Após a II Guerra Mundial a integração europeia nasceu da reconciliação entre a França e a Alemanha, países que se guerrearam três vezes em 80 anos. Os primeiros passos dos fundadores da integração concentraram-se nos sectores do carvão e do aço. Em 1952 nascia a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, dois sectores nessa altura vitais para a economia e para a guerra, que Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo decidiram gerir em comum.
Os mesmos seis países negociaram depois uma Comunidade Europeia de Defesa. Mas em 1954 o tratado não foi ratificado na Assembleia Nacional francesa, por causa dos votos contra dos seguidores do general de Gaulle e dos comunistas. Por isso a integração europeia prosseguiu sobretudo pela via económica. Interligar interesses económicos de países europeus contribuiria, esperava-se, para solidificar a paz na Europa e unir os seus povos. De facto, contribuiu. Mas talvez não tanto como alguns julgavam. Aliás, antes disso (em 1910), foi publicado um livro de um autor britânico, Norman Angell, defendendo que o aumento do intercâmbio comercial entre as potências europeias tornava impossível um conflito armado entre elas, pois a guerra teria um enorme custo económico até para o vencedor.
A I Guerra Mundial desfez essa ilusão. Também destruiu a convicção de muitos radicais de esquerda, como os bolchevistas, de que os trabalhadores dos países europeus se uniriam contra a ‘guerra capitalista’. Em vez disso, no verão de 1914 muitos partiram com entusiasmo das suas terras para se matarem uns aos outros.
Como observou um colunista do Financial Times, John Plender, a reconciliação franco-alemã e a paz na Europa do pós-guerra teve mais a ver com a ameaça soviética numa era nuclear do que com a crescente interdependência económica entre os países da então CEE. Ameaça soviética, acrescento eu, que levou os EUA a empenharem-se na integração europeia, desde logo com o Plano Marshall. Olhando o presente, nota J. Plender que o intercâmbio económico da UE com a Rússia não evitou as intervenções de Putin na Crimeia e no Leste da Ucrânia.
Por outras palavras, o nacionalismo supera o interesse económico. Em 1933 Keynes tinha dito que o comércio livre combinado com a livre circulação de capitais era uma receita para tensões e inimizades. E J. Plender nota, com alguma razão, que a interdependência na zona euro, com um país hegemónico, a Alemanha, é fonte de crescentes fricções. A política, incluindo o nacionalismo xenófobo, sobrepõe-se frequentemente aos interesses económicos. É um aviso para a Europa comunitária (veja-se o brexit), mas também para o perigo que representaria Donald Trump se puder accionar o arsenal nuclear americano. Há limites para os efeitos pacíficos do comércio e do intercâmbio económico internacionais.
E algumas medidas proteccionistas temporárias podem por vezes justificar-se. Seja para evitar uma tragédia social numa determinada zona, devido a uma brusca e devastadora subida do desemprego, seja para permitir que vinguem as chamadas indústrias nascentes. A Coreia do Sul, por exemplo, utilizou esse proteccionismo temporário para se tornar um país desenvolvido. O pior é quando aquilo que devia ser temporário deixa de o ser: a protecção continuada enfraquece as empresas, tornando-as pouco competitivas.