As lições de Cristiano Ronaldo a Messi (e de Portugal à França)

Ainda que a UEFA não o declare formalmente como tal (por razões essencialmente extra-futebolísticas), Cristiano Ronaldo já evidenciou ser o jogador mais completo na conjuntura actual e, porventura, da história do futebol.

Há dias (após o embate de Portugal contra a Áustria e antes do embate contra a Hungria) escrevemos aqui no SOL que Cristiano Ronaldo iria ser o melhor jogador do EURO 2016 – e Portugal se tornaria campeão europeu ou, no pior cenário imaginável, finalista. Volvidas já três semanas de competição – e atingida a fase das meias-finais -, cumpre avaliar a correcção do que prevíramos. Ainda que seja um balanço meramente provisório, carecendo de confirmação no próximo dia 10 de Julho.

O que podemos, então, desde já concluir? Afinal, Cristiano Ronaldo vai mesmo ser o melhor jogador do EURO 2016. Ainda que a UEFA não o declare formalmente como tal (por razões essencialmente extra-futebolísticas), Cristiano Ronaldo já evidenciou ser o jogador mais completo na conjuntura actual e, porventura, da história do futebol. Quanto ao juízo da História, esse será feito um dia, com frieza e imparcialidade pelos estudiosos – o juízo que nos compete efectuar é um juízo de actualidade. E essa é inequívoca: Cristiano Ronaldo goleia Lionel Messi.

Lionel Messi é um jogador de elevado nível? Sem dúvida. Mas sobra-lhe em génio o que lhe falta em capacidade de liderança, de humildade, de abnegação e de espírito de sacrifício e trabalho. Para além de que Messi, analisado somente como jogador, revela limitações tácticas e pouca capacidade de adaptação à equipa. De facto, a equipa adapta-se sempre a Messi – nunca Messi se adapta à equipa. Nunca se prejudica em prol do colectivo. Para o argentino, as vitórias são essencialmente vitórias individuais – nunca do colectivo.

Por conseguinte, Messi, aos vinte e nove anos, decidiu renunciar à sua participação na equipa nacional de futebol da Argentina apenas…porque ele tentou tudo, chegou a várias finais – mas não obteve qualquer vitória. É uma birra digna de uma criança de cinco anos aos vinte e nove anos, depois de já ter ganho milhões de euros. Foi um regresso à infância de Messi – que só revela falta de personalidade e incapacidade de superação. Ou seja: precisamente o contrário do que tem evidenciado Cristiano Ronaldo no Europeu.

Nós sabemos que Cristiano Ronaldo tem reservado para os portugueses agradáveis surpresas para os jogos de quarta-feira e de domingo (na final, teremos um Cristiano Ronaldo que irá, uma vez mais, encantar a europa e o mundo do futebol!) – o que fará esquecer as críticas que (mais uma vez) surgiram quanto ao seu desempenho. Sucedeu, no entanto, o que antecipáramos: após o jogo com a Hungria em que Cristiano Ronaldo marcou dois golos (e o melhor golo do Euro) virou Deus; nos jogos com a Croácia e a Polónia, virou diabo. Porque não marcou golos…

Ora, se há jogador que tem sido fundamental para a Selecção neste campeonato da europa, esse tem sido Cristiano Ronaldo. Pela capacidade de motivação e de galvanização dos seus colegas de equipa, pelo exemplo de sacrifício em prol do colectivo e da ideia de jogo de Fernando Santos, pelo posicionamento táctico (em muitos momentos de jogo , surgindo em posições que lhe são habitualmente estranhas), pela liderança que exerce com crença (e fé) no talento e competências dos seus colegas. E até pelos lances defensivos muito importantes para Portugal que tem protagonizado. Um grande Renato Sanches só pôde surgir num ambiente pacificado, de união e entreajuda como o que os nossos jogadores vivem em Marcoussi. E isso também é trabalho de capitão de equipa. Do nosso capitão de equipa.

Hoje, podemos até dizer que Cristiano Ronaldo é um exímio marcador de golos, um jogador explosivo capaz de arruinar as defesas adversárias, um tecnicista nato – para além de um jogador com elevado rigor táctico, com leitura de jogo e do jogo, dando também solidez defensiva à equipa. Cristiano Ronaldo pode aparecer menos ; mas dá mais a Portugal. Pode haver menos Cristiano Ronaldo no jogo; mas há mais Portugal. Cristiano Ronaldo (não negando a sua ambição de títulos pessoais) percebe que nada é mais relevante do que o título de Portugal. Da equipa de todos nós.  Cristiano Ronaldo – pela grandeza de espírito e de personalidade que tem revelado, que soma ao grande jogador que todos já conhecemos – vai ser o jogador do EURO 2016. Na final, com o golo épico que irá marcar, todas as dúvidas serão dissipadas. Esperemos que Lionel Messi possa assistir, no conforto do seu sofá, à lição de futebol (e não de bola!) que Portugal dará – e ao hino ao futebol que Cristiano Ronaldo executará.

Uma última nota para elogiar a inteligência, o rigor quase matemático e a frieza emocional dos nossos jogadores. Graças ao espírito de união, de amizade e de solidariedade partilhado por todos os jogadores da nossa Selecção, Portugal é, hoje, quase imbatível. Só mesmo uma grande Alemanha (que será muito provavelmente o nosso adversário na final) ou uma França sublime terão a capacidade para levar de vencido este Portugal resiliente, confiante, de inteligência táctica e estratégica, de uma alma gigante.

Mérito (muito) de Fernando Santos. Um líder que impõe a autoridade, rejeitando a autoridadezinha; um líder que é próximo, sem ser íntimo; um líder que defende os seus jogadores, sem ser conivente com atitudes pouco profissionais e ainda menos éticas. Ao contrário do que acontece em outras equipas (França, por exemplo), não há quezílias entre treinador e jogadores, nem entre jogadores, no seio da nossa Selecção.

Por todas estas razões, estamos com a jornalista Sónia Carneiro (tão bem defendeu as nossas cores!), no jornal francês “Le Point”: Portugal não merece estar nas meias-finais; merece estar na Final. Ou melhor ainda…

Vamos chegar a esse “melhor ainda”, Sónia! E um cumprimento muito caloroso aos nossos emigrantes em França, que mais uma vez provam que são um activo valiosíssimo de Portugal! São simplesmente fantásticos…