O segredo é a alma do negócio e nunca foi apanágio dos artistas andar por aí a revelar cachês. No que toca a atuações contratadas pelas autarquias, uma das atrações do verão um pouco por todo o país, a cantiga já é outra desde há alguns anos. Por lei, as entidades públicas estão obrigadas a publicar todos os contratos num portal público e as atuações musicais não fogem à regra. O i analisou os registos relativos a concertos e certames deste verão e, até à data, a despesa já supera os 4,5 milhões de euros. Está curioso para saber quanto custa levar Tony Carreira às festas da terra e se sai mais em conta ter o clássico Quim Barreiros ou os jovens D.A.M.A.?
Antes das respostas, que poderá encontrar nestas páginas, é necessário um preâmbulo: nem todas as autarquias têm já os contratos publicados, pelo que é preciso considerar os dados apenas como uma amostra do que se passa no país. Aos valores dos contratos acresce sempre IVA, que no caso dos espetáculos no continente é de 13%, sendo ligeiramente inferior nas Ilhas. Depois, é preciso ressalvar que os valores não correspondem necessariamente ao pagamento integral aos artistas, já que a maioria dos concertos são contratados através de empresas de produção de eventos que além de remunerar os músicos e respetiva entourage podem ter responsabilidades no som, luzes e outros apetrechos técnicos.
Há, por fim, uma dificuldade prática no que toca a comparações: algumas autarquias fazem contratos para todas as atuações num determinado evento, em atacado, o que não permite perceber quanto cabe a cada artista. O recorde num único contrato pertence à Expo Bairrada, que aconteceu em julho em Oliveira do Bairro e contou com José Cid, Azeitonas, Plano B, Canta-me como foi 5, Richie Campbell, Quim Barreiros, C4 Pedro e Mickael Carreira, todos por 142 mil euros mais IVA. Mas, somando todos os contratos hoje públicos, é o festival do Crato (23 a 26 de agosto) que maior investimento implica. Os artistas nacionais que fazem parte do cartaz – Capicua, HMB, Richie Campbell e DJ Djoana, ATOA, Ana Moura e DJ Karetus, Custódio Castelo + Convidados, Franky Chaves e DJ Nuno Luz e Miguel Araújo, António Zambujo e DJ Club Banditz – custaram à autarquia 70.900 euros (mais IVA). Pode parecer uma conta elevada, mas só os Kaiser Chiefs, cabeças de cartaz estrangeiros, representaram uma fatura de 81 mil euros. Anthony B, jamaicano que vai atuar com o português Ritchie Campbell, custou 12 mil euros (mais IVA).
C4 Pedro custou mais. Nas festas de Nisa, no passado fim de semana, a animação que contou com atuações de Tony Carreira, Expensive Soul e GNR totalizou 72.500 euros (mais IVA).
Tanto na Expo Bairrada (mostra da inovação regional), como em Nisa, no Crato ou, por exemplo, no Festival do Marisco (em Olhão, onde a autarquia gastou 61.435 euros para ter Camané, C4 Pedro, os Azeitonas e Aurea), foi o cantor angolano C4 Pedro que custou mais: cerca de 20 mil euros, o dobro de Camané. As entradas são pagas e todos os anos há dezenas de milhares de visitantes. Mas há outros investimentos significativos pelos quais os municípios nada pedem aos seus habitantes e visitantes. É o caso do concerto de Tony Carreira, no próximo domingo, em Ponte de Lima: o município gastou 19 mil euros para levar pela primeira vez o cantor romântico à vila e a entrada é livre. O sonho de menino do pai Carreira far-se-á ouvir no areal junto ao rio Lima, a partir das 22 horas.