Quando, na semana anterior, combinámos encontrar-nos às 11 horas da manhã de 11 de julho em frente à Rádio Comercial (da qual César Mourão tem estado de férias, o “Rebenta a Bolha” regressa só em setembro) não sonhávamos com o enorme erro que cometíamos. Talvez não acreditássemos que Portugal pudesse vencer a França, talvez tenha sido isso, coisa que ele acha problema nosso, português, tanto no futebol como no cinema. Ah, o cinema, difícil é articular palavras para lá de Éder ou Ronaldo ou aquele cântico-que-não-queremos-voltar-a-ouvir-quanto-mais-escrever, mas era sobre isso esta entrevista com César Mourão, sportinguista, amigo de Rui Patrício e a quem pelos vistos o próprio Fernando Santos disse que acreditava que traria a taça. Acontece que César Mourão, que diz que por essa razão também acreditava, teve que se conter nos festejos porque este dia em que nos encontrámos era o dia da antestreia de “A Canção de Lisboa”, último filme da trilogia dos clássicos portugueses de Leonel Vieira, realizado e escrito por Pedro Varela (“Os Filhos do Rock”). Primeiro grande projeto no cinema, que afinal sempre foi sonho seu. Sobre o que se disse — quando estreou, “O Pátio das Cantigas”, filme português mais visto de sempre, foi desfeito pela crítica — pergunta o que é um crítico. “Acho que até têm razão nalgumas coisas que disseram, mas a única coisa que separa um crítico da minha avó, é o sofá em que cada um se senta”.
Fazendo parte da mesma trilogia que recupera os clássicos do cinema português, “A Canção de Lisboa” é um filme muito diferente de “O Pátio das Cantigas”, em que interpretou também a personagem de Vasco Santana na versão original.
O filme é bastante diferente, é o mais contemporâneo dos três, com um humor mais atual também. A minha personagem é um protagonista mais assumido neste filme. Não fiz “O Leão da Estrela” porque o Vasco Santana não fazia “O Leão da Estrela”. N’ “O Pátio das Cantigas” o meu personagem era mais linear, se quiseres, não tinha explosões de humor, não era para ser, foi isso que me foi pedido, e este sim, tem mais comédia. Continua a ser transversal, é um filme para toda a família, só que é mais identificável com os jovens: um estudante de medicina que não estuda coisa nenhuma, quer é miúdas, carros descapotáveis, enganar as tias a dizer que já é doutor, as tias vêm cá a achar que ele é doutor e ele não é, as tias que fingem ter dinheiro que também não têm e também o enganam a ele, que acha que vive muito bem porque tem dinheiro mas afinal não tem. É uma comédia de enganos, se quiseres. A comédia vem desde o palhaço rico, palhaço pobre. Este filme é basicamente isso, limado e mais explorado, numa comédia romântica com um arco também muito dramático na relação pai e filha, quem é que usa quem. Acho um filme muito bom, gosto bastante do filme.
Mais do que do anterior?
É uma pergunta um bocadinho ingrata porque quando me envolvi no outro projeto foi também com o máximo de dedicação e a fazer tudo para que o filme fosse um sucesso. Mas dos originais o meu filme preferido já era “A Canção de Lisboa”. Nestes continua a ser, não só porque sou um protagonista mais assumido neste e é fácil puxar a brasa à minha sardinha, como se costuma dizer, mas já o era antes de o rodar, já era o que eu preferia no guião.
Como foi a primeira vez em que o viu?
O guião?
Não, o original, de 1933. Já o tinha visto?
Muitas vezes. Era muito pequenino e via com os meus avós e os meus pais e a partir daí vi-o imensas vezes em VHS em casa dos meus avós, em minha casa. Adorava o filme, sabia as falas de cor.
Verdade?
Sabia, sabia muita coisa de cor do Vasco Santana, jamais sonharia que iria fazer essa personagem, embora não seja uma imitação, não tem nada a ver, mas é a mesma personagem. E há, mesmo assim, uma certa dificuldade em descolar do original porque sabia-o todo de cor. Nalgumas partes do filme, na do exame, que é igualzinha à original, é muito difícil não colar ao Vasco Santana e há ali umas coisas muito parecidas com o original. Mas é de propósito, é uma homenagem ao Vasco Santana.
É a única parte que reproduz o guião original.
Sim. Há mais umas coisinhas, mas essa parte é mesmo ipsis verbis.
O Vasco Santana era já uma companhia antiga então. Pode falar nele como uma referência?
Não é que seja uma referência… Para quem trabalha com humor, o Vasco Santana é incontornável, como são outros nomes como o Herman José, a Maria Rueff, o Miguel Guilherme. A partir do momento em que cresces com aquele timing de humor, com aquela forma de fazer, acabas por beber também um bocadinho dele.E, sim, bebi do Vasco Santana também.
Estudou para ser ator no Brasil. Foi o humor que sempre lhe interessou?
Fazem-me essa pergunta muitas vezes. Eu sou ator, a minha formação é de ator. Não sou um humorista, embora achem que sou. Um humorista é diferente, um humorista não tem que ser necessariamente um ator e a minha formação é essa, é de ator.
Daí a minha pergunta.
Na cabeça das pessoas faço comédia, comédia, comédia. Muitas vezes a imprensa escreve “o humorista César Mourão”, é normal. Mas há uma diferença e se me derem um papel dramático fá-lo-ei com toda a dedicação, como fiz nalgumas partes deste filme. Obviamente que um realizador que trabalha comigo ou alguém que está a ver pode dizer “gosto mais de o ver fazer comédia do que drama”, mas eu estou pronto para fazer seja o que for, foi para isso que estudei.
De qualquer forma esteve sempre ligado a esse lado da representação. Por exemplo, aquela personagem das manhãs…
O Carcaça?
Exato.
Já foi há muitos, muitos anos, há 16. Em televisão foi das primeiras coisas e era muito difícil nessa altura entrar humor nesses programas de televisão, tinham um humor muito… Não queria chamar-lhe básico, não há humor básico, mas um humor muito simples. E eu, dentro da simplicidade que isso era, e fiz coisas diretas e simples, tentei fazer um humor mais nonsense. Nessa altura esse personagem que era o Carcaça, que só comia pão e não se percebia nada do que ele dizia, ao início foi difícil. Lá no programa diziam “eh pá, não dá, não dá, tens que falar se não em casa as pessoas não entendem”.Mas foi um dos personagens com mais sucesso que tive. Como outros, lembro-me de fazer o Ken, o boneco.
O Ken? [risos]
Está no YouTube. Tinha imensos dramas, vivia numa caixa de plástico, dentro de um supermercado e agora tinham-no trocado para perto da parte dos frios. Fazia outros mais simples, mais diretos, de mais rápido entendimento, mas tinha uns personagens muito nonsense. Consegui, de certa maneira, introduzir nos programas da manhã esse humor mais nonsense. Sim, gosto muito de humor e trabalho humor, mas podia trabalhar outra coisa.
Mas como foi essa experiência naquele tempo? Como é que surgiu o Carcaça, por exemplo?
Olha, essa personagem foi criada tão simplesmente como vou dizer: estava a almoçar no estúdio e estavam dois realizadores noutra mesa e eu estava a comer e disse: “olha, amanhã podia não sei quê”. E de propósito pus um bocado de pão na boca para eles não perceberem. Eles riram-se, “o quê?”, e eu disse outra vez, eles não perceberam e riram-se outra vez, e então eu disse: “O que ia dizer, esquece, o que vou fazer amanhã é isto.” “Isto o quê?” “Um gajo que não diz nada e entra com pão.” “Estás a gozar.”Vou.” E foi assim. Das primeiras vezes toda a gente dizia: “Fartei-me de rir mas as pessoas em casa não vão entender, é um humor que não se entende num programa da manhã, César é impossível, não faças.” Entrámos ali num braço de ferro e depois o público começou a pedir aquele Carcaça, o Carcaça, o Carcaça e ficou, tão simples quanto isso.
Como é que foi parar à SIC?
Fazia o “Commedia A La Carte”, como ainda hoje faço, há 16 anos — a seguir aos Xutos e Pontapés temos o grupo que há mais tempo está junto com a mesma formação a trabalhar ininterruptamente, todas as semanas. Tem alguma piada mas é verdade. Trabalhávamos há muito pouco tempo e os realizadores do programa foram-nos ver por amizade, porque alguém lhes tinha dito “bora lá ver aí uns gajos” e foram e adoraram. No final foram ter connosco a dizer “temos que conversar”. Aí aconteceu uma coisa muito engraçada, que foi ao mesmo tempo termos tipo um convite do Nuno Markl e do Pedro Ribeiro para fazermos “O Homem que Mordeu o Cão”. E ofereceram-nos o que era na altura algum dinheiro para o programa da manhã e aceitámos aquilo em detrimento d’ “O Homem que Mordeu o Cão” que era muito mais o nosso humor. Por dinheiro, por oportunidade, sei lá, e acabámos por fazer o programa das manhãs, onde estive muitos anos.
Estava a dizer há pouco que é como ator que se vê. Estes remakes dos clássicos do cinema português terão sempre a importância de terem sido o primeiro projeto de grande dimensão em cinema.
Eu gosto muito de cinema, até mais do que de televisão. Acho o cinema mais mágico, portanto sempre quis, era um sonho meu fazer cinema. Comecei por este projeto que me agradou muito porque ia fazer as mesmas personagens que o Vasco Santana fez, um remake dos filmes antigos e isso aliciou-me. Achei um projeto honesto, achei uma boa ideia e, com o risco que tinha, aceitei e fiz um trabalho que eu considero bom, honesto, simples, normal, conforme o que me pediram. Não é um filme erudito, não é o filme em que estamos à espera que se fale sobre a raiz de uma árvore, não é.
Os originais também não.
Também não eram, é o que é. Obviamente que a projeção… Quando faço alguma coisa não me preocupo muito com a projeção e ao início nem sabia que ia ter este sucesso o filme [“O Pátio das Cantigas”, o filme português mais visto de sempre, com mais de 600 mil espetadores em sala] em termos de bilheteira, achei que ia ser até um flop, mas achei importante aceitar pelo desafio e porque queria muito fazer cinema. E pronto, já fiz, venham outros.
O filme foi um sucesso de bilheteira mas a crítica foi muito dura.
É normal. Eu respeito a crítica, acho que até têm razão nalgumas coisas que disseram, mas a única coisa que separa um crítico da minha avó é o sofá em que cada um se senta. O da minha avó se calhar é um sofá mais antigo, onde ela se senta há muitos anos, e gosta daquele maple, e se calhar já viu mais filmes do que um crítico. O que é que é um crítico? Uma pessoa que viu mais filmes e que sabe mais? O que é que é? É uma pessoa normal que tem a cabeça dela e tem uma opinião. Tem razão nalgumas coisas, tem, mas é só uma cabeça, é só uma opinião, que influencia outras. Há pessoas mais influenciáveis que se deixam levar por uma pessoa que diz “o filme não presta, nem sequer é cinema” e já não vão ver. Eu aí talvez ache que as pessoas devem pensar pela própria cabeça. A mim acontece-me ir ver filmes que eram horríveis e chego lá e não eram e o contrário: há pouco tempo fui ver uma peça do Al Pacino em Nova Iorque, a crítica era arrasadora, e eu cheguei lá, sentei-me e achei realmente mau também. Agora, é normal também que eu dê mais apreço a uma T-shirt que comprei e que me custou dinheiro do que a uma T-shirt que me deram num hipermercado com um champô. O crítico normalmente não paga um bilhete de cinema, é muito normal como não lhe saiu do bolso chegar a uma sala e dizer “ah, fraquinho, afinal não gostei”. Se calhar se tivesse gasto cinco euros no filme, que muitos deles não têm dinheiro para os pagar, se calhar via o filme com outros olhos e dizia “espera aí que isto custou-me cinco euros, ainda assim”.
Já nem sei o que queria perguntar a seguir.
Baralhei-te [risos].
N’ “A Canção de Lisboa” vemo-lo a cantar também.
É difícil fazer um filme chamado “A Canção de Lisboa” e não cantar. Sempre gostei de cantar e cantar está em mim como fazer outra coisa qualquer ligada às artes. Sempre tive a pancada da versatilidade. Por exemplo, faço ilusionismo básico. E tu perguntas-me: “Para quê?” Não sei. Provavelmente um dia vai ser útil e esta entrevista vai começar por “não sabia que fazias ilusionismo”. Lá está. Como equilibro uma cadeira no queixo. Para quê? Não sei, vai ser utilizado. Como desenrasco a tocar piano, como toco guitarra, eu tenho essa mania, essa coisa. Acho que um ator deve ser o mais versátil que puder, o que não quer dizer que atores que não sejam versáteis sejam maus, não, são incríveis, muito melhores do que eu, mas eu tenho essa mania. Quando o Leonel [Vieira], o produtor deste filme, e o Pedro Varela falaram comigo a dizer “mas há um problema, que é teres que cantar uma canção”, e eu “na boa”. Acho que é bom ter essas skills na manga. Estou ansioso por um dia qualquer fazer um filme em que equilibro um chapéu de coco no nariz. Eu equilibro um chapéu de coco no nariz, faço malabarismo com um chapéu de coco, consigo mandá-lo da cabeça para o pé diretamente. Há um dia em que as pessoas vão dizer, “ah, como é que aquilo foi feito, foi montagem?” Não, não foi. Eu gosto disso. Todos os dias toco guitarra, não há um dia em que não toque para treinar, todos os dias faço uma coisa qualquer desse género para continuar a treinar. Se me vai ser útil ou não, não sei. Para mim é.
E o ilusionismo?
Sozinho. Tive a sorte de estudar numa escola como o Chapitô em que para além de ter tido professores de teatro incríveis, tive professores de movimento e corpo, de artes circenses incríveis, a escola em si é incrível porque nos dá possibilidade de fazer tudo e mais alguma coisa e eu consegui beber do Chapitô coisas que o Chapitô não me deu, dando-me. Não tínhamos disciplina nenhuma de ilusionismo, ninguém me ensinou, só que havia uma biblioteca incrível no Chapitô, que tinha um piano — às vezes os meus colegas queriam estar sossegados e eu ia treinar naquilo.
Na biblioteca?
Sim, havia um piano. Como havia livros de ilusionismo. E eu às vezes não tinha nada para fazer, faltava alguém, não tinha uma aula e ia ler livros de ilusionismo. Comecei a experimentar, a comprar livros e a fazer, só para mim, nunca fiz nenhum espetáculo. Não massacro os meus amigos com ilusionismo, aliás, muitos deles se calhar nunca me viram fazer um truque de ilusionismo. O Chapitô deu-me isso.
Como é que foi a decisão de ir para o Chapitô?
Desde sempre fiz teatro amador e os meus encenadores da altura, era muito miúdo, diziam “tens que seguir, é uma pena se não seguires”. Eu ia entrar para a Faculdade de Motricidade Humana, na altura ISEF, e penso, “não, se calhar vou experimentar artes”. No Chapitô faço as provas, entro e faço tudo para trás, 10.º, 11.º, 12.º, que é ao que equivale o Chapitô e a partir daí vou para o Rio de Janeiro, onde estudei teatro, cinema e televisão.
Porquê o Rio de Janeiro?
Tentei várias escolas, Estados Unidos, várias coisas, e o Brasil… sei lá, achei naquela altura que o cinema brasileiro podia dar um passo interessante. Aprendi muito de cinema e da arte de uma só câmara, aprendi muito de teoria do cinema, depois eu sabia que ia beber muito da música brasileira também, que é outra coisa de que gosto. Depois acabo por desistir porque venho para Portugal para o “Programa da Maria”, entrava na segunda série, supostamente, segundo o telefonema que me fizeram, que depois é cancelada, já não vai para o ar, e já não entrei. Entretanto já tinha trancado a matrícula no Brasil e faço os “Commedia A La Carte”. Depois fiquei por aqui. Mais trabalho, mais trabalho, mais trabalho, felizmente os “Commedia A La Carte” foram um sucesso, que se deve exclusivamente ao público e à verdade que pomos em palco que o público adora, e sendo um sucesso não pude estar a abandonar um sucesso para o vazio.
Emendou uma coisa que disse no início sobre a profissão de ator para dizer que lhe foi dada. Porquê?
Eu não a escolhi na verdade. Costuma dizer-se que este tipo de profissão nos escolhe a nós e eu não posso fugir muito porque até concordo. Escolhi trabalhar em desporto, era a minha escolha, mas depois empurraram-me para esta profissão, ou a profissão chamou-me, porque se calhar tenho muito mais talento para isto do que para o desporto. Esta profissão tem muito sofrimento, muita insegurança, muita incerteza, dúvidas. Será que sou bom, será que não sou? Lá está, 600 mil pessoas viram “O Pátio das Cantigas”. Se duas pessoas disseram numa crítica “não, não, é fraquinho”, essas duas pessoas mexem mais com a cabeça de um ator do que as 600 mil que viram. Como o contrário. Também não ligo à crítica demasiado construtiva, aquela “para mim és o melhor gajo em Portugal a fazer humor”. Não é verdade, mas também não é verdade que sou o pior gajo a fazer humor. Infelizmente há muitos filmes portugueses que nem direito a crítica têm, que até têm coisas boas. É muito pior quando não dizem nada. Voltando ao futebol, nós somos os maiores críticos do Cristiano Ronaldo. Já visitei muitos países, não os conheço a fundo, o que conheço melhor é o Brasil e não é assim. O Brasil desde sempre que ouve as músicas brasileiras, que adora os filmes brasileiros, que vê tudo o que é Brasil, que tem bandeiras em casa. Nós não temos. Só hoje é que é bonito ter um galo de Barcelos em casa, antigamente quem tinha era a avó e quando ia alguém nós escondíamos o galo: “Vó, não ponha isso, que vem cá alguém.” Portugal é isto. É muito fácil fizer “não gosto de filmes portugueses, não quero ver filmes portugueses”. Mas o que é certo é que estão a melhorar e que os jovens estão a aderir mais.
O que pensa do caminho, que na verdade parecem dois em paralelo, que está a fazer o caminho português?
Se querem qualidade no cinema português, ele tem que ser visto. Quanto mais pessoas houver a ver cinema português mais patrocinadores, mais dinheiro, mais qualidade. Em que segmentos? Em todos, quer no mais comercial, direcionado a um público mais transversal, como [nos filmes de] Miguel Gomes, António Pedro Vasconcelos, Marco Martins. Porque esses filmes, que eu adoro e acompanho, também vão ser muito melhores se houver mais pátios das cantigas, como os filmes mais comerciais também vão beber coisas a esses. Um alavanca o outro, uma coisa ajuda a outra, estamos só dependentes do público português, é ele que vai ditar se o cinema português vai crescer ou não vai crescer.