Porque Centeno persiste?

Foi hoje divulgada pelo INE a primeira estimativa do andamento do PIB no segundo trimestre, e os números não são animadores: o PIB cresceu 0,2% em relação ao trimestre anterior (é o terceiro trimestre consecutivo em que mantém este valor). Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, o PIB cresceu apenas 0,8%, menos uma…

Segundo a comunicação social, o ministério das finanças reagiu em comunicado, afirmando que o crescimento económico vai acelerar na segundo metade do ano, baseando-se no comportamento positivo do mercado de trabalho – o INE divulgou esta semana que o desemprego desceu, também no segundo trimestre, para o valor mais baixo dos últimos cinco anos. O que é uma boa notícia, mas essa série de valores do INE sobre o desemprego não é corrigida de sazonalidade, e o desemprego em Portugal geralmente desce nos meses de verão, devido aos empregos criados pelo turismo. Daí que se dê mais importância aos valores corrigidos de sazonalidade.

Para mim, subsiste um mistério: porque é que Mário Centeno não reconhece que o crescimento económico este ano vai ser inferior aos 1,8% inscritos no orçamento de Estado? É praticamente impossível que a economia acelere de tal forma no segundo semestre para que esse valor fosse atingido, e todas as previsões, nacionais e internacionais, apontam para um crescimento inferior. Então, porque teima Centeno?

Pode ser que ele pense que rever em baixa a previsão de crescimento do PIB iria diminuir a confiança dos agentes económicos, com consequências negativas para a economia. Mas esse raciocínio é um pau de dois bicos. Porque, insistindo o governo numa previsão na qual mais ninguém acredita, os consumidores e os investidores podem muito bem perder a confiança no executivo.

Não precisamos de quem nos pinta cenários cor-de-rosa irrealizáveis. Precisamos muito mais de quem seja realista connosco.