Há um som que todos associamos à praia – e não falamos do pregão, mais ou menos elaborado, dos vendedores das bolas de Berlim. De quando em vez, lá se ouve o barulho do apito do nadador-salvador a repreender algum banhista mais aventureiro e desatento ou, na maioria das vezes, mais desrespeitador.
Mas o que vale uma repreensão? Para muitos, nada. Não há dados sobre a quantidade de chamadas de atenção, mas há números relativos aos autos levantados. Durante esta época balnear, a Polícia Marítima já multou nove pessoas que não cumpriram as ordens dos nadadores-salvadores, informou a Autoridade Marítima Nacional (AMN) em dados enviados ao SOL. As coimas, que podem ir dos 55 aos 550 euros, não foram ainda aplicadas, uma vez que os autos se encontram em fase de instrução na Polícia Marítima.
É a sul que as ordens mais vezes são desrespeitadas. «A zona do país onde se registam mais casos deste género, nesta época balnear, é no Algarve», explicou o Oficial de Relações Públicas da AMN, subtenente Ivo Serôdio.
Mesmo que os banhistas considerem excesso de zelo, é fundamental que cumpram as indicações que recebem. «Os nadadores-salvadores são os responsáveis pela segurança balnear e o seu papel é zelar pela segurança das pessoas, pelo que, quando as circunstâncias de mar assim o exigem, eles devem impedir as pessoas de ir a banhos e/ou nadar», explica o oficial.
E, caso não o façam, a AMN diz que são os próprios nadadores-salvadores que devem chamar a Polícia Marítima. «Quando os banhistas lhes desobedecem, colocando-se em perigo e muitas vezes obrigando a outros a porem a sua vida em risco para os resgatarem, deverá ser chamada a Polícia Marítima para identificar e autuar os autores dessas infrações», indica Ivo Serôdio.
A julgar pelo número de salvamentos, são cada vez mais as pessoas que desrespeitam os avisos. Só nos primeiros três meses da época balnear, ou seja, entre 1 de maio e 31 de julho, houve 207 salvamentos em praias vigiadas e 351 intervenções de nadadores-salvadores em «praias não concessionadas abrangidas por sistemas integrados implementados», refere a AMN.
Casos trágicos
Além do elevado número de salvamentos, há sete mortes a registar nas praias, sendo seis por afogamento e uma por morte súbita. Dos afogamentos, apenas um caso aconteceu numa praia (fluvial) vigiada. A vítima foi um jovem de 20 anos que se afogou a 27 de junho na praia de Crestuma, em Vila Nova de Gaia, explica a AMN.
Já em zonas marítimas não vigiadas, morreram três pessoas, todas em junho. A primeira vítima, um rapaz de 16 anos, perdeu a vida no dia 10, na praia dos Três Pauzinhos, em Vila Real de Santo António. Três dias depois, um homem de 65 anos de nacionalidade francesa afogou-se durante a tarde na praia de Benagil, Portimão.
O último caso aconteceu na zona perto de Azurara, em Vila do Conde, onde uma rapariga de 14 anos perdeu a vida no dia 27 de junho.
Houve ainda duas pessoas que se afogaram em zonas fluviais não vigiadas. A primeira foi um homem de 40 anos que sucumbiu na foz do Douro, a 22 de julho. Um mês antes, um jovem de 17 anos afogou-se na zona do Oceanário de Lisboa. Este foi um caso amplamente noticiado, uma vez que o rapaz, em conjunto com três amigos, resolveu atirar-se à água, sem saber nadar, por volta das 18h. O adolescente acabou por ficar entre 20 a 30 minutos debaixo de água.