Revolução silenciosa na Caixa. Cadernetas entram em vias de extinção

Balcões receberam orientações para restringir entrega de cadernetas a novos clientes. Banco gasta por ano 42 toneladas de papel para produzir estes documentos

Revolução silenciosa na Caixa. Cadernetas entram em vias de extinção

Há uma mudança de fundo a ocorrer na Caixa Geral de Depósitos (CGD), e não é a administração. Os balcões receberam orientações para que os novos clientes não recebam as tradicionais cadernetas do banco, uma das imagens de marca da instituição. A nova política passa por encaminhar os novos depositantes para soluções com cartões de débito, extrato ao final do mês e serviços online. Não será de um dia para o outro, mas a renovação demográfica nos clientes do banco põe a “extinção” no horizonte.

O objetivo desta política comercial comunicada às agências é seguir as preferências digitais dos clientes mais jovens e reduzir custos e impactos ambientais, numa empresa que gasta por ano 42 toneladas de papel e cartão só para imprimir as cadernetas.

Mas não há mudanças bruscas – quem preferir a caderneta, não tem nada a temer. O banco não acabou com a disponibilização desses documentos e, se um cliente fizer questão de continuar a ter esse suporte físico com todo o histórico de movimentações da conta, os serviços substituem uma caderneta que chegue ao fim.

A nova política visa sobretudo o público mais jovem. A demografia encarregar-se-á de seguir o seu caminho, reduzindo progressivamente o peso das cadernetas. “É verdade que, para os novos clientes e nas novas aberturas de conta, se incute progressivamente a adoção de outros meios de informação sobre a conta (extrato e Caixadirecta) e de movimentação (cartão de débito), mas a Caixa, neste momento, mantém o suporte caderneta”, confirma ao i fonte oficial do banco, acrescentando que a CGD “segue as tendências de digitalização da informação e dos serviços bancários, tal como nos exigem os nossos clientes.”

As cadernetas não são um suporte exclusivo da CGD – o Montepio, por exemplo, também as utiliza. Mas o peso do banco público no país fez com que se tornassem uma imagem de marca da Caixa. Com cerca de quatro milhões de clientes em Portugal e no mundo, a CGD cumpre um papel determinante nas classes etárias mais avançadas, onde a caderneta tem uma importância fulcral. Segundo os últimos resultados trimestrais do banco, a instituição tem 28,7% dos depósitos bancários do país, captando mais de 73 mil milhões de euros em poupanças dos portugueses. 

Décadas de história As cadernetas foram introduzidas há décadas, como forma de registar os movimentos de conta. Hoje em dia são uma aplicação informatizada, mas quando surgiram eram preenchidas à mão pelos funcionários do banco.

Com a substituição de gerações nos clientes da Caixa, são ferramentas cada vez menos requisitadas. “Sabemos que para os clientes que estão há décadas connosco, a caderneta é a forma tradicional de acesso à informação sobre a conta. Mas para as novas gerações, com smartphones, smartwatches e computadores ou tablets, há a preferência pelo Caixadirecta online e cartões como opções para informação e movimentação do seu património financeiro”, frisa fonte oficial da CGD.

Sempre que uma caderneta se esgota, a Caixa continua a fornecer gratuitamente a sua substituição – só há cobrança se houver emissão de uma 2.a via da caderneta, por exemplo, por extravio. Mas, acrescenta o banco, “numa lógica de conveniência do cliente, a rede comercial da Caixa pode propor a adesão a outros meios de movimentação, como o cartão de débito ou o Caixadirecta, caso tenha perfil e/ou exista um potencial de utilização efetiva face a eventuais custos associados”.

No seguimento da nova política comercial que restringe a entrega de cadernetas a novos clientes, as encomendas feitas à Imprensa Nacional Casa da Moeda, onde são feitas as cadernetas, já foram reduzidas. Além de ir ao encontro das preferências dos clientes, a progressiva digitalização permite também reduzir custos e impactos ambientais. “Não podemos esquecer que a caderneta é feita de papel, o que, num mundo que queremos sustentável, é sempre de evitar”, justifica o banco. Em 2015, os consumos de materiais mais relevantes para a CGD foram o papel de fotocópia, que totalizou 530 toneladas, o papel de envelopes, que atingiu 128 toneladas, e o papel e cartão na forma de cadernetas, com 42 toneladas.