Ele acreditara firmemente que Hitler não quebraria o pacto de não-agressão enquanto a Inglaterra se mantivesse em guerra. Ao ter caucionado tal pacto, o líder soviético não acreditara na possibilidade de uma paz prolongada com a Alemanha; simplesmente, necessitara de ganhar tempo. Certamente, ele conhecia os longos desígnios teutónicos e a brutal industrialização da década de 1930 fora empreendida no espírito de Alexandre Nevski, na expectativa de uma «batalha do gelo» que efetivamente sobreveio numa dimensão cataclísmica. Ao longo dos quatro furiosos anos da Grande Guerra Patriótica, Estaline não teve pejo em recorrer às tradições de antanho da Rússia Imperial, a restaurar velhas ordens honoríficas, a reabrir igrejas, até.
A direção da guerra ensiná-lo-ia a respeitar o temível adversário nazi e a ser mais realista nas exigências feitas aos seus generais: a luta seria longa e sangrenta e o colapso rápido da Alemanha permaneceria uma miragem. Desde 1942, Estaline clamou por uma segunda frente na Europa. O atraso com que ela foi aberta reforçou no líder soviético a suspeita de que, eventualmente, os anglo-americanos pretenderiam derrotar o Reich à custa da sangria da Rússia. Talvez não tanto, mas parece ser evidente que os aliados de Estaline não estavam dispostos a derramar o sangue dos seus soldados com a indiferença brutal característica do Generalíssimo soviético.
Ao longo de toda a carreira política de Estaline a sua desconfiança para com as democracias ocidentais manteve-se visceral. Como poderia ele esquecer que Churchill, essa verdadeira quintessência do espírito imperial britânico, tinha sido um dos principais mentores da intervenção aliada na guerra civil russa de 1918-20? Milovan Djilas descreve como, em junho de 1944, perante um grupo de convivas que o incluía Estaline se acercara de um grande mapa-múndi. Passando a sua mão sobre a enorme mancha vermelha do território soviético – cerca de um sexto da superfície terrestre emersa – Estaline comentou: «Jamais aceitarão a ideia de que um espaço tão grande possa ser vermelho. Jamais! Jamais!».
Em fevereiro de 1945, em Ialta, o líder soviético negociava já com os seus aliados ocidentais em posição de força relativa: por essa altura, o Exército Vermelho encaminhava-se para se assenhorear da maior parte das capitais da Europa Central.
Cinco meses mais tarde, em Potsdam, o presidente Truman revelou a Estaline o sucesso da primeira explosão atómica no deserto do Novo México. Churchill, a poucos passos de distância estudava atentamente a reação do líder soviético. Este, serenamente, declarou a sua satisfação e não fez qualquer pergunta. Tal como esses dias de conferência iriam deixar demonstrado, a Grande Aliança que acabara de esmagar a Alemanha Nazi começava a esboroar-se e Estaline, esse epítome da realpolitik, era o menos surpreso dos líderes vencedores.