“Qualquer perturbação externa, como o ‘Brexit’, pode ter efeitos muito negativos sobre a capacidade de financiamento de Portugal”, diz Passos Coelho ao SOL. O ex-primeiro-ministro adianta que essa possibilidade é agravada pelo facto de este Governo ter “vindo a vulnerabilizar a posição externa” do nosso país. E vai mais longe: “Se não fosse o BCE, Portugal poderia enfrentar uma situação extremamente difícil”.
Desejando que um ‘Brexit’ não aconteça, Passos considera que “teria consequências a médio prazo difíceis de antecipar mas muito negativas para todos”. Mas mesmo no caso de um resultado positivo, o líder do PSD entende que será preciso fazer qualquer coisa na Europa: “Qualquer que seja o desfecho do referendo, a UE será obrigada a reforçar o compromisso europeu para atrair confiança”.
Os discursos do PSD e do PS aproximam-se neste ponto. A eurodeputada Ana Gomes defende que, “quer vença quer perca” a permanência do Reino Unido na UE, a resposta tem de passar por “mais e melhor Europa”. A socialista – que amanhã estará na Grã-Bretanha em campanha pelo ‘sim’ à UE – defende mudanças na orgânica das instituições europeias, no sentido de se “aprofundar a união política” com a criação de um senado onde “os Estados estejam em igualdade”.
Mesmo que o país continue na UE, uma coisa é certa: “Já perdemos todos”, diz Marisa Matias, referindo-se às concessões já feitas a Londres no que toca à livre circulação de pessoas e direitos laborais – o preço a pagar para a Europa agarrar um dos seus. A saída não levará ao fim da UE, mas terá consequências imediatas. Desde logo, “uma maior concentração de poder na Alemanha”, considera a eurodeputada do BE.
As concessões já feitas a Londres levam o PCP a falar em “pressão e chantagem” sobre os britânicos. “A melhor forma de defender os direitos do povo e dos trabalhadores britânicos é respeitar a sua vontade soberana de decidir o que quer para o futuro”, diz a deputada Paula Santos.
De uma coisa o ex-embaixador Francisco Seixas da Costa está convencido: “A saída significa um recuo em relação ao sentido natural de evolução da UE”. As consequências políticas são ainda imprevisíveis, mas admite que essa opção possa “fazer com que certos países da União criem um núcleo duro”, deixando os países periféricos – como Portugal – mais afastados dos centros de decisão política.
Um divórcio do Reino Unido com a UE também é visto como uma solução negativa pelo CDS: “É mau para Portugal porque o projeto europeu fica enfraquecido e trará desvantagens sérias para o nosso país. Para a União Europeia é uma machadada forte, mas também é muito mau para o Reino Unido, que perderá força do ponto de vista económico, político e social”, diz o líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães.