CDS: Nuno Melo ajuda o PSD de Passos Coelho

Aquando da eleição de Assunção Cristas como líder do CDS/PP escrevemos, neste nosso espaço de opinião, que Nuno Melo e respectivos apoiantes não iriam rezar por Nossa Senhora Assunção. 

Na altura, muitos consideravam a nossa tese como precipitada, inapropriada ou tão-só inoportuna. Poucos meses volvidos, eis que a nossa desconfiança sobre a genuinidade do apoio de Nuno Melo a Assunção se confirma como oportuna, sensata e verdadeira. É um caso típico de demonstração de opiniões “ex ante “ por factos supervenientes.

De facto, aproveitando um deslize de Hélder Amaral em Angola, os sectores do CDS que não se revêem na liderança de Assunção Cristas, e desejam arduamente que a líder do partido tropece, resolveram criar um facto político interno. Os portugueses ficaram a saber que há militantes com peso mediático e notoriedade interna (dentro do partido) e externa (junto dos portugueses) que fazem uma avaliação global negativa do desempenho de Assunção Cristas à frente do partido.

E sabem porquê? Porque Assunção assumiu posições sobre o futuro de Portugal que estes militantes encaram como negativas para os portugueses? Porque Assunção se tem revelado particularmente frágil na oposição ao Governo da extrema-esquerda e do extremo-PS de António Costa? Não, nada disso. Este grupúsculo de oposição interna zangou-se com Assunção Cristas porque…o CDS esteve presente no Congresso do MPLA! Ah, e, claro, porque Assunção Cristas é uma líder que…não fez a escolinha toda do elevador social-partidário – leia-se, Assunção Cristas não começou como presidente de uma concelhia, de uma distrital, das chamadas “estruturas intermédias” partidárias. Assunção Cristas não é uma política profissional! Vejam só o problema! Para estes militantes do CDS, Assunção Cristas ser uma líder oriunda da sociedade civil é um crime público! Motivo de demissão imediata!

Esta reacção epidérmica de militantes do CDS como Filipe Lobo d´Ávila, Raúl Almeida e, embora em termos mais subtis, do líder da JP mostra à exaustão que há uma desconfiança, grande e latente, do aparelho do partido centrista face à sua actual líder. Convém referir que este grupo corresponde, grosso modo, à lista alternativa que surgiu no Congresso do CDS e conseguiu eleger representantes para o seu Conselho Nacional. Entendamo-nos: é positivo que haja pluralismo e divergência no interior dos partidos políticos – a unanimidade (sempre forçada!) é o primeiro passo para o falhanço. Na vida e na política.  Contudo, a oposição, para ser credível, precisa de surgir em momentos relevantes, politicamente significativos e sobre matérias relevantes para Portugal (sim, porque os partidos servem para servir Portugal – e não para servir as agendas pessoais de cada um…).

Não foi o que sucedeu: então, militantes do CDS – que não tiveram a coragem de apresentar uma candidatura alternativa à liderança de Assunção Cristas há poucos meses – acham que vale a pena prejudicar o partido, lançando-o numa guerra civil interna, apenas porque…o CDS esteve representado no Congresso do partido de Governo em Angola? Ou seja: por fazer aquilo que os partidos de poder – como o PS e o PSD – fizeram?

Por outro lado, personalidades como Filipe Lobo d’ Ávila têm especiais responsabilidades – já exerceram cargos políticos governamentais. No caso concreto de Lobo d’ Ávila, exerceu funções como Secretário de Estado da Administração Interna no primeiro Governo de Pedro Passos Coelho. Enquanto foi Secretário de Estado, Lobo d’ Ávila manifestou-se contra a prioridade lusófona, que inclui naturalmente Angola, da nossa política externa? Achamos que não! E se amanhã, Lobo d’ Ávila (que é uma pessoa superiormente inteligente e normalmente sensata, por quem temos estima) exercer funções no Ministério dos Negócios Estrangeiros ou da Economia – como será? Vai colocar em causa os interesses das empresas portuguesas e dos milhares de portugueses que trabalham, com esforço e dedicação, em Angola?

O problema é o seguinte: alguém como Filipe Lobo d’ Ávila, que tem legítimas ambições de chegar longe no partido e no exercício de funções políticas em Portugal, não pode, subitamente, converter-se num incendiário político, num “bota –abaixista”, num oportunista político, que define o timing das suas aparições políticas a reboque das capas de jornais e dos debates televisivos. Por uma razão muito simples: desta forma, só perde credibilidade. Quem quer ser líder (ou ajudar objectivamente Nuno Melo a ser líder) não pode ser alguém com a credibilidade afectada ou diminuída.

O calor intenso deste Verão não ajudou Filipe Lobo d’ Ávila na sua estratégia política – precisa urgentemente de um mergulho no mar para refrear ímpetos mediáticos bombásticos e recuperar a lucidez política. Até por esta razão adicional: Filipe Lobo d’ Ávila, uma aposta pessoal de Paulo Portas, acaba por ficar colado a Manuel Monteiro (que nem sequer é militante do CDS e é ex-Presidente da Nova Democracia) e Ribeiro e Castro (que está com um pé dentro e outro fora do partido). Correu muito mal o Verão para este sector do CDS, alternativo (por enquanto, só em nomes) a Assunção Cristas!

A JP já lança Nuno Melo para líder do CDS – e quer virar à direita

Uma última nota sobre a entrevista do líder da JP ao jornal “i”. Neste, Francisco Rodrigues dos Santos revelou que quer um CDS conservador, soberanista, eurocéptico (ou, numa expressão mais carinhosa, “eurocontido”), que criminalize o aborto e que recupere o casamento como um contrato celebrado entre um homem e uma mulher. Isto é, a Juventude Popular quer que o partido do futuro seja o partido de há vinte anos.

Em vez de construir a base programática e ideológica para o CDS de amanhã, que responda aos desafios e aos problemas da sociedade de hoje e de amanhã – o líder da JP propõe-se a resgatar, a ressuscitar o partido de ontem , do passado, quando Portugal e o Mundo eram completamente diferentes. Nós conhecemos muito bem Francisco Rodrigues dos Santos, os seus talentos políticos e sabemos que não defende isto. Porquê esta entrevista, com este conteúdo, nesta altura? Só tem uma explicação objectiva: debilitar Assunção Cristas (que defende um CDS completamente diferente àquele que é desejado pelo líder da JP) e abrir caminho a Nuno Melo.

Enfim, tempos conturbados poderão seguir-se no CDS. Quem perde? O CDS e, sobretudo, Portugal e os portugueses. Quem ganha? A geringonça (porque está unida e a direita fragmentada) e o PSD de Pedro Passos Coelho, que pode capitalizar politicamente com a guinada à direita pretendida por Nuno Melo e seus apoiantes. O PSD agradece a Nuno Melo, a Filipe Lobo d’ Ávila e ao líder da JP esta oferenda de Verão.