Portugal enfrenta ameaça viking no arranque do Euro

A Seleção nacional dá o pontapé de saída no Europeu contra a Islândia, o carrasco da Holanda na fase de qualificação. Altos, fortes a defender e nada toscos no ataque, os islandeses querem voltar a surpreender, mas só Ronaldo vale quase o triplo de toda a equipa.

É o país mais pequeno de sempre a marcar presença numa fase final de um Campeonato da Europa. Com o fato de padrinho vestido, numa estreia improvável nos relvados franceses, que servirão de palco ao Euro-2016, Portugal tem motivos para sorrir (Ter., 20h, SportTV 1). Já lá chegamos.

 Localizada entre a Europa continental e a Gronelândia, a Islândia tem apenas 320 mil habitantes (Lisboa tem 547 mil), recusou recentemente aderir à União Europeia e tem o índice de felicidade mais elevado da Europa – a taxa de suicídios regista apenas um caso por ano.

A grave crise económica que em 2008 afetou a terra do gelo, famosa pela herança viking, já faz parte do passado e o que agora está a dar é o futebol, o maior sinónimo de alegria para os nórdicos. À 23.ª tentativa, a Islândia conseguiu chegar pela porta grande a uma grande competição. A mesma que há dois anos, no Mundial do Brasil, se fechou por pouco no playoff frente à Croácia (2-0).

Apesar da frustração pela eliminação à beira do apuramento, o feito era impensável até há bem pouco tempo, uma vez que os adeptos nórdicos sempre foram mais apreciadores do andebol – a base de recrutamento era bastante reduzida e só havia 20 mil jogadores federados.

Era tempo de chutar o paradigma para canto e seguiu-se uma autêntica revolução: a Federação Islandesa de Futebol achou que era tempo de dar o passo em frente e investiu no futebol. A chegada do experiente selecionador Lars Lagerback, que tinha levado a Suécia a cinco fases finais consecutivas, resultou no virar de página. Para melhor, claro.

O estreante que afastou a laranja mecânica

A Islândia chega a França depois de quebrar o gelo no Grupo A, onde surpreendeu tudo e todos ao qualificar-se no segundo lugar, apenas atrás da Rep. Checa. Pelo meio, eliminou a Holanda com duas vitórias e sofreu apenas seis golos, apresentando-se como uma das melhores defesas em prova.

Altos, nem todos loiros e nada toscos, os pupilos de Lagerback apresentam uma defesa sólida, são concentrados, têm espírito de sacrifício e bastante móveis no ataque. Gylfi Sigurdsson, médio do Swansea), é a figura da equipa. Perfila-se como um box-to-box à antiga e revela uma leitura de jogo acima da média. É pelos pés dele que passa todo o jogo da Islândia.

E ainda há o veterano Eidur Gudjohnsen, o mais internacional de todos (84), que depois de ter brilhado no Chelsea (2000-06) e Barcelona (2006-09) também se estreia (finalmente) nestas andanças. Foi convocado aos 37 anos.

História joga a favor de Portugal

A Seleção Nacional arranca para a sétima participação em fases finais com motivos para sorrir. Fernando Santos encheu o peito de ar e afirmou sem receio a ambição de vencer o Euro-2016 e, pelo menos numa fase inicial, a estatística está do lado do selecionador.

Não só a equipa das quinas passou sempre a fase de grupos nas últimas seis edições, como também não tem motivos de queixa do primeiro adversário no Grupo F – Áustria (18 de junho e Hungria (22) completam o trio de adversários.

Islândia e Portugal mediram forças apenas em duas ocasiões, durante a qualificação para o Euro-2012, com a vitória a cair sempre para o lado dos portugueses: 3-1 em Reiquiavique e 5-2 no Porto. Muito por culpa da diferença abismal de valores entre as duas seleções. O desnível é tal, mesmo nos tempos que correm, que Ronaldo chega a ter quase o triplo do valor de mercado de todos os islandeses (ver infografia), segundo o site especializado Transfermarkt.

Nada que assuste o selecionador islandês. «Temos três jogos e todos sabemos que o primeiro é muito importante, mas também não será uma catástrofe se perdermos com Portugal», explicou Lars Lagerback.

 A estatística até parece estar do lado de Ronaldo, Quaresma e companhia, mas não as casas de apostas, 27 no total, que colocam a Seleção Nacional atrás de França, Alemanha, Espanha, Inglaterra, Bélgica e Itália na luta pelo título europeu.

O banco de investimento Goldman Sachs, por exemplo, concorda que a equipa das quinas vença sem dificuldade o Grupo F (92% de probabilidades), mas não considera provável a presença na final em Paris (16,5%).

Ainda assim, Fernando Santos, à partida para França, recusou-se a mudar o discurso: «Vamos com a convicção firme que poderemos chegar à final e vencer». O futuro o dirá.