Os tratamentos de fertilidade são um processo muitas vezes associado a um estado de grande ansiedade e angústia, face à incerteza, repetição de ciclos e demora dos resultados. Um estudo divulgado hoje faz a projeção mais robusta até à data do que podem esperar os casais que recorrem a ajuda médica para tentar realizar o desejo de ser pais. Sara Malchau, autora da investigação, salienta que, com este trabalho, finalmente podem ter respostas mais robustas a duas questões essenciais: quais as hipóteses de terem um bebé e quando.
Os investigadores analisaram os registos de 20 mil mulheres que passaram por tratamentos na Dinamarca entre 2007 e 2010, a maior base alguma vez analisada com este propósito.
Concluem que, ao fim de cinco anos, três em cada quatro mulheres conseguiram ser mães e metade (57%) cumpriu esse desejo logo passados dois anos. A grande maioria dos nascimentos resultaram dos tratamentos de fertilidade mas 14% das mulheres engravidaram naturalmente, um fenómeno que tem sido associado ao facto de, perante um diagnóstico de algum problema de fertilidade, diminuir a pressão para engravidar espontaneamente.
O trabalho foi divulgado hoje no encontro da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, que decorre em Helsínquia. Os autores salientam, em comunicado, que a Dinamarca é um dos poucos países do mundo onde este tipo de investigação pode ser conduzido, uma vez que os registos de nascimento podem ser associados ao historial de tratamentos de fertilidade.
Das mulheres que foram mães ao fim de dois anos, 46% fez fertilização in vitro como primeiro tratamento e 34% inseminação intrauterina (IIU).
“A partir de agora podemos dar aos casais um prognóstico fiável e em função da idade logo ao início do tratamento”, disse Sara Malchau, da Universidade de Copenhaga.
O estudo demonstra que a idade é um dos principais fatores de sucesso dos tratamentos. Ao fim de cinco anos, 80% das mulheres com menos de 35 anos conseguem ser mães mas apenas 60,5% das que têm entre 35 e 40 anos e só um quarto das que têm mais de 40 anos.
Quando a altura importa
Esta não é a única novidade do encontro, que decorre até quarta-feira e junta centenas de especialistas, entre os quais médicos e investigadores portugueses. Um dos trabalhos realizados em Portugal que vai ser apresentado no encontro prende-se com a transferência dupla de embriões: quando são implantados dois embriões e há maior probabilidade de uma gravidez de gémeos.
Uma equipa da Maternidade Alfredo da Costa analisou a influência da altura da mãe nos resultados obstétricos e concluiu que, quando se desenvolve uma gravidez de gémeos após a transferência dupla, as mulheres com mais de 1,65 metros de altura e os seus bebés têm melhor prognóstico. O risco de trabalho de parto precoce é menor e os bebés nascem com um pouco mais tempo de gestação e mais peso. Há ainda um risco menor de recém-nascidos de muito baixo peso (<1500 gramas). Os autores concluem por isso que possivelmente a altura das mulheres deve ser tida em conta na decisão de se avançar para transferência dupla nos tratamentos de maternidade assistida.