Os cinco desafios de Pedro Passos Coelho

No discurso de encerramento da Festa do Pontal, Pedro Passos Coelho proferiu o discurso que todos já esperávamos: desconfiança face à política económica e financeira do Governo, objectivamente demonstrável até nos últimos números oficiais conhecidos; apelo às reformas de que o país necessita (sem, no entanto, as especificar); considerações gerais críticas sobre a postura anti-diálogo…

Enfim, foi interessante a assistir a este debate na televisão com os comentadores a dividirem-se: os comentadores independentes afectos a António Costa (todos sabemos quem são), que são a maioria, classificaram o discurso de Passos como “mais do mesmo”, “a repetição do discurso do diabo”, o mesmo “tom catastrofista de sempre”; os comentadores independentes afectos a Passos Coelho, que são a minoria, a qualificarem-no como “responsável”, de “ bom senso”, de um verdadeiro “estadista” por contraponto aos desvarios lunáticos de António Costa, de “futuro Primeiro-Ministro”, sentenciaram alguns.

Por nós, nem tanto ao mar, nem tanto à terra: o discurso de Passos Coelho, na Quarteira, foi um discurso expectável. O típico discurso de repetição de ideias para marcar a agenda política dos dias seguintes, provocar a reacção dos socialistas – e mostrar a separação entre os dois partidos. Convém os portugueses recordarem-se que a Festa do Pontal já não marca o início da rentrée do PSD: o Pontal é um jantar de convívio de Verão entre os militantes do PSD que se encontram no Algarve por esta altura do ano – e que serve igualmente para a distrital social-democrata do Algarve manter a sua projecção nacional. 

Ainda bem que assim é – nós próprios já participámos em algumas Festas do Pontal e o ambiente é único comparando com iniciativas do género (pelo menos, sociais – democratas – não falamos do Avante ou de acampamentos hippies do Bloco de Esquerda, que essas devem ter um ambiente ainda mais único!). A rentrée do PSD será aberta com o discurso de Pedro Passos Coelho no encerramento da Universidade de Verão da JSD, em Castelo de Vide, no dia 4 de Setembro. 
Mais importante é, pois, não proceder à avaliação de um discurso para cumprir calendário de Passos Coelho, mas sim traçar os desafios imediatos do líder do PSD. Podemos sintetizá-los em cincos: 

1)    Renovação da equipa. Parece, pelo menos para o grande público, que o PSD hoje é um partido reduzido a três ou quatro personalidades (todas governantes com Passos Coelho), sem capacidade de abrangência e de expansão para sectores, à partida, mais distantes do partido. E, mesmo dentro do partido, há a sensação pública de que Passos Coelho hoje já divide mais do que une. Pode ser uma percepção errada, e muito provavelmente estará errada – compete a Pedro Passos Coelho o ónus da demonstração do contrário; 

2)    Divisão de tarefas. Ultimamente, parece que Pedro Passos Coelho é o único a dar a cara pelas posições políticas do PSD, afunilando a imagem do partido à imagem do seu líder. Não pode ser: o PSD tem de encontrar porta-vozes que possam falar sobre os assuntos de política diários, deixando para o líder o encontro directo com António Costa e a tomada de posição sobre matérias políticas mais estruturantes; 

3)    Definição de prioridades políticas. Pedro Passos Coelho terá de, mantendo o seu discurso de rigor orçamental e de saneamento e de sanidade das finanças públicas portuguesas,  escolher as matérias políticas essenciais sobre as quais discorda frontalmente do Governo – e propor alternativas. Não pode ficar preso, ref´´em dos números da execução orçamental ou do crescimento da economia. A política é mais do que isso – embora não prescinda nunca nem de finanças públicas saudáveis, muito menos de uma economia revigorante. Propomos a educação, a saúde e a questão demográfica. Tudo ligado ao desenvolvimento do interior e ao esbatimento das assimetrias entre litoral e interior – e entre Lisboa e o resto do país; 

4)    Preparar as autárquicas com método, planeamento, com vocação ganhadora sem criar, no entanto, conflitos internos com as distritais e concelhias. Pedro Passos Coelho precisa de ganhar as eleições autárquicas ou, pelo menos, melhorar o score de 2013. Escolher candidatos vencedores, com mérito reconhecido, sem, no entanto, provocar tensões que possam criar ruído no partido; 

5)    Preparar a ida a eleições em breve, para, quando estas ocorrerem, o PSD estar preparado. Para tal, justificar-se-ia a criação de um Governo –Sombra que mostrasse ideias, criatividade, união, vontade de servir o país – funcionando como contraponto ao frágil Governo de António Costa e geringonça, limitada (ou cada vez mais limitado…). 
Serão estes desafios passíveis de concretização por Pedro Passos Coelho? Serão fazíveis? Iremos analisar em próxima prosa. 

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