O mercado não está preocupado

De todos estes números, pode tirar-se uma conclusão: o mercado de dívida não está muito preocupado com as possibilidades de serem aplicadas multas elevadas a Portugal pela violação do limite do défice em 2015, nem com a possibilidade de nos serem congelados parte dos fundos estruturais para 2017.

A República Portuguesa voltou hoje a recorrer ao mercado de dívida, endividando-se em quase 2 mil milhões de euros, em condições altamente vantajosas.

Na dívida com o prazo de seis meses a taxa de juro foi mesmo negativa: -0,003%, isto é, Portugal, em vez de pagar juros, receberá um pouco mais de dinheiro do que emprestou (espantoso!).

Já na dívida com o prazo de um ano, os juros foram um pouco mais elevados, mas continuam a ser muito reduzidos: 0,038%.

Bem, mas estivemos a falar de dívida de curto prazo (até 12 meses), quando a maioria de nossa dívida é de médio e longo prazo, e onde o prazo mais relevante é o da dívida a dez anos. E aí, também não estamos mal: os juros estão hoje nos 3,07%, na banda inferior de taxas entre 3% e 3,5%, em que têm transacionado de fevereiro até aqui.

De todos estes números, pode tirar-se uma conclusão: o mercado de dívida não está muito preocupado com as possibilidades de serem aplicadas multas elevadas a Portugal pela violação do limite do défice em 2015, nem com a possibilidade de nos serem congelados parte dos fundos estruturais para 2017. E, como disse alguém que já não me lembro, os mercados financeiros são os comentadores políticos mais cínicos do mundo.