O Bloco Central já mora em Belém

Marcelo Rebelo de Sousa não criou um seu “mini-governo” com uma vocação pluralista máxima, integrando membros do PCP ao CDS. Não! Marcelo Rebelo de Sousa criou a sua equipa com gente do PS e do PSD.

Muitos se interrogaram – e se incredulizaram! – com o veto de Marcelo Rebelo de Sousa à iniciativa legislativa do extremo-PS com a extrema-esquerda de vedar, em absoluto, a iniciativa privada na concessão do Metro do Porto e da STCP. Independentemente dos méritos da decisão – sobre os quais escreveremos mais demoradamente em próximo texto -, a decisão do Presidente Marcelo não nos surpreende. Pelo contrário, como os leitores do “SOL” mais cautos saberão, desde há muito antecipamos aqui que o objectivo político de Marcelo Rebelo de Sousa passa por manter António Costa – mas no quadro de uma concertação aprlamentar com o PSD, e não com a extrema-esquerda. Ou seja: Marcelo Rebelo de Sousa quer – como sempre quis, pelo menos desde o dia 9 de Março de 2016 – um “Bloco Central”.

E Marcelo não se tem coibido de expressar este seu desejo, mais ou menos sibilinamente: até quando este nosso novo Presidente da República afirma ser a “esquerda da direita”, estar “rigorosamente ao centro” e jura promover “consensos alargados”  está a manifestar a sua convicção de que Portugal precisa de um “Bloco Central”, protagonizado por PS e PSD, com a eventual participação (em geometria variável de peso político) do CDS/PP. E até ter PS e PSD no mesmo barco político até 2021 (ano das próximas eleições presidenciais), Marcelo não descansará.

Atenção: Marcelo quer criar um “Bloco Central”…governamental. Ou, se preferirmos, uma maioria parlamentar ao centro que se traduza num Governo ao centro, sem dependências políticas ou afectivas (palavra de que tanto gosta) à extrema-esquerda, o qual até poderá ser liderado (em teoria, veremos depois na prática) por António Costa. Isto porque o “Bloco Central” em estruturas de poder já existe. Um exemplo flagrante é o próprio Palácio de Belém. É a própria equipa mais próxima de Marcelo Rebelo de Sousa – o “mini-governo” da confiança do Presidente da República que constitui a sua Casa Civil.

Marcelo Rebelo de Sousa não criou um seu “mini-governo” com uma vocação pluralista máxima, integrando membros do PCP ao CDS. Não! Marcelo Rebelo de Sousa criou a sua equipa com gente do PS e do PSD. O Palácio de Belém – mais concretamente, a Casa Civil do Presidente  Rebelo de Sousa – é, hoje, a expressão mais perfeita do “Bloco Central”. No fundo, a Casa Civil é uma antevisão do que Marcelo quer para o Governo de Portugal.

Senão, vejamos. Marcelo tem como seu assessor para a economia e as finanças públicas, Hélder Reis – anterior Secretário de Estado da Ministra Maria Luís Albuquerque, Ministra das Finanças de Pedro Passos Coelho. O que não pode deixar de significar um elogio implícito de Marcelo às qualidades da anterior Ministra das Finanças – e até à competência e determinação de Pedro Passos Coelho.

Em segundo lugar, Marcelo Rebelo de Sousa escolheu como seu assessor político, António Araújo – um Professor universitário de grande mérito, com uma obra importante sobre o salazarismo e a Constituição de 1933, para além de um reputado cavaquista. Aliás, Marcelo Rebelo de Sousa evidenciou uma grande sabedoria e sentido prático: escolheu para seu assessor político, nada mais, nada menos…que o assessor político do anterior Presidente, Aníbal Cavaco Silva. O que mostra que, afinal, não obstante as críticas de Marcelo ao anterior Presidente nas suas análises semanais na TVI, lhe reconhece mérito na gestão política dos vários assuntos com que o Presidente Cavaco Silva se confrontou ao longo dos últimos dez anos. Haverá elogio maior ao anterior Presidente do que a promoção do seu assessor político, mantendo o essencial da equipa de Cavaco em Belém?

Em terceiro lugar, Marcelo Rebelo de Sousa escolheu para sua assessora da Educação, Isabel Alçada. Alçada, para além de uma brilhante escritora com quem partilhámos momentos da nossa infância e juventude até (ainda) aos dias de hoje através dos livros “Uma Aventura”, foi Ministra do Governo do PS liderado por José Sócrates.

E o Assessor de Marcelo para o Ensino Superior? Chama-se José Trocado da Mata e foi, precisamente, Secretário de Estado de Isabel Alçada, no mesmo Governo de José Sócrates. Ou seja, na Educação, Marcelo confia apenas em políticos ou pessoas próximas do PS. O que, atendendo a que o Ministério da Educação é o mias radical de esquerda do actual Governo, deixa a Educação, em Portugal, completamente nas mãos da esquerda!

Já nos Assuntos Constitucionais, Marcelo Rebelo de Sousa tem como assessores Miguel Nogueira de Brito e Gonçalo Saraiva Matias. O primeiro, trata-se de um ilustre Professor da Faculdade de Direito de Lisboa, ex-assistente de Marcelo na cadeira de Introdução ao Estudo do Direito e filho de Nogueira de Brito, fundador e deputado do CDS. É um jurista hoje mais próximo do PSD do que do CDS. Já Saraiva Matias, é um jurista talentoso, especialista em Migrações, docente na Universidade Católica – e que também vem da equipa do Presidente Aníbal Cavaco Silva. Portanto, mais um elogio implícito ao anterior Presidente…

Conclusão: o Bloco Central já mora, de facto, no Palácio de Belém. O “mini-governo” de Marcelo Rebelo de Sousa é composto por PS e PSD. Resta saber quando é que este Bloco Central marcelista passará de Belém para São Bento. Atendendo ao veto de segunda-feira, parece-nos que já estivemos mais longe desse “dia D”…ou “Dia B”. “B” de Bloco Central, não de Bloco de Esquerda. Que esse, como dizia alguém, vai lá à sua vida…