram. E ao mesmo tempo ia a pensar o que iria dizer. Quando lá cheguei achei que era um galardão pesado, mas importante. E depois as palavras surgiram-me.

Uma das coisas que sublinhou foi o facto de, não há tanto tempo quanto isso, ter estado naquele mesmo palco, o Coliseu de Lisboa, a dar um grande concerto de comemoração dos 50 anos de carreira.

Sim, dois meses antes tinha estado, pela primeira vez, a dar um concerto ali. Foi um Coliseu esgotadíssimo, que me aplaudiu durante duas horas e meia, a mim e a uma orquestra de 25 músicos, com quem fiz uma viagem pela minha música, a música que acompanhou a vida das pessoas, que namoraram ao som da minha música, casaram, emocionaram-se. Vieram pessoas dos quatro cantos de Portugal, da Suíça, do Canadá, da Venezuela… Estive naquele palco a partilhar como se estivesse a partilhar com pessoas de família, até porque as pessoas também me tratam como se eu fosse da família delas.

Há uma espécie de sentimento de posse em relação a si, como se o Marco Paulo fosse um bocadinho de todos os portugueses.

Sim. Ainda agora tenho uns noivos que vão casar e pediram-me se podia mandar-lhes uma mensagem para o casamento porque cresceram a ouvir-me. E eu faço. Outras vezes pedem-me para lhes ligar no dia do aniversário. E depois dizem-me coisas como “foi a melhor prenda de aniversário que já recebi, já posso morrer que já falei com o Marco Paulo”. Vivo num pais que pode ter muitos defeitos, mas tem um povo maravilhoso, um povo muito generoso e solidário. Valeu a pena ter nascido na minha aldeia pequenina, e os meus pais me terem trazido, a mim e aos meus irmãos, para perto da cidade grande, para o Barreiro. Se isto não tivesse acontecido, provavelmente hoje estaria no Alentejo, num outro trabalho, digno, mas diferente.

E não seria Marco Paulo, continuaria a ser João Simão.

Pois… (silêncio, e os olhos começam a brilhar, rasos de lágrimas) Sabe, eu só conheci a casa onde nasci faz pouco tempo. Nos últimos anos perdi a mãe, o pai e agora mais recentemente a minha irmã. Sou um homem muito sensível. Perdi pessoas que eram um bocadinho de mim, por isso, quando falo de certas coisas, os meus olhos brilham, sou um homem, não sou de pedra. Quando falo da minha terra, da minha família, emociono-me muito. Bom, mas só agora conheci a casa onde nasci, pequenina, com umas portas onde teria de me baixar para passar, numa rua onde passei muitas vezes, em Mourão. Mas nunca ninguém me tinha dito que tinha nascido ali, naquela casa. Só agora, desta última vez que voltei a Mourão, é que fui ver aquela casa.

Essas viagens ao passado são importantes para si?

Não sou um homem muito agarrado ao passado, o passado passou.

Mas deixam-no sobressaltado ou em paz?

Não têm de deixar sobressaltado porque fui uma criança normal, não tive luxos, nunca tive um brinquedo, ia todos os ias à escola do meu irmão mais velho para beber um copo de leite porque em nossa casa não havia leite. Bebia o que sobrava dos miúdos que lá estudavam. Ainda hoje gosto muito de beber leite. Mas fui feliz.

Que outras recordações tem desses anos em Mourão?

Não tenho muitas, porque logo a partir dos cinco anos comecei a viajar muito pelo país, com os meus pais e os meus irmãos. Íamos para onde o meu pai fosse colocado. De Mourão fomos de camioneta até ao Barreiro, onde o meu pai já estava à nossa espera, depois apanhámos o comboio até Alcabideche. Nunca tinha saído de Mourão antes disso. Do que me lembro é de uma tia me vestir para eu ir para a camioneta. É a única tia que ainda tenho em Mourão, uma anciã com um coração enorme, que faz os melhores petiscos alentejanos.

E depois de Alcabideche?

Ficámos por lá pouco tempo e fomos para Arcos de Valdevez, Minho. Depois para Celorico de Bastos, também Minho. Por isso é que tenho uma paixão enorme pelo Minho. E depois Alenquer, onde fiquei mais tempo e onde comecei a frequentar a escola. Até então só brincava e cantarolava.

Já cantava?

Já! Cantava em casa, na rua, em todo o lado. Éramos três rapazes e uma rapariga, a que morreu agora. E eu era o único bobo da corte da família.

Quando é que se aventurou a cantar Joselito?

Tinha uns 12 anos. Quando comecei a aprender as primeiras músicas, aprendia as que passavam na rádio, músicas do Tristão da Silva, da Maria Fátima Bravo, mais tarde as do Calvário. Mas um dia fui ver o filme do Joselito, vi-o através da frincha da porta do cinema, e aprendi a música. À primeira. Em espanhol. E depois cantei-a nas festas de Alenquer. Lembro-me que me aplaudiram muito.

Mas como foi parar às festas?

Estava a brincar na rua, com os meus amigos, e estava a decorrer um casamento numa das casas. Era o casamento de um amigo do meu pai, o diretor do jornal “A Verdade de Alenquer”. E eu enquanto brincava, cantava. Esse senhor apercebeu-se que era eu que estava a cantar e disse-me: “Oh João, anda cá cantar”. Eu fui, e como era muito pequenino, mal chegava à mesa dos bolos, puseram-me em cima de um banco. Cantei “A Campanera” e foi um sucesso porque eu era uma criança, com voz de criança, a cantar em espanhol. No ano seguinte, nas festas de Alenquer, ele falou com o meu pai para me deixar ir cantar. O meu pai nunca achou muita graça a essas coisas das cantigas – embora tenha sido sempre um homem da música filarmónica e um homem muito inteligente apesar de só ter a quarta classe – mas não achava que isso fosse uma profissão. Mas lá fui.

Pagaram-lhe?

Deram-me a ceia, arroz de cabidela. Isso hoje em dia seria impossível. Achei muita graça porque os artistas maiores, como a Maria de Fátima Bravo e a Maria José Valério, vieram dar-me os parabéns. E eu era um miúdo. Lembro-me que me atiraram rebuçados para o palco.

Ficou encantado?

Fiquei. Mas eu só mais tarde, só muito tarde, percebi que podia governar a minha casa através da minha voz. Até então era um gosto pessoal. Porque eu sempre gostei de me ouvir cantar.

Foi por isso que, durante anos, teve sempre empregos em paralelo com a carreira na música?

Sim. Fiz muita coisa. Aos 14 anos levantava-me às 6h da manhã para apanhar uma camioneta e ir para 30 ou 40 km de distância da minha casa lavar garrafas numa farmácia. Deixei a escola muito cedo porque em Alenquer só havia um colégio para gente com muitas possibilidades. E se não havia possibilidades de estudar, então tínhamos de ter uma profissão. O meu pai não queria os filhos em casa sem fazer nada. Ia para a farmácia mas como a camioneta chegava muito cedo, tinha de estar numa tasca das 7h às 8h, até à farmácia abrir portas. Ainda hoje tenho na cabeça os homens passarem lá para o mata-bicho, antes do campo.

E depois da farmácia?

Fui trabalhar para um escritório e depois para uma loja de fazendas. Mas eu não gostava nada de lá estar porque não sabia fazer as medições dos tecidos. Aliás, eu não sabia nada de nada. Só sabia cantar. Depois fui para o Barreiro e aí ainda fui para a escola à noite, ver se tirava um curso comercial, dois anos. De dia trabalhava numa fábrica de plásticos. Depois vim para Lisboa.

E encontra a Cidália Meireles. Ou ela encontra-o.

Sim, e leva-me à televisão, ao seu programa, o “Tu Cá, Tu Lá”.

E nem aí passou a olhar para a música como profissão?

Não. Só comecei a pensar isso quando gravei o meu primeiro disco, em 1966. Nessa altura achei que tinha de me assumir como profissional e isso significava usufruir do meu trabalho. Depois da Amália cheguei a ser o maior vendedor de discos do país. Foi a partir daí que percebi que podia governar a minha casa com a minha voz.

Mas o que aconteceu a seguir a ir à televisão?

Andei na Corina Freire a aprender a cantar com um instrumento, o piano. Até então ninguém me tinha ensinado a cantar, era uma coisa natural para mim. Cantava em bailes com alguns conjuntos musicais do Barreiro. E por isso sentia que precisava de escola. Nunca ninguém me ensinou a cantar. Dão-me uma canção e eu faço o resto. Bastava-me a voz que deus me deu. Mas gostava de ter sido autor das minhas próprias canções, mas nunca consegui. Sou só o intérprete do que os outros escrevem, sou o veículo das emoções dos outros. Nada daquilo que canto tem a ver comigo.

Curiosamente o que canta e cantou a vida toda contribuiu para que fosse feito um retrato de si como sendo o cantor romântico e portanto o homem que vivia grandes histórias de amor.

Pois… Ainda por cima eu era um rapaz muito bonito e sorridente, todas as raparigas e senhoras ficavam encantadas comigo. E depois cantava aquelas coisas. As pessoas reagiam. Mas pessoalmente eram mais recatadas, era mais por carta, as pessoas apaixonavam-se muito. Escreveram-me muitas declarações de amor, coisas incríveis como que nunca casaram porque eu também nunca tinha casado.

Nunca aproveitou de tudo isso?

Comecei muito novo a ser muito famoso, a ter muita popularidade, passava meses em aviões de um lado para o outro e a cantar todos os dias, andava sempre absorvido pela minha música. Não me apercebia de mais nada, não me apercebia se as pessoas estavam apaixonadas por mim, eu queria era cantar. E pensava muito no futuro. Pensava naquilo que ouvi sempre em casa dos meus pais: a música não é futuro, a música não dá de comer às pessoas. Passei anos a pensar como tinha de contrariar tudo isso e portanto o amor passou-me ao lado.

Está arrependido?

Não, não estou. Fiz o que a vida me proporcionou. Se calhar podia ter tido dois ou três filhos, se as coisas se tivessem proporcionado, teria. Mas a vida deu-me outras oportunidades. Deu-me o meu afilhado, por exemplo, o Marco António, que hoje tem 25 anos, e por quem tenho uma paixão como se fosse meu filho. Os meus compadres trabalham em minha casa há muitos anos.

Mas nunca se sente sozinho?

Nunca. Tenho sempre muita gente à minha volta. Mas não sou muito um homem de tertúlias, sou um homem muito recolhido no meu mundo, na minha casa, na minha música, nos meus amigos. Os mais íntimos. Neste momento da minha vida só sinto falta da minha mãe e do meu pai.

Lá estão outra vez os olhos brilhantes.

Pois… Sempre gostei muito dos dois, mas com a minha mãe tive sempre uma cumplicidade diferente. Mas sei que ela está feliz por mim. E sempre que quero que uma coisa corra bem, é a ela que peço. Ainda agora, antes do Coliseu de Lisboa pedi-lhe para conseguir aguentar o concerto todo, ainda por cima porque era em Lisboa, uma cidade onde nunca canto. Cantei duas horas e meia.

Nunca escondeu que é muito religioso.

Não vou todos os dias à missa, não sou fanático. Tenho a minha devoção, uma devoção discreta.

Essa devoção ajudou-o a lidar com a morte da sua mãe?

Custou-me muito a lidar com a morte da minha mãe. A do meu pai já estava mais à espera. A da minha mãe, apesar de ter estado dois meses doente, foi mais inesperada. O que sempre pedi foi para que a minha mãe não morresse na véspera de um concerto meu. Morreu no dia a seguir a um concerto. Cheguei a casa e tinha uma mensagem a dizer que tinha morrido. Não há palavras que descrevam o que senti. A minha mãe, no hospital, antes de morrer, só reconhecia a minha mão. Eu tocava-lhe e ela dizia “é o meu filho”. Senti-me órfão. Precisei de muito tempo para aceitar a morte da minha mãe. Curiosamente, no campo da religião, lá em casa houve sempre muitas diferenças: a minha irmã era testemunha de Jeová, os meus pais eram protestantes… Por isto nunca se falava de religião, mas eu sabia que os meus pais embirravam com as minhas imagens de Nossa Senhora de Fátima. Mas isto para dizer que sou devoto da Nossa Senhora e curiosamente até acho que tem a ver com o facto de, quando tive um acidente quando estava na tropa, a primeira coisa que a minha mãe fez foi levar-me a Fátima.

Voltemos um pouco atrás. Em 1966, quando lança o primeiro EP, é quando nasce o Marco Paulo e desaparece o João Simão, seu nome original.

Quando fui para a Valentim de Carvalho, depois de ter sido levado à televisão pela Cidália Meireles, acharam que João Simão não era um nome artístico, não era um nome para constar na capa de um disco, não era um nome comercial. Havia a Amália, a Simone – com quem aliás gravei o meu primeiro dueto, só nomes sonantes e o meu não era. Precisava de outro nome. E eu tive de entender que tinha uma grande oportunidade e que a devia agarrar. Na verdade acho que tudo me aconteceu no momento certo, até quando fui apresentador de televisão. Fiz dois programas na RTP, ambos de grande audiência, e quando terminei, fiquei doente. Até a minha doença aconteceu no momento certo, num momento em que dividiu a minha vida. Há o antes e o depois da doença. A doença deu-me a possibilidade de saber que a vida não era só aquilo que eu imaginava que era: viajar todos os dias, cantar todos os dias.

Lembra-se do momento em que soube que estava doente?

Lembro-me. Não acreditei. A notícia nem foi dada a mim, mas ao meu compadre. Disse-me que tínhamos de ir a casa buscar roupa porque eu precisava de ser operado no dia seguinte porque tinha cancro. E eu respondi “como é que é possível se eu vim ontem do Algarve e estava tão bem disposto?”. Ele quase a chorar e eu não acreditava.

No passado disse que, quando o jornal “Tal & Qual” fez a manchete a dizer que tinha cancro tinha ficado muito magoado. O que o magoou foi o facto de ver a sua vida exposta ou foi o facto de assim trair a ideia que as pessoas tinham que o Marco Paulo não era frágil, não tinha doenças?

Durante muito tempo as pessoas achavam que o Marco Paulo não podia estar constipado, partir um braço… E portanto eu achava que, na altura própria e com dignidade, é que devia dizer às pessoas que estava doente. Não queria aparecer com o ar do doentinho, sem cabelo, às portas da morte, como apareci na capa do jornal. As pessoas que se preocupavam comigo e que todos os dias se dirigiam à porta do hospital para me deixarem flores não mereciam ver-me assim.

Recebeu muitas flores de fãs?

A capela do hospital nunca tinha flores. Até eu lá estar. Porque todas as flores que me enviavam eu pedia para porem na capela.

O que pensava durante esse período?

Pensei sempre que saía daquela. Mesmo quando me apresentavam exames que eram mesmo muito maus. E lembro-me de ver a ponte 25 de abril da janela do meu quarto e pensar que ainda ia voltar a atravessar aquela ponte. Fui operado duas vezes. Um dia, o médico que tratou de mim, o Dr. Alves da Cunha, chegou-se à beira da minha cama, na CUF, com lágrimas dos olhos, eu todo entubado, e disse-me: “vencemos a batalha”. Já lá vão 20 anos.

Teve medo de perder a voz?

Isso tenho sempre, todos os dias.

Foi sempre um homem que ligou muito à sua imagem. Como foi lidar com a sua imagem sem cabelo, inchado dos tratamentos?

Chocou-me muito. Muito. Não aguentava o que via.

Ainda por cima os seus caracóis foram durante anos uma imagem de marca.

Sim, e marcaram gerações. Havia pessoas que iam ao cabeleiro pedir que lhes fizessem caracóis iguais aos meus. Mas mesmo que não tivesse tido o cancro, já não usaria o cabelo da mesma maneira.

A sua outra imagem de marca é a mudança de microfone. Nunca o deixou cair?

Várias vezes. Uma vez foi no Brasil, estava no programa do Flávio Cavalcanti, na Globo, para apresentar o meu álbum, era um programa em direto e eu estava a cantar em playback total. O microfone caiu-me no chão e a minha voz continuava no ar. Felizmente o apresentador pôs a capa do álbum em frente da câmara para que as pessoas não percebessem o que se tinha passado. Mas as pessoas iam muitas vezes ver-me à espera que eu deixasse cair o microfone. E para me puxarem os cabelos, para ver se era um postiço.

Já gosta um pouco mais do “Dois Amores”?

Reconheço que é um grande sucesso meu. Hoje em dia gosto mais do que gostava. Mas nunca achei muita piada à letra, achava repetitiva e ainda por cima as pessoas levavam sempre a letra para um homem ter duas mulheres ou uma mulher ter dois homens. Mas foi uma música que me levou aos quatro cantos do mundo. Toda a gente queria ver o Marco Paulo dos dois amores. Mas eu tenho tantas outras, grandes, músicas.

Outra coisa que o irritava neste tema era o facto de ele, de alguma forma, ser o hino de um título que lhe foi dado e do qual sempre disse não gostar: o ser o cantor das sopeiras?

Quando se alcança uma popularidade tão grande como eu alcancei, com o esforço do meu trabalho e com a ajuda das pessoas que trabalhavam comigo, quando havia gente que comprava discos meus mesmo sem ter gira-discos, há uma certa elite que não concorda com isso. E diziam que as minhas músicas não tinham conteúdo. Mas para o público, tinham. Se pensarmos bem o Roberto Carlos e o Julio Iglesias também são cantores de sopeiras. Isto chateava-me muito. Hoje já não me afeta. Quero é continuar a gravar e a fazer espetáculos. E quando chegar a altura de me retirar saber fazê-lo com dignidade.

Pensa muito no momento do fechar da cortina?

Se não tivesse acontecido ter agora a oportunidade de festejar, como estou a festejar, esta data dos 50 anos, seria diferente. Não sei se me vai custar, mas terei saudades. Mas ainda não estou a pensar nisso.