Se conduzir não beba, diz o slogan que entrou há muito no ouvido dos portugueses. E se quiser um bela foto do pôr-do-sol, não se aproxime demasiado de uma falésia. A mesma regra se aplica caso vá pescar ou, simplesmente, caminhar à beira mar. E caso sinta vontade de se aproximar “só mais um bocadinho”, não o faça. Os acidentes acontecem e o que parece ser um inócuo passeio pode acabar em tragédia. Desde o início de 2014, a Autoridade Marítima Nacional (AMN) já resgatou 105 pessoas das bermas das arribas nacionais.
Em 2014, as autoridades efetuaram 31 resgates. O número aumentou exponencialmente em 2015, com as entidades responsáveis a contabilizarem 53 situações. E até 23 de junho deste ano, as Polícias Marítimas, responsáveis por acautelar este tipo de situação, já foram chamadas a intervir 21 vezes.
Segundos dados enviados ao i, nem todos os resgates tiveram um final feliz – 22 pessoas foram resgatadas já sem vida. Neste caso, as autoridades julgam que se tratou, de forma geral, de tentativas consumadas de suicídio. Mas houve também acidentes fatais: no ano passado, seis pessoas morreram por “queda inadvertida de terra”. Este ano já houve duas mortes provocadas igualmente pela queda inesperada de arribas. “Os cidadãos não devem aproximar–se da berma das arribas pois, por norma, estes locais são bastantes instáveis e a probabilidade de resvalamento é muito grande, tornando imprevisível esta situação”, alerta a autoridade. Há ainda uma pessoa desaparecida, após queda numa falésia, desde o ano passado.
Ainda assim, muitas pessoas continuam a não cumprir as regras de segurança. Segundo a entidade, as pessoas que mais arriscam são os pescadores lúdicos. “Escolham locais para a atividade da pesca em que não coloquem a própria vida em risco ao aproximarem–se demasiado da berma das arribas”, pede a AMN. Para além disso, as autoridades recordam que é perigoso pescar sozinho e “em locais de difícil acesso e expostos ao mar”.
Ver o mar Pedidos das autoridades à parte, a verdade é que os alertas continuam a chegar. O mais recente aconteceu a 22 de junho, quando a Polícia Marítima de Portimão foi chamada a resgatar um jovem de 22 anos na praia da Falésia Açoteias, em Albufeira.
O pedido de ajuda chegou às 5h45. Segundo a AMN em comunicado, o jovem ter-se-á “aproximado da falésia para ver o estado do mar”. Acabou por cair de uma altura de cerca de 50 metros e foi transportado para o Centro Hospitalar de Faro em estado grave, “com várias fraturas e uma contusão na cabeça”.
Já na semana anterior, a 16 de junho, o comando da Polícia Marítima da mesma localidade, em colaboração com os Bombeiros Voluntários de Portimão, foi chamado a resgatar um turista de uma falésia na Prainha, em Alvor, encontrado preso nas rochas por um piquete da Polícia Marítima.
E este foi um resgate inusitado: o turista francês de 26 anos resolveu efetuar uma escalada pela falésia às próprias custas. A incursão do “alpinista” não deu, como seria de esperar, bom resultado. O jovem acabou por ficar preso e “não conseguiu regressar pelos próprios meios”. Foi necessário chamar as equipas de grande ângulo dos bombeiros – que efetuam resgates por meio de escaladas – para se conseguir o acesso necessário ao local e assim retirar o indivíduo, que não apresentava ferimentos.
Tragédia no Cabo da Roca Nestes casos, as autoridades conseguiram resgatar as pessoas com vida. Mas quem arrisca assim nem sempre tem tanta sorte e já houve situações trágicas provocadas pela aproximação excessiva das bermas das falésias. Nomeadamente para tirar fotos.
Em setembro de 2014, um casal polaco que vivia há vários anos em Portugal passeava no cabo da Roca, em Sintra, na companhia dos dois filhos menores, de cinco e seis anos.
As vítimas, de 40 anos, caíram de uma ravina, de uma altura de cerca de 80 metros, quando os filhos os fotografavam com o telemóvel, disseram várias testemunhas.
Dado o local de difícil acesso, os corpos só foram resgatados no dia seguinte à queda com um helicóptero da Proteção Civil, uma vez que as arribas eram bastante instáveis e foi impossível aceder ao local por terra. As crianças receberam apoio psicológico após terem assistido à queda dos pais.