Lula da Silva: “Perdi três eleições e respeitei o voto. A direita não sabe esperar”

Lula da Silva deu uma entrevista ao britânico Guardian onde defende ser “o melhor Presidente da história” do Brasil e diz haver um “acordo entre partes da comunicação social, do sistema judicial e da polícia para destruir” a sua imagem.

Na conversa com Jonathan Watts, publicada esta segunda-feira, o antecessor de Dilma Rousseff admite estar a “sofrer muito” com o processo de impeachment à presidente suspensa ­– Lula diz sentir que assiste “ao desmoronar do projeto que transformou” o Brasil.

Lula defende que a origem desta crise política no Brasil está nos sucessos alcançados pelo Partido dos Trabalhadores (PT) em 13 anos de poder: “Sinceramente acredito que isso chateou muita gente. Há mais pessoas nas ruas, nos teatros, nos aeroportos. Uma parte da elite não gosta de partilhar”. E lembrando ter “perdido três eleições” e “respeitado a escolha do povo”, o petista diz que “a direita não sabe esperar”.

E é nessa perspetiva que acredita na teoria da conspiração, com parte do poder judicial e mediático do país a ter “um único objetivo: condenar Lula”. “Não podemos deixar este homem candidatar-se em 2018”, diz Lula ao citar os seus detratores antes de garantir que é o homem “mais tranquilo do Brasil”. “Se for a julgamento saberemos se as acusações contra mim são verdadeiras ou não”.

Uma possibilidade que encara com uma convicção: “Os grandes progressos que alcançámos nos últimos 13 anos não se perderão se for a julgamento. Não mudarei o que sou. E fui o melhor presidente de sempre”, defendeu o ex-chefe de Estado brasileiro nas páginas do Guardian.

Mas se mostra convicção de que nenhum processo judicial lhe poderá tirar essa fama, o mesmo já não se pode dizer em relação a um novo período na presidência, possível através de uma eventual candidatura às presidenciais de 2018. “Gostava que fosse outra pessoa a candidatar-se. Saí com 87% de aprovação. Fui o melhor Presidente da história do Brasil. É quase impossível tentar repetir essa prestação, teria de competir contra mim”, explica o histórico líder do PT.

Nesta entrevista Lula ainda se recusou a mostrar arrependimento por ter escolhido Dilma para sua sucessora, dizendo-se “orgulhoso” da sua herdeira apesar dos relatos que vão dando conta do crescente distanciamento entre os dois históricos petistas. “Não há crime”, garante Lula sobre as acusações que são feitas a Dilma.

Mas o Guardian notou que “embora não o diga diretamente, mostra-se exasperado com a falta de combatividade de Dilma”. Diz Lula que “Dilma precisa de dizer o que vai acontecer ao Brasil se ela regressar à presidência. Tem que dizer o que vai fazer de novo, como construirá novas relações políticas. Ela tem de dizer isso, não posso ser eu”.

nuno.e.lima@sol.pt