A Turquia atravessou a fronteira e ocupou com uma coluna de tanques e veículos blindados a cidade de Yarobulus, ocupada na quarta-feira por milícias curdas e rebeldes sírios. Esta movimentação motivou um protesto do governo sírio de Damasco, que considerou tratar-se de uma invasão do seu território por parte de um exército estrangeiro.
Este avanço turco foi precedido da retirada de centenas de milicianos das Unidades de Proteção Popular (YPG), curdos sírios que foram pressionados pelos EUA, e formalmente advertidos pelo vice-presidente norte-americano, Joe Biden, que caso não o fizessem, os EUA suspenderiam o seu apoio às operações das forças curdas contra o Estado Islâmico. Em troca, garantem que ajudarão os curdos a tomar Raqa, a capital do Daesh na Síria.
As autoridades de Ancara pretendem impedir a criação no norte da Síria de uma entidade independente curda, que veem como uma pressão acrescida para a independência do Curdistão. A maioria dos curdos vive sob o domínio otomano. Erdogan suspendeu há anos as negociações com os independentistas curdos do PKK e pretende ocupar parte do território sírio para impedir a independência dos curdos nessa região. Tentou fazer o mesmo no Iraque, mas teve a firme oposição do governo de Bagdade, que ameaçou provocar uma guerra com o seu poderoso vizinho.
O dirigente curdo sírio Reizan Hadu, do Conselho Democrático da Síria, declarou que a Turquia e os seus aliados pretendem ocupar a segunda cidade da Síria, Alepo: “Os aliados da Turquia atacam Alepo [Frente al-Nusra da Al-Qaeda] desde o sul e sudoeste e agora entraram a norte da Síria forças turcas que não pararão até chegar a Al-Bab. Alepo ficará numa tenaz e a Turquia terá base para negociar de uma forma agressiva”, afirmou à agência russa Novosti.
Por sua vez, as autoridades de Ancara declararam: “A Turquia deu luz verde à operação de libertação de Manbij [e outras localidades da zona] com a condição de que, uma vez concluída, os militantes das YPG regressassem a leste do rio Eufrates. A nossa preocupação é que as YPG têm um historial de expulsar, pela força, populações não curdas e os seus rivais”, garantiu uma fonte do governo turco ao “El País”.