Estamos, naturalmente, muito focados nos sérios problemas conjunturais que a economia portuguesa enfrenta. Mas não convém esquecer os problemas de fundo, como a produtividade. É que, a prazo, as economias só crescem com aumentos de produtividade ou com mais gente a trabalhar. Ora esta última hipótese não existe em Portugal, por causa do envelhecimento da população, que reduz o número de ativos.
A produtividade por hora de trabalho, hoje em Portugal, é de cerca de 70 por cento da média europeia. Entretanto a Espanha já ultrapassou essa média. É óbvio que a produtividade do trabalho não depende sobretudo do trabalhador. Os operários portugueses que emigram conseguem, no estrangeiro, bons níveis de produtividade, porque o enquadramento onde trabalham é mais produtivo do que o português. Mas a baixa escolaridade da maioria dos trabalhadores portugueses é um fator negativo, que deverá melhorar no futuro.
O fraco investimento empresarial é uma das causas da baixa produtividade portuguesa. Mas muitos outros fatores jogam para travar essa produtividade. Por exemplo, a nossa falta de pontualidade leva a inúmeras perdas de tempo. Aliás, medir a produtividade é extremamente complicado em sociedades, como a nossa, onde cada vez mais predominam os serviços.
Talvez em parte por isso, muitos economistas estão perplexos face a um abrandamento da produtividade desde há cerca de uma década, nos países desenvolvidos e também nos emergentes. Nos Estados Unidos a produtividade baixou neste ano pela primeira vez em três décadas. São muitas, mas nem sempre convincentes, as explicações para este abrandamento. Há quem diga que os recentes progressos na área informática não se comparam com a revolução trazida pela eletricidade e pelos automóveis. Mas, como Nouriel Roubini sublinhou há duas semanas, não faltam inovações revolucionárias nos últimos anos.
Outros apontam o desfasamento temporal entre a inovação tecnológica e o crescimento da produtividade. Viu-se o que se passou com a internet: só anos depois de esta ter surgido ela se generalizou a quase todas as atividades económicas, aumentando a produtividade.
Houve recentemente uma queda no investimento em novas tecnologias nos países ricos e nos emergentes (agora em crise). Esse é um problema particularmente agudo no nosso país. Também se fala numa descida generalizada na criação de novas empresas, um pouco por toda a parte. É provavelmente consequência do clima de incerteza que na semana passada aqui referi.
Se as causas do abrandamento da produtividade são ainda pouco claras, as consequências não oferecem grande dúvida e não são simpáticas. Uma débil subida da produtividade coloca acrescida pressão, em baixa, nos salários. E estes pouco têm subido desde há trinta ou quarenta anos em países como os EUA, acentuando a tendência para o crescimento das desigualdades de rendimentos (as quais, por sua vez, travam a expansão da economia: os super-ricos não vão consumir mais quando ganham mais).
Porventura ainda mais grave, a estagnação da produtividade, com a travagem no crescimento das economias que ela implica, favorece um clima de protecionismo, de aversão ao comércio internacional e à própria democracia liberal, que só poderá piorar as coisas.