Já vamos entrar para o terceiro dia da Convenção do GOP (Partido Republicano). Ontem, o grande destaque foi a dissipação de todas as dúvidas: Donald Trump é o candidato do GOP às eleições presidenciais de Novembro próximo. Será Donald Trump que tentará evitar que ao Presidente em exercício de funções, proveniente do Partido Democrata, Barack Obama – suceda um outro Presidente (ou Presidenta, para não ofender o Bloco de Esquerda) do Partido Democrata, Hillary Rodham Clinton.
A ala anti-Donald Trump ainda tentou esboçar uma (última) tentativa de boicote ou, pelo menos protelamento, da nomeação do empresário nova-iorquino: em vão, o peso político de Donald Trump saiu ainda mais reforçado, após a derrota da proposta de contar os votos por estado, o que poderia favorecer um dos oponentes de Trump. Mais uma vez, a prática desmentiu todos os cenários teóricos e hipotéticos. Goste-se ou não se goste, acabaram-se as hipóteses: hoje já temos um facto. E o facto é que Donald J. Trump é candidato a Presidente dos Estados Unidos da América – e pode vir mesmo a liderar o mundo livre.
Oportunamente, desenvolveremos a análise à candidatura de Donald Trump, para além daquilo que, neste espaço, já escrevemos nos últimos meses. Como é público e notório, o autor das presentes linhas tem estima pessoal por Trump – pelo seu percurso de vida e pelo seu sucesso empresarial. Os casos de sucesso do capitalismo devem ser admirados e incentivados como prova de que a liberdade é o melhor (e mais perene) sonho vivido da Humanidade. E não há liberdade sem – ou fora – do sistema capitalista. Mas hoje limitemo-nos ao que tem sucedido na Convenção Republicana.
Pois bem, sobre a Convenção, há quatro pontos a destacar:
1) O staff de campanha de Donald J. Trump converteu a Convenção num verdadeiro espectáculo televisivo. Muitos analistas – alguns norte-americanos, outros (a maioria) portugueses – referem-se à Convenção como “um circo”, uma “palhaçada”. Porquê? Porque tem música e gente a “pular” (julgamos que foi esta a expressão de Ana Drago). Então e nas Convenções democratas – inclusive aquelas que nomearam Barack Obama – não houve música, nem gente a “pular”? Claro que houve (recordamos que, em 2012, na Convenção de apoio à reeleição de Obama, teve como destaque um concerto de Bruce Springsteen). E nas Convenções do Bloco de Esquerda, aqui no nosso Portugal, não há “cantarolices”? Claro que há. E no PCP não há a famosa dança da “Carvalhesa”? E quem se atreve a qualificar as reuniões destes dois partidos de extrema-esquerda como “circo” ou “palhaçada”? A verdade é que Donald J. Trump quer, por um lado, exponenciar a sua imagem de estrela televisiva e de grande promotor de eventos (o tal “construtor de grandes coisas”, big, big, big…); por outro, Trump quer falar directamente para os americanos, em vez de limitar a sua audiência aos militantes ou representantes do GOP. Isto para além de que os discursos-chave de cada noite acontecem em pleno prime-time televisivo, o que é agradável para efeitos de captação de investimento publicitário;
2) O candidato presidencial republicano, Donald J. Trump, quer persuadir o eleitorado utilizando as técnicas de comercialização de uma marca. Quer vender a marca Trump , na modalidade de “serviço político” – por isso, é necessário criar ou reforçar a “goodwill” da família Trump. Toda a Convenção está pensada para permitir o maior envolvimento possível (e imaginável) dos membros do clã. Primeiro, na segunda-feira, foi Melania Trump; ontem, foi Donald Trump Jr., filho mais velho de Donald J. Trump, antecedido por Tiffany Trump, sua filha mais nova; hoje, será a vez de Eric Trump, antes da intervenção de Mike Pence (o “ticket” de Trump, ou seja, o seu candidato a Vice-Presidente); amanhã, a filha Ivanka Trump apresentará o pai, antes da sua intervenção de aceitação da nomeação republicana. Isto é, Donald Trump quer cativar os americanos pelo exemplo da sua família, pelo encantamento que os seus filhos, e os seus talentos no exercício das responsabilidades parentais, poderão exercer sobre a classe média e as “working classes” americanas. Demonstrando que foi um excelente pai de família, Donald Trump quer demonstrar (e convencer o eleitorado) que poderá ser um excelente Presidente. Não por acaso os comentadores conservadores americanos têm dado especial ênfase à educação, aos talentos oratórios, à humildade, à consciência social dos filhos de Trump – por contraposição, aos filhos de “outras famílias ricas” que “degeneram”. Sean Hannity contrapôs mesmo a família Trump – virtuosa – à família Kardashian – pecaminosa. A comparação é acertada: de facto, a Convenção Republicana converteu-se num “reality show” (ou num “show of reality”) que se poderia intitular “ Keeping up with the Trumps”. Basicamente, nos últimos dias, temos seguido a família Trump;
3) Rudy Giuliani protagonizou o melhor discurso da Convenção até ao momento, puxando pelos galões nova-iorquinos de Trump. Foi um discurso moderado, com razão e emoção. Pluralista e inclusivo, sem deixar de evidenciar as preocupações securitárias da sociedade norte-americana. E o impacto do discurso do ex-mayor da cidade de Nova Iorque pode indiciar que neste estado (tradicionalmente democrata) a luta entre Trump e Clinton será renhida;
4) Chris Christie é um dos mais efusivos apoiantes de Donald J. Trump, nos tempos que correm. Dizia-se que o ainda Governador de New Jersey seria o nome mais forte para o “ticket” de Trump – contudo, a vontade de Trump agradar aos sectores mais conservadores e tradicionais do GOP levou à escolha de Mike Pence, Governador do estado do Indiana. No entanto, o discurso, de ontem, de Chris Christie foi muito centrado na política externa, criticando o percurso (em termos duros e mediaticamente espectaculares) de Hillary Clinton como Secretária de Estado. Isto pode significar que Donald J. Trump prometeu a Christie o cargo de seu Secretário de Estado (o equivalente a Ministro dos Negócios Estrangeiros), caso venha a ser eleito Presidente dos Estados Unidos da América.