Vivia com a mãe, não tinha cadastro ou ligações a grupos terroristas internacionais, mas Micah Xavier Johnson esteve destacado no Afeganistão de novembro de 2013 a julho de 2014. Johnson fora alvo de um processo por assédio sexual de uma soldado, que tentou obter uma ordem de proteção contra ele e alertou para que Johnson precisava de “tratamento mental”. Este incidente encurtou a sua participação na guerra, mas o Pentágono confirmou que foi mantido na reserva até ao ano passado.
Houve lugar a uma série de informações confusas sobre os eventos da noite de quinta-feira, quando este veterano negro matou cinco polícias e feriu outras nove pessoas a partir de uma posição, a 300 metros de altura, do edifício do armazém de livros escolares do Texas de onde Lee Harvey Oswald, em 1963, terá feito pontaria ao presidente John F. Kennedy, naquele que viria a ser o dia mais negro da história daquela cidade. “Dallas foi palco de uma tragédia quando o presidente Kennedy foi morto aqui nos anos 1960”, recordou o procurador-geral do Texas, Ken Paxton, para depois acrescentar: “E isto é o que a cidade teve de mais próximo daquele sentimento em décadas.”
Quando a poeira assentou, as autoridades corrigiram as suas próprias especulações e disseram que, afinal, o jovem de 25 anos teria atuado sozinho naquele que foi o dia mais sangrento para a polícia norte-americana desde o 11 de Setembro. Outros três suspeitos permaneciam sob custódia, mas os investigadores de Dallas, até à hora de fecho desta edição, não tinham ainda esclarecido que papel estes podiam ter tido na emboscada.
Entretanto, nas buscas à casa de Johnson foram encontrados “materiais para a construção de bombas, coletes à prova de bala, espingardas automáticas, munições e um diário de táticas de combate”. O ataque deu-se num momento em que as tensões raciais nos EUA alcançavam um novo pico, depois das mortes de mais dois negros à mão de polícias brancos e em circunstâncias suspeitas.
O dia de ontem foi o terceiro consecutivo de manifestações um pouco por todo o país, depois de Arlon Sterling e Philando Castile terem sido abatidos quando aparentemente não representavam perigo para os polícias que os mataram. Foi no decurso de uma destas marchas que Johnson abriu fogo a partir de um parque de estacionamento universitário, usando uma espingarda AR-15, tirando a vida aos agentes Lorne Ahrens, Michael Krol, Michael Smith, Brent Thompson e Patrick Zamarripa, os primeiros a chegar à Baixa de Dallas, onde decorria uma dessas marchas.
No impasse com a polícia, encurralado e durante uma longa troca de tiros em que 12 polícias tentaram abatê-lo, Johnson disse que plantara bombas improvisadas “por todo o sítio”, o que não veio a confirmar-se. Também disse que fez o que fez porque estava revoltado com os casos de negros abatidos por polícias. “O suspeito afirmou que queria matar brancos, particularmente polícias brancos”, disse o chefe da polícia de Dallas, David Brown. Com o falhanço das negociações, a polícia decidiu fazer uma abordagem inovadora, recorrendo a um robô para transportar um explosivo que fez detonar, matando Johnson. Este é mais um aspeto que está a alimentar a enorme controvérsia no país.