Meu caro Cristiano Ronaldo,
Espero que a presente missiva pública te encontre – bem como a todos os demais jogadores da nossa Seleção – no zénite da sua motivação e vontade para humilhar simpaticamente a Hungria na próxima quarta-feira. Nós, por cá, nada de novo – às primeiras dificuldades (os empates inesperados diante da Islândia e da Áustria), inicia-se o longo e aborrecido espetáculo mediático nacional de aferir quem é o mais culpado pelas não vitórias nos jogos iniciais.
Será Fernando Santos, porque trabalhou demasiado um único esquema tático e convocou o Éder? Será Éder, que não marca três golos nos três minutos que joga, pese embora os comentadores franceses (basta ler o L’ Équipe) manifestarem a sua indignação pelo facto de o único ponta de lança da nossa equipa não jogar os noventa minutos, atendendo ao seu desempenho no Lille? Será de Ricardo Quaresma, que, afinal, não replicou o jogo que efetuara frente à Estónia, no Estádio da Luz? Será da Nike, cujos equipamentos não dão aos jogadores nacionais a tão desejada irrequietude e inspiração?
Será dos quartos de Marcousis, que, afinal, não são tão acolhedores? Ou será de Jorge Mendes, que segundo o nosso bem conhecido Rui Santos (que vive dias complicados na SIC, devido aos péssimos resultados de audiências que o seu programa tem obtido, atingindo o mínimo histórico na última terça-feira, estando o diretor Ricardo Costa a ponderar a suspensão do programa na próxima grelha da SIC Notícias), manda na equipa nacional?
Bom, formulam-se várias questões e ainda mais teorias da conspiração. Mas, meu caro Cristiano, certamente já terás adivinhado a resposta quanto à responsabilidade dos nossos dois empates: o culpado, meu caro, és tu. Sempre que Portugal não ganha, a culpa é exclusivamente de Cristiano Ronaldo. Se a bola não entra, a culpa é do teu penteado. Se a bola vai ao poste, convoca-se um psicólogo, especialista em linguagem corporal, para explicar os sinais do teu rosto antes da conversão da grande penalidade.
E esse psicólogo lá nos explica que as tuas linhas faciais tensas mostram um Cristiano Ronaldo em guerra psicológica interior. A tua cara mostra –segundo este nosso ilustre especialista – que não estás bem contigo mesmo…algo te preocupa. E lá se convoca – aquela estação de televisão que tu bem conheces – o “polícia da moda” para nos explicar que, afinal, a culpa de teres mandado a bola ao poste é da loira ou da morena. Em Ibiza, foram demasiadas curvas para o teu Ferrari (estamos a citar!) …
É sempre o mesmo filme, Cristiano. Quando ganhamos, ganhamos todos. Quando perdemos, a culpa é tua. Não há como fugir a esta realidade – e logo as redes sociais se incendeiam (as brigadas facebookianas da indignação não perdoam, nem perdem tempo!) em proclamações anti- Cristiano Ronaldo. Até dizem que o melhor jogador já não és tu: Messi é que é o melhor! Messi é Deus na Terra – tu, Cristiano Ronaldo, és pior que Mefistófeles! És uma egoísta vaidoso, que só pensas em ti mesmo e nunca na equipa…E até preferes os espanhóis do Real Madrid – do que a Seleção do teu país. Dizem que tu não gostas de Portugal. Não sentes a camisola nacional! A camisola da nossa Pátria.
Enfim, meu caro Cristiano Ronaldo, se me permites um modesto conselho, não ligues, nem dês importância – aqueles que hoje te criticam severamente, serão os mesmos que, na quarta-feira e nos próximos jogos até dia 10 de julho, vibrarão e te aplaudirão pelos golos incríveis e decisivos que irás apontar. Aqueles que hoje te crucificam – serão os mesmo que te glorificarão de quarta-feira em diante. Tu e eu já conhecemos este filme – já se passou no último Europeu, em 2012.
De facto, como tu próprio reconheceste, os primeiros dois jogos não te correram de feição (aqueles contra a Alemanha e contra a Dinamarca!). Depois, no terceiro jogo decisivo contra a Holanda, lá resolveste dar dois pontapés certeiros na baliza holandesa, levando-nos para uma participação de excelência no Europeu desse ano. Cristiano Ronaldo, não te preocupes: é aquilo que nós designamos como a “lei da miséria do poder”. É a hipocrisia e a inveja com que os génios têm de lidar. E tu, Cristiano Ronaldo, és um génio.
Quando estás em cima, és o maior e todos querem ser os teus maiores defensores; quando estás mais em baixo, todos (os mesmos!) te criticam duramente e lançam suspeitas sobre o teu caráter, sobre o teu profissionalismo e até sobre o teu patriotismo.
Dizem que tu não honras a camisola. Pois bem, convém perguntar quantos jogadores se disponibilizariam para jogar pela nossa equipa mesmo estando lesionado e em visível sofrimento (com tu fizeste no Brasil e mesmo no Euro 2012) ou que, não obstante todos os jogos que fazes por época, nunca se recusasse em participar nos jogos de Portugal. Muitos dirão que apenas cumpres o teu dever. Deixa-me, no entanto, recordar que aqueles que lançam suspeitas sobre teu caráter e patriotismo – são os mesmos que julgaram normal que Luís Figo (julgamos que em 2005) fizesse um intervalo na Seleção, voltando depois para jogar a fase final do Mundial.
Achou-se normal que um jogador fizesse um intervalo, um descansozinho da sua participação nos jogos de Portugal. Luís Figo foi um excelente jogador, que nós admirámos – mas esta atitude não lhe ficou nada bem, Desconsiderou-o como jogador e como profissional, na nossa ótica. Mas hoje, Cristiano, Luís Figo é o melhor – e tu és o pior…
Enfim, meu caro Cristiano, tu e eu concordamos em reconhecer que os dois primeiros jogos deste Euro não te correram de feição. Nem a ti, nem a Portugal. Mas já pertencem ao passado: tu e eu sabemos quem será a vítima da bola que foi ao poste no jogo de sábado passado – será a baliza da Hungria. Eu e tu sabemos que, no mínimo, na quarta-feira, iremos festejar dois golos teus. Tu és um vencedor nato – não te conformas com a derrota. E sabes que Portugal só depende de si para ganhar o grupo. E se ganharmos o grupo, o que importa se Portugal empatou nos dois primeiros jogos? Na próxima fase, será uma história completamente diferente.
Será uma nova História. Uma História que tu e os teus colegas de equipa escreverão com glória, talento e dedicação. Aconteça o que acontecer, se Portugal hoje tem ambições elevados e não se conforma com “vitórias morais”, se Portugal hoje tem cultura de vitória – muito se deve a ti, Cristiano Ronaldo.
E, por conseguinte, nós, portugueses, não podemos ter memória curta: serás sempre um dos nossos melhores. Serás sempre um ídolo para os portugueses. Um exemplo para as nossas crianças, para os nossos jovens, para todos nós. Tu, Cristiano Ronaldo, mostras (como tantos outros em outros domínios) que ser português não é impeditivo de triunfarmos à escala universal. Pelo contrário: por sermos portugueses, podemos triunfar em qualquer latitude e longitude. E também por seres português, o mundo te critique tanto e diga que és pior que Messi: ingleses, franceses, holandeses não percebem como pode um português ser muito melhor que eles. Enfim, não conseguem compreender a verdade das coisas…
Nós, por cá, Cristiano Ronaldo, não temos qualquer dúvida: tu és o melhor. O melhor do mundo. O melhor das últimas décadas. O melhor de todos os jogadores portugueses, só acompanhado pelo “rei” Eusébio. Tu cresceste pelo teu mérito, pelo teu talento, pelo teu trabalho, pelo profissionalismo. Ao contrário de alguns comentadores que hoje te acusam de seres apenas um empresário, um ator de Hollywood ou um vendedor de sapatos (que tiveram a ida facilitada pelos conhecimentos que tinham e só isso explica que tenham chegado ao horário nobre da televisão) – tu, desde miúdo, trabalhas para atingir a meta que definiste. E colocaste a meta bem alto – e atingiste-a, Só falta mesmo partilhares a tua glória com Portugal – falta o título na Seleção para calar tudo e todos.
E tu, com os teus colegas, vais conseguir. Na quarta-feira, vais entrar em campo e responderás, com classe e brilho, aos teus críticos – vais mostrar com, pelo menos, dois presentes (leia-se golos magníficos), que esses críticos não têm razão e tu és o melhor. De todos. E, Cristiano Ronaldo, tu vais ser eleito, no dia 11 de Julho, o melhor jogador do Euro 2016. Vai uma aposta?
Força, Cristiano Ronaldo! Força Portugal!