O Brexit não é uma tragédia, é um passo atrás

Há uma lição que todos devemos tirar: o ‘Brexit’ é, em grande medida, a vitória do medo e do preconceito

Sair é sair. Nos anos 90, quando foi construído o túnel da Mancha, os britânicos faziam humor dizendo que a Europa deixara de estar isolada. Agora, depois de terem votado pela saída da União Europeia, bem podemos devolver a ironia: é o Reino Unido que vai ficar isolado e quem talvez tenha mais a perder no curto prazo (veja-se a queda da libra para valores de 1985 e os movimentos independentistas da Escócia e da Irlanda do Norte, que já estão a reclamar, precisamente porque querem e votaram para ficar na UE). Mas não é nenhuma tragédia. É um passo atrás no processo de integração europeia, que tem conhecido avanços e recuos ao longo das últimas seis décadas, como é normal em qualquer processo de união política quando visto numa perspetiva histórica.

Claro que vai ser muito duro, e para ambas as partes. Portugal já começou a sofrer os efeitos, com a queda vertiginosa da Bolsa e o aumento em flecha dos juros da dívida. Mas a História dos povos é feita assim, de passos atrás e passos em frente. Não vamos deixar de poder ir ao Reino Unido nem de exportar para lá, ainda que com mais dificuldades, da mesma forma que os turistas britânicos não deixarão de andar pela Europa e, em particular, por Portugal, ainda que com menos facilidade. Haverá mais regras, a prazo não poderemos certamente continuar a fazer de Londres um destino privilegiado de emigração, cortar-se-ão caminhos, mas é assim mesmo. Outros se abrirão. O Reino Unido não deixa, com isto, de fazer parte da Europa.

Finalmente, há uma lição que todos devemos tirar: o ‘Brexit’ é, em grande medida, a vitória do medo e do preconceito. Talvez sirva para acordar algumas cabeças bem pensantes e diletantes, que até pareciam torcer por este resultado como vingança  contra os principais líderes europeus. E talvez sirva, sobretudo, para fazer ver aos jovens – que já nasceram em liberdade e com a livre circulação como dados adquiridos – que têm de envolver-se mais na discussão política, incluindo votar e não absterem-se, se querem preservar aquilo que a Europa conquistou nos últimos 60 anos. Talvez assim consigamos conter as forças extremistas que pululam na Europa e que receberam este resultado como um novo fôlego.