Deutsche Bank já perdeu quase 60% do valor em bolsa no último ano

Standard & Poors desceu o “outlook” do maior banco alemão de “estável” para “negativo” devido ao “difícil contexto operacional” e ao impacto do Brexit

O Deutsche Bank já desvalorizou quase 60% no último ano. Cada ação do banco valia esta quarta-feira 12,95 euros, menos 58,48% do que um ano antes. A análise do i permitiu concluir ainda que desde o início do ano o maior banco alemão já perdeu 21% do seu valor.

O Deutsche é uma das instituições que está neste momento no centro do furacão da banca europeia.
Esta terça-feira, a Standard & Poor’s decidiu desceu o “outlook” do banco de “estável” para “negativo”. Uma perspetiva negativa significa basicamente que o Deutsche Bank poderá ver o seu atual rating cortado.

Atualmente, a S&P atribui uma classificação de BBB+ à dívida de longo prazo do banco alemão, o que corresponde ao oitavo nível na escala dos ratings. 

A agência de rating justificou a decisão com o “difícil contexto operacional” da instituição. “Poderemos descer a notação do Deutsche Bank se as condições de mercado complicarem a capacidade do banco para preservar o seu capital e manter o seu negócio enquanto implementa os planos de reestruturação”, escreveu a agência no relatório divulgado esta terça-feira.

A S&P apontou ainda o impato da decisão do Reino Unido em sair da União Europeia, que poderá complicar os planos de reestruturação do banco alemão.

O maior risco sistémico
Um relatório divulgado a 30 de junho, o Fundo Monetário Internacional (FMI) apontou o Deutsche Bank como a instituição financeira que atualmente mais riscos coloca à estabilidade financeira mundial. “Entre os bancos globais de importância sistémica, o Deutsche Bank aparenta ser o maior contribuinte líquido para riscos sistémicos, logo seguido do HSBC e do Crédit Suisse”, escreveram os técnicos do FMI.

Isto no mesmo dia em que a subsidiária do banco alemão nos Estados Unidos chumbou no “teste de stresse” anual da Reserva Federal.

Em fevereiro, o Deutsche arrastou as bolsas europeias quando um analista do Credit Sights pôs em causa a capacidade do banco em reembolsar todos os cupões das obrigações de capital contingente (CoCo).

Em 2015, o banco registou prejuízos anuais pela primeira vez desde 2008: 6,8 mil milhões de euros. Grande parte deste buraco deveu-se aos elevados custos de litigância que atingiram os 5,2 mil milhões de euros em 2015.

“Estamos focados em 2016 e vamos continuar a trabalhar para resolver os casos de litigância. O trabalho de reestruturação e investimento vai manter-se ao longo de todo o ano. Sabemos que os períodos de reestruturação podem ser difíceis. No entanto, estou confiante que através da implementação disciplinada da nossa estratégia podemos, e vamos, transformar o Deutsche Bank numa instituição mais forte, mais eficiente e melhor gerida”, afirmou John Cryan, CEO do Deutsche Bank no dia da apresentação dos resultados, a 28 de janeiro.

Apesar dos maus resultados, o banco pagou 2,4 mil milhões de euros em bónus, um montante que, ainda assim, representa uma descida de 17% face a 2014. No total, os gastos com pessoal ascenderam a 10,5 mil milhões de euros em 2015, acima dos 10 mil milhões de 2014. Um aumento que “reflete efeitos cambiais, assim como o aumento de funcionários a tempo inteiro”, segundo a nota divulgada. 

Os doze executivos auferiram no total 22,7 milhões de euros em remunerações menos 36% do que em 2014. Os vencimentos dos CEO Jürgen Fitschen (até Julho) e John Cryan ascenderam a 3,8 milhões de euros e 1,9 milhões de euros, respetivamente.