CGD: Afinal quem fica na administração?

Presidente da Unicer foi convidado para administrador não executivo. Há pelo menos dois gestores cujas empresas têm negócios com a Caixa e podem incorrer em conflitos de interesse: Ângelo Paupério junta-se a Bernardo Trindade.

A nova gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD) conta com mais um nome. Ao que o SOL apurou, Rui Lopes Ferreira, presidente executivo da Unicer, foi convidado para integrar o conselho de administração da instituição, que vai ser liderada por António Domingues.

Licenciado em economia pela Universidade do Porto, Rui Lopes Ferreira desempenhou funções no BPI, onde se cruzou com o novo presidente do banco. Trabalhou na área de corporate finance e foi administrador executivo da área private equity da InterRisco, que pertence ao grupo BPI. 

Rui Lopes Ferreira permaneceu no grupo bancário até 2006, altura em que foi convidado para assumir a liderança da área administrativo-financeira da Unicer. Chegou a presidente do grupo cervejeiro há um ano. Quem o conhece de perto destaca-lhe a discrição, a assertividade e a objetividade.

Este nome junta-se assim a outros cujo currículo está ligado ao BPI. Foram também feitos convites a Tiago Marques, diretor de recursos humanos do BPI, Emídio Pinheiro, presidente do BFA, e João Tudela Martins, da área de controlo de risco. Henrique Cabral Menezes, que é quadro da CGD, também já trabalhou no BPI. No total há 12 posições não executivas e sete executivas, sendo que António Domingues deverá acumular a presidência executiva e o cargo de chairman.

À espera do BCE

Rui Lopes Ferreira, assim como todos os outros nomes avançados para a nova administração, esperam agora que o Banco Central Europeu (BCE) dê luz verde à lista apresentada. O Banco de Portugal e a comissão de avaliação que está a acompanhar a designação dos novos corpos sociais do banco, presidida por Laginha de Sousa, já deram o aval aos nomes escolhidos. Falta agora o parecer determinante do regulador europeu, que deverá demorar ainda algumas semanas.

Os passos burocráticos para nomear a nova administração fizeram atrasar o processo de substituição da gestão, que tem ainda de cumprir outras obrigações. Um dos obstáculos, relacionado com o estatuto do gestor público, está já ultrapassado. As mudanças já estão em vigor e permitem que os salários da nova administração não fiquem limitados ao vencimento do primeiro-ministro.

De acordo com o diploma, «impõe-se um ajustamento do estatuto dos titulares dos órgãos de administração que seja apto para alcançar o objetivo de maior competitividade das instituições de crédito públicas, sem perda de efetividade do controlo exercido sobre os respetivos administradores».

Para complementar a alteração dos estatutos dos gestores públicos, a CGD terá também de ser retirada do regime jurídico das empresas públicas. Além disso, os estatutos do banco terão de ser alterados para acomodar o aumento do número de administradores.

Conflitos de interesse

No caso do BCE, uma das matérias que o regulador está a analisar são os potenciais conflitos de interesse na nova equipa. Tal como o SOL avançou na última edição, Bernardo Trindade está numa situação delicada. O antigo secretário de Estado do Turismo é gestor executivo na empresa Porto Bay e este grupo hoteleiro trabalha com o banco público. 

Na equipa de António Domingues, outro gestor tem o mesmo problema: Ângelo Paupério. Foi proposto para administrador não executivo, mas tem funções executivas no grupo Sonae, que é cliente do banco público. Segundo a plataforma Informa D&B, que congrega dados financeiros e jurídicos sobre as empresas do país, a Sonae trabalha com vários bancos no país, entre os quais a CGD.

O SOL consultou tambémos dados sobre empresas de outros administradores que poderiam estar na mesma situação – Unicer, Partex, Fundação Champalimaud, Sogrape e PSA Peugeot Citröen – e não há indicações de que sejam clientes da CGD.